DIÁRIO DE UM DESILUMINADO
Ao voltar de Lisboa, ao passar pela Ponte Vasco da Gama, tive um momento rasta e bera a nível de visão, e também toscamente communard pensei que: O Parque Expo é a Frente de Babilónia. Enquanto sustinha a visão da Expo-Babilónia o que não é dificil porque aquela zona emite aquela vibe alegrita para o ar, com prédios fósoforo diante de prédios palito gordo, e prédios freud alinhados deixando pingar subconscientes monótonos e paralelos, gaivotas cruzavam a ponte de um lado para outro. Fiquei com essa impressão-babilónia durante toda a travessia, depois no fim, do lado esquerdo havia ainda flamingos. Como conseguem manter o cor-de-rosa? Nesse instante passou a sobrevoar o posto das Galp ainda ao longe, um avião baixo, a hélice, escuro, camuflado, grande, militar, da Base Aérea do Montijo. Gostei da sua lentidão. Era bojudo. Dava para um filme do Wim Wenders, talvez pudesse atirar cá para baixo anjos de Berlim bombardeado, talvez se tivesse perdido num loop temporal, daqueles à Philip Dick em que um tipo de repente vive em duas realidades paralelas, e depois salta para uma delas deixando no entanto a sua memória pré-frontal na outra. E agora entra nos sarilhos da divisão cerebral. Fica comprometido para o satori, claro, e vai passar angst pacas durante uns nano-milénios, pelo menos.
Entretanto eu ia devagar na minha lata VW vermelha de anos inimagináveis, ultrapassado por todo o tipo de camionetas. à minha frente ia um dos últimos citrolatas da noosfera (per Baco! não há só blogsofera), um 2 CV, a abanar com o vento. Seria de um hippie num outro loop perdido do tempo? Não era. Era de um tipo com ar de economista, um moneyist whako a morar provavelmente ali nuns dos viveiros melancólicos alter-bandistas para yuppies ainda activos prof. mas sem capital para viver decentemente numa Quinta em Lisboa e andar com uma orquídea de dandy na lapela. Muitas lacostes compradas nos ciganos dão umas olheiras suburbanas que não atraem Lolas e Carmens.
Pensei com alguma melancolia que vivemos num tempo recheado de empregados da cibernética, que não tem muito boa pele, estão queimados pelos ecrãs do computador. Fazem dietas tristes, tem um humor de feras castradas, ou seja, castrador e detestam árvores.
Os carros à minha roda ia tudo comme d'habitude a uns 140 km/hora ou mais. A velocidade IMHO (estas siglas são todas para dizer o contrário) é uma coisa que torna as coisas irreais. De modo que ia sendo ultrapassado por irrealistas de todo o tipo, aliás super-irrealistas porque àquela velocidade o real exterior afunila, fica-se com visão de túnel, só se vê a estrada mais pequena os carros da frente. Um pardal voa ao lado? incipiente, inconsútil, voo inútil.
Percebi que iam todos em competição uns com os outros. O infantário dos aceleras pega fogo em qualquer lugar, é-se acelera por uma série de momentosas sinergias com a falta de tempo, sem dúvida. Mas também porque os vendedores de tempo andam a vender tempo mal compactado. É isso, desconfio. Ultimamente há muito má qualidade temporal. Os minutos e segundos vem com os rebites descolados e consomem-se num instante e estão deschipados, daí esta corrida que não é só vaidosa - são os novos miseráveis, são pobres de tempo. O pior é que votam para que nos tornemos todos como eles.
Uma camioneta espanhola com reboque ultrapassou-me num buzinão zangado porque já vinha atrás de mim - eu ia a 80 - há uma eternidade. Confesso que tenho l'aristocratique plaisir de déplaire por isso curto bué ir devagar no meio das massas da velocidade massiva, uniforme. Deve haver livros de psicologia que expliquem porque os aceleras se contagiam uns aos outros. Rage de vivre? não penso. Vivre dangeuresement? também não, agora com as almofadas anti choque sai-se decentemente mutilado de um choque frontal. Impressionar a garina com os testículos do velocímetro, enquanto ela vai aos gritos? Se calhar é a única altura em que grita, diz o meu Anjo maldoso, aquele que abençoa a difusão da estupidez só para soltar viçosas gargalhadas amarelas.
