/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力: 2008-10

PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

LES PRIVILÉGES DE SISYPHE - SISYPHUS'PRIVILEGES - LOS PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO - 風想像力 CONTRA CONTRE AGAINST MODERNISM Gegen Modernität CONTRA LA MODERNITÁ E FALSO CAVIARE SAIAM DA AUTOESTRADA FLY WITH WHOMEVER YOU CAN SORTEZ DE LA QUEUE Contra Tudo : De la Musique Avant Toute Chose: le Retour de la Poèsie comme Seule Connaissance ou La Solitude Extréme du Dandy Ibérique - Ensaios de uma Altermodernidade すべてに対して

2008-10-31

na solidão
do monte antigo
vejo a alma
das nuvens
e toda a presença
do espaço
que chama
a eternidade,
depois,
entro
devagar
na biblioteca
e abro um livro ao acaso.
belo é o latim
que já não sabemos
e os brasões quebrados
dos solares
a que já não vamos

um dia
aqui
alguém subiu
a uma árvore
e ficou
com os olhos
cobertos
de pássaros
desde então
todo o silêncio
tem todas as asas

2008-10-28


O NOVO DAMASTOR

1.

Não tenho mais mundo
para o mar,
diz Portugal ao Nevoeiro,
antes de levitar naquela
sibilina solidão
em que os Reis se cravam
na palma de cada mão


2.

O Novo Damastor
encalha diante das damas
mas com estilo
porque há uma graça
doída e imensa
nisto de perder caravelas
sem licença


3.

encolhida estrela,
dilatada fama,
gato sem fotógrafo,
garra viúva-
O rio sujo
como os dias
ao contrário

4.

tenho que saber viver
numa terra de cabeças
cheias de areia movediça
mas preferia
sentado no dorso do caimão
andar pela via láctea
na contramão

5.

os tempos andam irreais
e as pessoas urinárias
dantes fedia a Bode
agora a gasóleo e treva
mudemos, portanto, os véus
dos Invisíveis
numa dança de insultos
entre as sílabas abandonadas

6.

Luz na Luz, ouro no ouro,
tudo o que digo tem a força
de um potro novo -
não são minhas as fadigas
doloridas, de cinco séculos
de faquistas e contorcidos
salmos, podres de alma


7.

Dos Reis altivos, com força
na verga, tenho o rosto
impresso na alma
O resto desgraçadas
asas que ainda se alevantam
com o vento dos fundos:
nós rasgadores de mundos

8.

Do voo imóvel nada sei
mas contorno a Fonte
das palavras, subo na novas
nuvens de inconhecimento
Deus, rosa carnívora,
Punhal, o único nefelibata
primitivo

9

Trota a víbora,
Torto, toca o sino
O mundo desfaz-se
a cada instante
O bronco dilatar
do ar rompe o relâmpago.
Somo luzes sacrílegas.


10.


Tu que és vento
eu que sou pedra e vidro
hoje lutamos
nas altas correntes
do não pensamento

11

Diante de um poeta a valer
ou seja falido e forte,
mas nunca mal fodido
as mulheres tem um só dever:
serem maravilhosas

2008-10-24


SUSANA NEVES


Em exposição na Galeria Diferença até 8 de Novembro. De 3ª a Sábado, 15 às 20H00.


Paula Rego considerou estas obras como fantásticas e "metem um bocadinho de medo". Vale a pena também visitar a Galeria Diferença, um espaço concebido pelo Arq. Nuno Theotónio Pereira e onde moraram Almada Negreiros e Sarah Afonso.


Imagem: montagem das obras de Susana Neves executada por Inês Senna.

2008-10-23

KENNINGS

Imagem: primeira página do Beowulf

Jorge Luis Borges entreteve-se a aprender Old Norse, e a decifrar as elaboradas metáforas das Sagas Nórdicas, que são celebrações do espirito guerreiro e de aventura, tão bloqueado nos dias de hoje. Assim J-L- Borges estudou os kennings. Sem querer imitá-lo, o que seria muito borgiano - ele que imitava imitar, e construía contos como se fossem doutro? - tentemos por nossa vez mergulhar no "vinho das batalhas".


Tomemos uma entre as várias definições do guerreiro: Feeder of the Raven. A tradução possível seria: Aquele que sustenta os corvos. Há aqui uma ironia implícita, a carnificina do campo de batalha traz proveito aos bandos de corvos. A imagem é de uma poesia sinistra: o campo de batalha assim que esta termina está juncado de cadáveres,entretanto, a grasnar e a saltitar no meio dos corpos uma onda negra de pássaros grasna com alarido. Eu defendo que o kenning é o mais curto dos hai-kais.

