O CORNETO RE-ESCREVÍVEL
um dia passei por uma loja de gelados. fui chupado para dentro por uma mistura de odores a genciana e cloreto. Estava já estatelado na mesa ao fundo e à direita e a empregada observava-me à lupa. eu tenho ar de sassafrás, de mirto, de ratazana erecta e fintada, a barba não ajuda nada. Um canino desleixado pelo dentista pingava neocaína.
disse quero um corneto de morango.
olhou-me hororizada.
e acrescentei com o canino a despontar coca (do dentista): com natas.
olhou para mim como se visse os esgotos de Lisboa a céu aberto, em dia de peste, com as sirenes todas do apocalipse em acção.
mas lá foi buscar o dito. E um copo de água.
deixou-os com nojo na mesa. como se deixa uma galinha morta na varanda com luvas por cima do caixote de lixo do vizinho. depois de deitar lixívia por cima. que horror a morte. que horor a galinha.
a empregada depois voltou-se e tirou o véu da cara.
era a maria llansol. eu engoli duas linhas impublicáveis. também não sabia que a senhora era careca, na cripotgamia do falar, bem entendido.
E nesse instante ela começou a escrever no quadro negro da gelataria: Bem busco-me no bosque, e outras tretas no género, sempre com o traseiro a sair pela criptogamia.
depois disse: alterno-me.
percebi que era uma coisa de fratrias. de seitas antigas cogumeladas em novo.
quis chamar o gerente e disse a literazura depois do antunes, e a literatazura antes do antunes existiam?
Não muito respondeu Roboredo o arganaz mais rapaz da gelataria.
4 Comments:
Admiro muito a sua irreverência não ecléctica.
Mas no caso da Maria Llansol, não poderia estar mais em desacordo.
Abraço,
Pedro.
Ó Pedro pode acreditar que aquilo virou seita mesmo, com devotos e retiros, e João Barrento agora na barra e já estragos em "várias e diversas" cabeças.
Um abraço,
Miguel
Não é a primeira pessoa que me alerta para a estranheza barrenta de uma suposta seita "Llansoliana".
Eu continuo a acreditar nas palavras que a escritora deixou, e por isso pago uma quota lá ao Espaço Llansol para que a obra seja "investigada". Só isso. De resto, não conheço ninguém por lá nem faço parte de seita nenhuma.
Criptogamia? Antunes? Teremos lido os mesmos textos?
Como vai a gataria, o Alentejo, o fato-anti-jeans, a poesia e o vitriol?
A gataria anda em alvoroço, o cio felizmente continua feroz. E o fato anti-jeans é espectacular: anda sozinho sem pessoa lá dentro e está raivoso - ou seja morde qualquer tipo de jeans.
Isto de máquinas patafísicas adaptadas a roupa tem o que se lhe diga. A Fátima Lopes que se cuide.
O Antunes é o Lobo. A criptogamia é a Llannsola vertida em pingo. Ódios de estimação, uma por causa da verruga na cara. A sério: é uma antipatia fisica. Ou uma dis-patia. O outro por causa de ser surdo.
I mean, surdez musical.
A poesia, enfim, lá me vai arrastando pelos cabelos, pingando sangue sobre a lama. É uma Dama Violenta, uma Musa pouco prática. Desaconselha-se a todos verter-se em poesia. O Pedro sabe disso. Que grande disparate ser Poeta. No entanto, brilham astros na lama, o sete-estrelo arranca bocados de cérebro.
Não há neuro-terapia que valha, a linguagem arma o seu osso próprio à revelia do mais blindado ego.
Enfim cá se vai.Não acredite muito no Alentejo. Isto aparte os lobos que não há, os rafeiros que ainda há - tenho dois, ou tem-me dois - em termos umanos, sem aquele h predicativo, é um deserto de meninges. A paisagem roída por dentro esboroa-se. Grandes caracóis tumefactos saidos do Litoral,estiveram a dar cabo disto. Lista de cal, branco do muro? A Sophia extasiava.se com linhas rectas e contrastes primários, tipo linha do horizonte interceptada pelo som do búzio. Li hoje uma coisa dela e fartei-me de rir.
A Llansol também é para a dispepsia, para mim, pelo menos. E claro que esse seu conhecido o avisou bem. É uma seita. E já era no tempo em que ela estava viva, ou desvivia maior, na alternativa, não sei bem. Mas admito a harmonia dos pomos de discórdia.
Haja álcool a bordo. Senão fermenta-se tubarão, nada mau.
Um abraço,
Miguel
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