Entretanto eu ia devagar na minha lata VW vermelha de anos inimagináveis, ultrapassado por todo o tipo de camionetas. à minha frente ia um dos últimos citrolatas da noosfera (per Baco! não há só blogsofera), um 2 CV, a abanar com o vento. Seria de um hippie num outro loop perdido do tempo? Não era. Era de um tipo com ar de economista, um moneyist whako a morar provavelmente ali nuns dos viveiros melancólicos alter-bandistas para yuppies ainda activos prof. mas sem capital para viver decentemente numa Quinta em Lisboa e andar com uma orquídea de dandy na lapela. Muitas lacostes compradas nos ciganos dão umas olheiras suburbanas que não atraem Lolas e Carmens.
Pensei com alguma melancolia que vivemos num tempo recheado de empregados da cibernética, que não tem muito boa pele, estão queimados pelos ecrãs do computador. Fazem dietas tristes, tem um humor de feras castradas, ou seja, castrador e detestam árvores.
Os carros à minha roda ia tudo comme d'habitude a uns 140 km/hora ou mais. A velocidade IMHO (estas siglas são todas para dizer o contrário) é uma coisa que torna as coisas irreais. De modo que ia sendo ultrapassado por irrealistas de todo o tipo, aliás super-irrealistas porque àquela velocidade o real exterior afunila, fica-se com visão de túnel, só se vê a estrada mais pequena os carros da frente. Um pardal voa ao lado? incipiente, inconsútil, voo inútil.
Percebi que iam todos em competição uns com os outros. O infantário dos aceleras pega fogo em qualquer lugar, é-se acelera por uma série de momentosas sinergias com a falta de tempo, sem dúvida. Mas também porque os vendedores de tempo andam a vender tempo mal compactado. É isso, desconfio. Ultimamente há muito má qualidade temporal. Os minutos e segundos vem com os rebites descolados e consomem-se num instante e estão deschipados, daí esta corrida que não é só vaidosa - são os novos miseráveis, são pobres de tempo. O pior é que votam para que nos tornemos todos como eles.
Uma camioneta espanhola com reboque ultrapassou-me num buzinão zangado porque já vinha atrás de mim - eu ia a 80 - há uma eternidade. Confesso que tenho l'aristocratique plaisir de déplaire por isso curto bué ir devagar no meio das massas da velocidade massiva, uniforme. Deve haver livros de psicologia que expliquem porque os aceleras se contagiam uns aos outros. Rage de vivre? não penso. Vivre dangeuresement? também não, agora com as almofadas anti choque sai-se decentemente mutilado de um choque frontal. Impressionar a garina com os testículos do velocímetro, enquanto ela vai aos gritos? Se calhar é a única altura em que grita, diz o meu Anjo maldoso, aquele que abençoa a difusão da estupidez só para soltar viçosas gargalhadas amarelas.
E lá ia naquele continuum cinético que é a vida ávida das auto-vias - nada existe no momento, o momento é fragmentado por causa da consciência afunilada. Um vertigo da velocidade? Bem é certo que a adrenalina dispara quando um tipo vai a mais de 140 km, e um tipo então banha~se num orgasmo de adrenalina que lhe dá a sensação de fight or run. Aqui há uma mistura que não julgo sinérgica IMHO (raio da sigla que diz o contrário) de figth, um tipo vai em modalidade fight com todos os carros que o querem ultrapassar e com os que quer ultrapssar e aoi mesmo tempo há um template run de base com medo de não chegar a tempo e horas. Ao mesmo tempo um contínuo download da instância do Super Ego que grita mais depressa.
A serotonina, que activa as funções do cérebro direito, não tem hipótese. A auto-estrada é só cérebro direito esticado para à frente. Dai que o visionário Dali já nos longínquos anos sessenta do passado século tenha representado os automobilistas com crânios fusiformes na horizontal e alongados para a frente. Chamou-lhes os atmosferóides. O que está certo, são seres límbicos, nem cá nem lá.