Tomemos outro kenning: Battle-Sweat, o suor da batalha, é o sangue. Aqui a batalha é vista como um corpo único, um corpo orgânico. As hostes adversárias formam um só e único corpo que sua sangue. Poderosa imagem que funde os opostos num só, e todos os corpos no mesmo organismo. A amálgama é total. Se os construtores do Golem e o Dr. Jekill sonhavam construir um corpo não humano, mas orgânico, ao que parece as batalhas nórdicas já o tinham feito. Uma batalha era a construção de um Corpo Único Gigante composto de mil braços e pernas que suava sangue.

Odin, o deus nórdico da guerra, mais tarde recuperado pelo romantismo alemão e ainda mais tarde pela ala mais "espiritual" (leia-se Ernest Junger e Julius Evola) do nazismo entre outros epítetos merece este : The Hanged God, O Deus Enforcado. Os homens pelos vistos não toleram muita divindade. Tem que lhes pôr alguns e sérios entraves. Se os que desafiam os deuses como Sísifo e Átis não tem grande futuro (a não ser na blogosfera que é um mundo anemiado, virtual, em segundo grau, hipostático) (qual seria o kenning para a net: Linfa Eléctrica, Sanguessuga do Espírito?) os próprios deuses sofrem azares. Vulcano é coxo, Cristo crucificado, Odin enforcado.


Nós nas artes marciais aprendemos que a "espada é a alma do guerreiro." Se esta não estiver imbuída do Ki do praticante não passa de um banal instrumento. Mas se a arte for desenvolvida e o Ki ou Chi circular sem impedimentos a espada mais do que supletiva integra a essência, torna-se a própria essência do guerreiro. Aqui no kenning The Sleep of the Sword, o Sono da Espada, significa a morte do guerreiro. A alma com a morte adormece. Belo e curtíssimo hai-kai. Aqui o que adormece no entanto fica em gestação. Como será o despertar da espada?

Ainda a espada é definida com sarcasmo negro : Blood worm, verme do sangue. Tão gulosa do sangue alheio é que se torna parasita, verme - Nos nossos dias em que a espada só se ouve tinir nos dojos de artes marciais, onde não corre sangue, talvez se pudesse aplicar este kenning â Banca em geral. Vermes do Nosso sangue são os banqueiros, de facto. Essa gente atrás de balcões, essa gente eminentemente sentada, quiemada pela luz do ecrã dos monitores.

O mar é The Whales Way, o Caminho das Baleias. Imagine-se a pessoa num drakkar, a quantidade de baleias que se veria? Hoje o mar é um auto-estrada sinistra de navios de contentores. O Mar dos Sargaços é uma área monumental cheia de lixo. As baleias estão em vias de extinção caçadas por super-baleeiros nipónicos. A nossa era não produz kennings inspirados sobre o mar. Era de Decadência e de Morte das Espécies, teme as batalhas individuais, teme o único, o Individual.

O Sol é chamado Glory of the Elves. Glória dos Elfos. Hoje O Sol é a glória dos toldos de praia e dos bronzeadores. Não há magia possível no mar nem na terra. Expulsámos os elfos. Um Sol utilitário, que se paga, e que não nasce para ninguém, ilumina sonetos perdidos, enterrados nos mares de um inconsciente cada vez mais gigantesco. Até quando? Até à erupção mias vulcânica de todas: a do Inconsciente suprimido pela Hiper-racionalidade.

Entretanto, guardada nos lábios de Grimnir a torrente da poesia emigrou para o lado escuro do Sol.

Kennings

Kennings
Primary meaning Secondary/implied/allusive meaning Source languages Documents and sources
Ægir's daughterswavesÆgir had nine daughters called billow maidens who were personifications of the waves.N
bait-gallowshook
Ic Flateyjarbok
Baldur's banemistletoeThe kenning derives from the story in which all plants and creatures swore never to harm Baldur, save the mistletoe which was overlooked and which Loki used to bring about Baldur's death by tricking Hodur.N
battle-sweatbloodOne reference for this kenning comes from the epic poem, Beowulf. As Beowulf is in fierce combat with Grendel's Mother, he makes mention of shedding much battle-sweat.N
blood-emberaxe
N
blood-wormsword
N
breaker of ringsKing or chieftainAlludes to a ruler breaking the golden rings upon his arm and using them to reward his followers.AS Beowulf
brow-starseyes
IC Gylfaginning
breaker of treeswind
N
father of the sea threadLoki, the father of Jörmungandr, the Midgard serpent
N Þórsdrápa
Feed the eagle kill enemiesKilling enemies left food for the eaglesS Gripsholm Runestone
feeder of ravenswarriorRavens feed on dead bodies left after a battle.N
flame-farewelleddeathImplicitly honourable deathN
Freyja's tearsgold, sometimes amber Derived from the story of when Freyja could not find Óðr, her husband, the tears she shed were gold, and the trees which her tears fell upon were transmuted into amber. N
glory-of-elvessun: Alfrodull
N Skírnismál
Grímnir's lip-streams poetryGrímnir is one of the names of OdinN Þórsdrápa
Gunn's horse wolfGunn is a valkyrieS Rök Stone
Hanged godOdinOdin hung on the Tree of Knowledge for nine days in order to gain wisdom.N
Hrugnir's slayerThor's hammer, Mjollnir
N Lokasenna
Kraki's seedgoldHrólf Kraki spread gold on the Fyris Wolds to distract the men of the Swedish king. Can also be used to imply generosity; q.v. Hrólf KrakiN Skáldskaparmál
Lord of the gallowsOdin
N
Mountain of the hawkarmin falconeering, the hawk rests on the arm of its masterN
Onion of warSword
N
raven harvestcorpsebattle-field corpsesN
sea-steedsShips
N Skáldskaparmál
seeds of the Fyris WoldsgoldHrólf Kraki spread gold on the Fyris Wolds to distract the men of the Swedish kingN
serpent's lairgoldSerpents (and dragons) were reputed to lie upon gold in their nests N Skáldskaparmál
Sif's hairgold Derived from the story of when Loki cut off Sif's hair. In order to amend his crime, Loki had the dwarf Dvalin make new hair for Sif, a wig of gold that grew like normal hair.N
slaughter-dewblood
N
slayer of giantsThorfelli fjörnets goða flugstalla (source: Thorsdrapa), is a compound kenning. Literally feller of the life webs (fjörnets) of the gods of the flight-edges, i.e. slayer of giants, life webs (fjörnets) is a kenning in its own right since it refers directly to the operations of the Norns in severing lives, flight-edges (flugstalla) being the high and dangerous places inhabited by eagles and hawks, i.e. the icy mountains of Jotunheim. N Thorsdrapa
sleep of the sworddeath
AS Beowulf
spear-dinbattle
N Skaldskaparmal
steed of the billowsship
N
valley-troutserpent
N Skaldskaparmal
weather of weaponswar
N Skaldskaparmal
whale-roadthe sea
N,AS Beowulf: "In the end each clan on the outlying coasts beyond the whale-road had to yield to him and begin to pay tribute"
whale's waythe sea
N,AS Beowulf
wolf's fatherLokian allusion to Loki's fathering of FenrirN Lokasenna
wolf's-jointwristAn allusion to Tyr's loss of his hand when fettering the wolf FenrirIc - úlfli›r Gylfaginning