E então que posso eu oferecer mais à Musa do Bizarro? A minha descida no posto da Galp tem uma boa dose de irrealidade. A bomba tem uma menina com voz de new age que nos diz com um voluntarioso optimismo ás sete e meia da tarde Tenha um Dia Positivo. A gerência da Galp anda a ler livros de Self-Help. Atenção. E depois entro para pagar com o cartão na mão. Desconfio que não há no mundo paisagem mais sinergística que um posto de gasolina de autoestrada. É a América no Barreiro. De súbito estou num filme de primeiro mundo. Não sei porque temos todos um ar comprometido. Não dá muito jeito ver os outros condutores tão perto, desarmados, se as armaduras-carro, ao nosso lado. É um sítio de uma nudez horrível. Fomos desencapsulados daquelas latas velocíssimas. Todos fingimos que não nos estamos a ver uns aos outros. Perdemos a omnipotência - isto é um sítio de teologia panorâmica e introspectiva. As latas hipnóticas de Coca-Cola giram atrás de um frigorifico de porta transparente. As sandochas tem ar de que podem durar toda a eternidade. tem o fresco catita do plástico. Não sabem a nada, ou por outra sabem meio a comida de avião meio a cantina.
A Coca-Cola pica na língua, é um açúcar musculado, mas é um ersatz. da antiga coca-cola. Não tem raspas de coca e cola nem vê-la. Por isso sabe a fosfo-piro-beta-D- trifosforeno. Animoso sabor, para quem tem umas noções de bioquímica das massas para as massas.
Os empregados vestem blusas de cinza light, com a placa de plástico de identidade ao peito. José Nicolau, chama-se este rapaz chateado connosco todos, que mal nos olha, a nós velocistas, uns renitentes como eu, outros de topo, como a maioria. Teclo o meu código e de repnte dou-me conta passo a vida teclar. Multibanco, telemóvel, computador, comando disto e daquilo- Que século do dedo! estou farto de dedos. José Nicolau olha-me com o olhar curto de quem tem um nome tão curto. Enfim não é nada disso. mas é bom ser snob diante um açodado.
A serotonina, que activa as funções do cérebro direito, não tem hipótese. A auto-estrada é só cérebro direito esticado para à frente. Dai que o visionário Dali já nos longínquos anos sessenta do passado século tenha representado os automobilistas com crânios fusiformes na horizontal e alongados para a frente. Chamou-lhes os atmosferóides. O que está certo, são seres límbicos, nem cá nem lá.
E então que posso eu oferecer mais à Musa do Bizarro? A minha descida no posto da Galp tem uma boa dose de irrealidade. A bomba tem uma menina com voz de new age que nos diz com um voluntarioso optimismo ás sete e meia da tarde Tenha um Dia Positivo. A gerência da Galp anda a ler livros de Self-Help. Atenção. E depois entro para pagar com o cartão na mão. Desconfio que não há no mundo paisagem mais sinergística que um posto de gasolina de autoestrada. É a América no Barreiro. De súbito estou num filme de primeiro mundo. Não sei porque temos todos um ar comprometido. Não dá muito jeito ver os outros condutores tão perto, desarmados, se as armaduras-carro, ao nosso lado. É um sítio de uma nudez horrível. Fomos desencapsulados daquelas latas velocíssimas. Todos fingimos que não nos estamos a ver uns aos outros. Perdemos a omnipotência - isto é um sítio de teologia panorâmica e introspectiva. As latas hipnóticas de Coca-Cola giram atrás de um frigorifico de porta transparente. As sandochas tem ar de que podem durar toda a eternidade. tem o fresco catita do plástico. Não sabem a nada, ou por outra sabem meio a comida de avião meio a cantina.
A Coca-Cola pica na língua, é um açúcar musculado, mas é um ersatz. da antiga coca-cola. Não tem raspas de coca e cola nem vê-la. Por isso sabe a fosfo-piro-beta-D- trifosforeno. Animoso sabor, para quem tem umas noções de bioquímica das massas para as massas.
Os empregados vestem blusas de cinza light, com a placa de plástico de identidade ao peito. José Nicolau, chama-se este rapaz chateado connosco todos, que mal nos olha, a nós velocistas, uns renitentes como eu, outros de topo, como a maioria. Teclo o meu código e de repnte dou-me conta passo a vida teclar. Multibanco, telemóvel, computador, comando disto e daquilo- Que século do dedo! estou farto de dedos. José Nicolau olha-me com o olhar curto de quem tem um nome tão curto. Enfim não é nada disso. mas é bom ser snob diante um açodado.
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