Likely kenning
Beowulf (bee-wolf)BearA very likely kenning for Bödvar Bjarki whose name means "battle bear", and who is the analogue of Beowulf in Scandinavian sources
ASBeowulf
In literature, a kenning is a poetic phrase, a figure of speech, substituted for the usual name of a person or thing. Kennings work in much the same way as epithets and verbal formulae, and were commonly inserted into Old English poetic lines.
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Snorri Sturluson[1] (1178 – September 23, 1241) was an Icelandic historian, poet and politician. He was twice lawspeaker at the Icelandic parliament, the Althing.
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The second part of Snorri Sturluson's Prose Edda the Skáldskaparmál or "language of poetry" (c. 50,000 words) is effectively a dialogue between the Norse god of the sea, Ægir and Bragi, the god of poetry, in which both Norse mythology and discourse on the nature of
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Daughters of Ægir are the nine daughters of Ægir and Rán, a giant and goddess who both represent the sea in Norse mythology. They are sometimes called billow maidens. Their names are poetic terms for different characteristics of ocean waves.
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Daughters of Ægir are the nine daughters of Ægir and Rán, a giant and goddess who both represent the sea in Norse mythology. They are sometimes called billow maidens. Their names are poetic terms for different characteristics of ocean waves.
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Flatey Book, (in Icelandic the Flateyjarbók 'Flat-island book') is one of the most important medieval Icelandic manuscripts. It is also known as GkS 1005 fol. and Codex Flatöiensis. Sometimes Anglicized as Flateyjarbok.
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Baldr (modern Icelandic and Faroese Baldur, Balder is the name in modern Norwegian, Swedish and Danish and sometimes an anglicized form) is, in Norse Mythology, the god of innocence, beauty, joy, purity, and peace, and is Odin's second son.
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In cryptography, LOKI89 and LOKI91 are block ciphers designed as possible replacements for the Data Encryption Standard (DES). The ciphers were developed based on a body of work analysing DES, and are very similar to DES in structure.
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Höðr (often anglicized as Hod[1]) is the blind brother of Baldr in Norse mythology. Guided by Loki he shot the mistletoe missile which was to slay the otherwise invulnerable Baldr.
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Beowulf is an Old English heroic epic[1] poem of anonymous authorship whose dating is uncertain. Its creation is typically assigned by scholars either to the period 700–750 AD, or to the time of composition of the only manuscript, circa 1010.
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Grendel's mother (Old English: Grendles modor) is one of three antagonists (along with Grendel and the dragon) in the Anglo-Saxon epic poem Beowulf (c. 700-1000 AD); she is never given a name in the text.
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Beowulf is an Old English heroic epic[1] poem of anonymous authorship whose dating is uncertain. Its creation is typically assigned by scholars either to the period 700–750 AD, or to the time of composition of the only manuscript, circa 1010.
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Gylfaginning, or the Tricking of Gylfi (c. 20,000 words), is the second part of Snorri Sturluson's Prose Edda after Prologue. The Gylfaginning
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In cryptography, LOKI89 and LOKI91 are block ciphers designed as possible replacements for the Data Encryption Standard (DES). The ciphers were developed based on a body of work analysing DES, and are very similar to DES in structure.
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Þórsdrápa (Thorsdrapa, Lay of Thor) is a skaldic poem by Eilífr Goðrúnarson, a poet in the service of Jarl Hákon Sigurðarson. The poem is noted for its creative use of kennings and other metaphorical devices, as well as its labyrinthine complexity.
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Freyja (sometimes anglicized as Freya) is a major goddess, sister of the fertility god Freyr and daughter of the sea god Njörðr. She is described as the fairest of all goddesses,[1] and often seen as a Norse fertility goddess.
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Óðr (Ódr), in Norse Mythology, is the husband of goddess Freyja and is father of Hnoss and Gersemi. Although the precise mythological meaning of the name is uncertain, the word itself means "wit, soul, spirit".
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GOLD refers to one of the following:
  • GOLD (IEEE) is an IEEE program designed to garner more student members at the university level (Graduates of the Last Decade).
  • GOLD (parser) is an open source BNF parser.

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Álfröðull (Alfrodull) or "glory-of-elves" is a term and common kenning in Norse mythology. It is ambiguous, referring both to the rider and to the sun-chariot of Sol and pulled by two horses, Arvak and Alsvid. The chariot is pursued by the wolf Skoll.
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Skírnismál (Sayings of Skírnir) is one of the poems of the Poetic Edda. It is preserved in the 13th century manuscripts Codex Regius and AM 748 I 4to but may have been originally composed in heathen times.
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Odin series
Origins
  • Wōdanaz
Regional traditions
  • Odin
  • Woden
Other
  • Odin's names
  • Odin's sons

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Þórsdrápa (Thorsdrapa, Lay of Thor) is a skaldic poem by Eilífr Goðrúnarson, a poet in the service of Jarl Hákon Sigurðarson. The poem is noted for its creative use of kennings and other metaphorical devices, as well as its labyrinthine complexity.
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valkyries (Old Norse Valkyrja "Choosers of the Slain") are dísir, minor female deities, who served Odin. The valkyries' purpose was to choose the most heroic of those who had died in battle and to carry them off to Valhalla where they became einherjar.
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The Rök Runestone (In Swedish Rökstenen) (Ög 136) is one of the most famous rune stones, featuring the longest known runic inscription in stone. It is placed by the church in Rök (
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Odin series
Origins
  • Wōdanaz
Regional traditions
  • Odin
  • Woden
Other
  • Odin's names
  • Odin's sons

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Mjolnir (also spelled Mjölnir, Mjöllnir, Mjollner, Mjølnir, Mjølner, or Mjölner) (IPA pronunciation: [mjolnər]) is the hammer of Thor.

Etymology

"Mjolnir" simply means "mealer" referring to its pulverizing effect.
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Lokasenna (Loki's flyting, Loki's wrangling, Loki's quarrel) is one of the mythological poems of the Poetic Edda. In this poem the gods trade insults with Loki.
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2008-10-22

JOHN LEE HOOKER

2008-10-18

A GRANDE LASCÍVIA DAS RAPARIGAS FÓSFORO


Ontem deitei-me esponja, hoje acordei vidro. Por isso cumprimentei dez laranjas de manhã, cuja resposta ácida me deu muito prazer. Depois ao ver a rua coalhada de chapelinhos de chumbo pensei em coisas atrozes, o que também me deu muito prazer. Seguidamente entrei num Café Oblíquo, literalmente e em todos os sentidos. A Máquina de Café estava Oblíqua, as chávenas inclinavam-se na direcção do sul. O Almirante careca tinha a chaminé inclinada também para o Sul. E as mamas oblíquas de duas pin-up saíam-me pela cabeça de tanto as fixar.
Pensei por instantes que devíamos ter uma bandeira Oblíqua. A nossa é tão Quadrilátera. Eu sei o que se passava na cabeça de Bordalo quando a desenhou. Estava Mosca. Tinha-se deitado Vidro e acordado Esponja. Absorvia todas as cores de todas as ideologias, e a seguir decapitava a coroa do escudo real.
Há poucas pessoas pára-raios. Eu sou um raro Vidrobrânquio. Entro de para-raios na cornadura com toda naturalidade num banco de Jardim. Tripulo uma acácia em flor. Cada flor é venenosa, e o amarelo é uma cor sem autor. Vejamos a Teoria dos Cães Coabitados. De manhã as chaminés da cidade expulsam cães. Naturalmente aéreos perdem-se por nuvens e outras tesouras aladas. O firmamento é puro fermento.
Eu que criei a Sociedade de Bacos Anónimos para fazer face à crescente despesa com límneas e tabaco astral, devia ter descontos nas galáxias. Mas não, o trote trivial dos quarks tem vindo a atrasar uma nova eclosão de mundos. Por exemplos o Livro As Coxessas das Vanessas hoje saiu pelas torneiras da imprensa a uma velocidad fatal. Chocou com o livro Sacanices de Várias Sandras que se evaporava delicadamente de todos os retovisores do grande engarrafamento quinzenal da Ponte.


2008-10-11

Inclemência das Nuvens

Riem-se dos nossos esforços e a nós, que julgamos que somos sólidos, fulminam-nos de impermanência.

2008-10-08

GATOS E VARIZES E ADOLESCENTES BÊBEDOS



A minha gata Rosita caça tudo o que penso mal. Quando eu queria pensar em estrela e sai teia de aranha com mosca, ela caça. Quando eu estou cheio de electricidade ela dispara raios azuis pelos seus bigodes. às vezes sinto um ruído de cafeteira a ferver, é ela.

Sou ou sou-me? Sou-me visto pelos olhos dela, quando do lado de fora da janela me olha durante quartos de horas seguidos. Dois nómadas imóveis somados dá concerteza seis vezes mil ou coisa assim que se pinte.

Fiz vários quadros dela. Os meus gatos saiem sempre demónios- são doutra doçura.

Rosita tem um miado de tenor. Tão novinha (4 meses) mia grosso. Julgo que dispara fios de linguagem densa. Acerta-me nas várias luas que giram à roda da minha cabeça. As Luas param. Comandante galáctica ela ganha o seu pratinho de bolachas.


O meu gato Charlot tem mesmo um bigodinho curto e negro. Não sabe coçar-se. Está em guerra com as suas orelhas. Coça-as até que elas fiquem escarlates. Eu que escrevo uns sonetos rascas faço o mesmo. Os meus sonetos deitam sangue pelas orelhas.

Charlot além de imobilidades de gato (ou seja demónio e éter) tem imobilidades de sábio do Sião. Cruza a cauda debaixo das patas da frente. Faz Yoga no telhado. Um dia vi que ele era o Universo. Trémulo. Descentrado. Sempre a desfazer-se em poalha luminosa e dourada.

As pessoas sem gatos junto vejo-as como amputadas. Não tem bigode. Não tem antenas. Perderam o pêlo. Tem a alma esfolada. Choram quando riem.

Hoje não sei porquê vi e doeu-me várias mulheres com varizes nas pernas. No Correio uma velhota tinha nós azuis e amarelos grossos perna abaixo. Estava parada, dolorosamente, a ser chupada pelo sangue que não corre nela. Há gente que seca por dentro. Mas o pior são as que tem varizes no pensamento. De repente salta a tampa do cérebro e as varizes amotinadas invadem o espaço inteiro e afogam-nos.

Vi um bando de adolescentes rapazes e raparigas de 12 13 anos que vinham pela rua hílares, com o rostos algo congestionados, agarrados a latas de cerveja e as raparigas levavam garrafinhas de whysky já quase todo bebido. Não tinham, ou tinham perdido gli splendore della giovenezza. Um ar surdo, cinza, monótono, rodeava-os. Pareceram-me muito certos com estes tempos de treva.

No fundo o inferno cruza-se, com as suas hostes, com o espaço dos devas.- Há que ter a possiblidade de conjugar os dois sem dar em doido ou reformista ou profeta alucinado com os cabelos em pé ou a careca ao vento, a dez metros acima da sua cabeça.

Hoje que fui comprar umas calças a um Armazém, cujo dono é uma viúva e o filho, um rapaz muito baixo e magro com cabelo comprido e barba à D'Artagnan fumava à porta, vi-me (sob luz fluorescente num espelho enorme. Há um ano que não me via num espelho enorme. Não sabia quem era aquele homem desfeito pela luz fluorescente. Agradou-me uma certa qualidade montanhosa daquela imagem. Apeteceu-me subir por mim acima até chegar ao milgare do ser desvendado na última altura. Depois vio que as calças eram demasiado compridas. Deviam ter sido preparadas para um gigante de basquetebol. Dei um salto para ficar da minha altura.

Vi mais tarde uma sinopse do duelo entre Obama e John McCain. Eu não votaria em nenhum, nem no falso branco nem no branco falso. No pseudo veterano e no neófito com retórica. Os dois vices são detestáveis. Mas a Palin tem uma franja insuportável, entrou-lhe dentro da voz.

Há mulheres cuja voz pode ser usada para ralar cenouras.

Os adolescentes semi-bêbedos, de ar turvo, com um ar escuro à roda, não são rebeldes - são deja -vus. Foi em Cartago que vi hordas desta gente? Semi-demónios, os do conformismo? Mas estão justos com estes tempos de conformistas militantes por toda a parte.

De manhã falei com um preto que é pescador que me disse que as multas para os marítimos são sempre pelo menos de 300 euros e que o novo comandante da GNR do porto de Sines agora não deixa que as pessoas apanhem o peixe pequeno que sobra. Manda-o deitar fora.

As pessoas que gritam com os que amam não os amam.

PRIMAVERA

Não há para onde fugir
nenhum bunker nenhuma galáxia distante
mais tarde ou mais cedo uma pessoa
acabada baleada por um poema

e não é que as palavras perfurem as pessoas
é menos do que isso, mais reles, mais baixo,
mais cheio de lama e sangue

as balas a fingir das guerras
são brinquedos de falta de alma
mas as que os poemas disparam
tem os vernáculos venenos infernais
doçura morte primavera
o intangível das coisas fatais

por isso esteja-se nu ou couraçado
nada protege de um dia letal de poesia
não adianta adoptar o ar de "homem prático"
ou o disfarce ainda menor de "homem de ciência"

a poesia mata à hora certa dispara entre os olhos
e na nuca sempre com fogo e veneno
doçura frémito primavera

2008-10-07

400 Creches


400 Creches Prometidas em Portugal pelo flautista de Hamelin (Sócrates) que está à frente do Estado. Este filme é uma adaptação de uma novela soviética que teve várias edições desde 1917 aos dias de hoje.

É um exercício literário distópico: numa sociedade futurista, as famílias são proibidas para apoiar a natalidade dos casais jovens, e, as crianças assim que encontradas, queimadas pelas educadoras, como se fossem uma ameaça a esta sociedade. Deste paradigma sai o título do filme 400 Creches: a temperatura a que a mente das crianças é reduzida a cinzas. A história retrata o bloguista Drummond, que começa a questionar a maneira como as coisas funcionam e o perigo representado pela famílias para o sistema de produtividade, para o Socialismo Insecto Colectivo.

in Jornal de Notícias: Porque "a melhor forma de ajudar as famílias" e apoiar a natalidade é criar instituições onde os pais "possam deixar os seus filhos", José Sócrates prometeu, esta segunda-feira, a construção de 400 creches até ao próximo ano, no âmbito da terceira fase do Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais.

(Ler Programa de Parques de Concentração e de Lavagem ao Cérebro)


A medida vai permitir a criação de 18 mil vagas para crianças até aos três anos de idade, as quais deverão concentrar-se nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa.

(Os Grandes Aviários de Destruição e Recondicionamento das mentes Infantis)


Estas são, de resto, as "zonas onde [as creches] são mais necessárias. É aqui que temos listas de espera, é aqui que as famílias mais necessitam de ajuda", lembrou o primeiro-ministro durante a inauguração da creche e jardim de infância da Misericórdia da Trofa.


O FLAUTISTA DE HAMELIN

Há muito, muitíssimo tempo, na próspera cidade de Hamelin, aconteceu algo muito estranho: uma manhã, quando seus gordos e satisfeitos habitantes saíram de suas casas, encontraram as ruas invadidas por milhares de ratos que iam devorando, insaciáveis, os grãos dos celeiros e a comida de suas bem providas despensas.
Ninguém conseguia imaginar a causa de tal invasão e, o que era pior, ninguém sabia o que fazer para acabar com tão inquietante praga.
Por mais que tentassem exterminá-los, ou ao menos afugentá-los, parecia ao contrário que mais e mais ratos apareciam na cidade. Tal era a quantidade de ratos que, dia após dia, começaram a esvaziar as ruas e as casas, e até mesmo os gatos fugiram assustados.
Ante a gravidade da situação, os homens importantes da cidade, vendo perigar suas riquezas pela voracidade dos ratos, convocaram o conselho e disseram: Daremos cem moedas de ouro a quem nos livrar dos ratos.
Pouco depois se apresentou a eles um flautista taciturno, alto e desengonçado, a quem ninguém havia visto antes, e lhes disse: "A recompensa será minha. Esta noite não haverá um só rato em Hamelin".
Dito isso, começou a andar pelas ruas e, enquanto passeava, tocava com sua flauta uma melodia maravilhosa, que encantava aos ratos, que iam saindo de seus esconderijos e seguiam hipnotizados os passos do flautista que tocava incessantemente.
E assim ia caminhando e tocando, levou-os a um lugar muito distante, tanto que nem sequer se poderia ver as muralhas da cidade.

Por aquele lugar passava um caudaloso rio onde, ao tentar cruzar para seguir o flautista, todos os ratos morreram afogados.

Os hamelineses, ao se verem livres das vorazes tropas de ratos, respiraram aliviados. E, tranqüilos e satisfeitos, voltaram aos seus prósperos negócios e tão contente estavam que organizaram uma grande festa para celebrar o final feliz, comendo excelentes manjares e dançando até altas horas da noite.

Na manhã seguinte, o flautista se apresentou ante o Conselho e reclamou aos importantes da cidade as cem moedas de ouro prometidas como recompensa. Porém esses, liberados de seu problema e cegos por sua avareza, reclamaram: “Saia de nossa cidade! Ou acaso acreditas que te pagaremos tanto ouro por tão pouca coisa como tocar a flauta?".

E, dito isso, os honrados homens do Conselho de Hamelin deram-lhe as costas dando grandes gargalhadas.

Furioso pela avareza e ingratidão dos hamelineses, o flautista, da mesma forma que fizera no dia anterior, tocou uma doce melodia uma e outra vez, insistentemente.

Porem esta vez não eram os ratos que o seguiam, e sim as crianças da cidade que, arrebatadas por aquele som maravilhoso, iam atrás dos passos do estranho músico. De mãos dadas e sorridentes, formavam uma grande fileira, surda aos pedidos e gritos de seus pais que, em vão, entre soluços de desespero, tentavam impedir que seguissem o flautista.

Nada conseguiram e o flautista os levou longe, muito longe, tão longe que ninguém poderia supor onde, e as crianças, como os ratos, nunca mais voltaram.

E na cidade só ficaram os seus opulentos habitantes e seus bem repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por suas sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza.

E foi isso que sucedeu há muitos, muitos anos, na deserta e vazia cidade de Hamelin, onde, por mais que se procure, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança.




2008-10-06

A ALTA IRREALIDADE DA VIDA


O socialismo miudinho e nervoso que temos, não pára nas suas cavalgadas wagnerianas em direcção do que julga ser a modernidade. Julga esse socialismo luso de via chinesa, posto que aderiu à via capitalista para o socialismo, que a tecnologia de ponta, distribuída pelas paróquias, vai elevar o nível de vida. É o sonho cândido dos técnicos posto em marcha, destinado aps grunhos, e ao alcance dos tansos. Com instrumentos das tecnologias de ponta (Curiosa frase freudiana) finalmente, segundo a esperança estatal, Portugal alçar-se-á aos níveis doutros paises modelo, como a Finlândia.
Que na Finlândia haja um desencanto generalizado precisamente com a técnica, e a alta qualidade de vida não importa nada. Que a Espanha que se tornou um gulag industrial &agricola monótono e hiper-produtivista (mas sem sabor) tenha entrado em recessão não importa. Os sonhos cândidos não se dão conta dos prazos de validade, julgam-se eternos.


OUT ONO


out ono (fora do ono)
greve genial dos gafanhotos
o animalário arrefece

as laranjas batem na cabeça
do homem verde

e o sol do alentejo é chá japonês
(convenceram-me a tomá-lo)

e eu que queria injectar um soneto
ou dois na veia
durante todo o dia fico a olhar
uma teia de A
ranha

(os meus brônquios são pentes
esquisitos, descodificam carbono
em cada prana)

Fugi do Hospital
das Rimas
com formigas penduradas
na Na
rina

Rima e narina, laranja e tangerina,
o Out
Ono
está out e tenho sono

se eu fosse um ouriço?
Mas eu já sou bicudo. Pico
sílabas co'a narina

Cato os piolhos do sentimento
sou um espantalho
por cima de um catavento
tudo disposto na máquina
patafísica
dos párraraios
do
pensa
mento

Out ono e os ovos vem tremidos
pelo fio do telefone fixo

o homem verde bate nas laranjas
com a respiração
delicada constelação:
vinha rubra
com fuga parda

(Bach na vitrola
Freud na consola
O john lennon das folhas caídas
a beber o sumo das sombras)

e eu? sou um cientista maluco
fingido de poeta
apanho asas de dínamos
que colo
nos mínimos

faróis da rima
e tangerina

out ono estrelas
para grilos
enquanto escorrego
por vales e sílabos
carregados da assassina
poesia

2008-10-03

OS DOIS VICES ARREGANHAM OS DENTES, DÃO BICADAS, MAS SAI POUCA CARNE: OS FACTOS SÃO OUTROS

http://blogs.publico.clix.pt/eleicoeseua2008/

2008-10-02

TROSTE - PORTUGAL ANO 2143




Portugal agora chama-se Troste - depois de se ter chamado Potu, Taro, Ortuga e Lgor (durante os Anos de Abreviação que se seguiram ao 100,973 ACORDO ORTOGRÁFICO).

As pessoas - os trostêses - já não usam água para se lavar porque a água chamada "agadoisa" (em neo-barbarian) tornou-se um bem muito raro. Agora lavam-se num "dispersador" dermo-eólico.

O futebol desapareceu em 2093 quando se jogou o último jogo em Sebelisba (a capital da enorme periferia à roda da antiga Lisboa) e todos os jogadores no fim cerimonialmente se suicidaram ingerindo vinho de Potu.

O Museu do telemóvel criado pela mesma altura pelos SurdosUnidos tem muito poucos visitantes - as pessoas agora comunicam com Sonidermoplasma (implante). Descobriu-se que todos os actuais utilizadores de telemóvel (em 2008)não passavam de cobaias de uma experiência de psicoengenharia social.

A língua oficial é o trostês mas a dominante é o neo-barbarian.

Há um monoteímo estatal, o deus central é o PSR (partidosocialistareformulado).

As autoestradas que chegaram a ocupar 60 % do território nacional estão abandonadas.

2008-10-01

OBAMA E O SOCIALISMO ETERNO E OBRIGATÓRIO


http://www.newswithviews.com/BeritKjos/kjos94.htm


Para o leitor avisado o título é uma glosa feliz do célebre "Os Vasos Comunicantes" de André Breton. A Assírio & Alvim teve o bom gosto de publicar agora a correspondência entre Dois Grandes Gatos exiladíssimos em Portugal e na Galáxia. Recomendar a leitura? Desnecessário. Livro perigoso para canforados & sórdidos.

AINDA O NARIZ DE CLEÓPATRA


Às mulheres, em matéria de mutações físicas, tudo é permitido: podem pôr botox por todo o lado, num dia acordar com o peito liso tipo tábua e à noite disporem de um par de mamas monumental. Nascer com cabelo preto de uma moura algarvia mas produzir-se como um ruiva espampanante. Tirar varizes da perna, cortar o duplo e triplo queixo. Retirar gordurinha maldosa que se acumula nas ancas, na barriga, nas coxas, na olheira. Espremer a celulite, os pontos negros, erradicar verrugas de bruxa, tirar rugas da testa, do peito e das maçãs do rosto. Fazer implantes de cabelo. Aumentar as unhas, mudar de cor de olhos. Usar o estilo capilar soldado raso ou o Templo do Senhor das freiras. Pôr henne na barriga,nas unhas, tatuar o braço, as costas, a cara. Pôr um piercing no bico dos mamilos ou à porta do monte de Vénus. Ou mudar o recorte do nariz, das narinas, dos lábios e dos grandes lábios e mesmo implantar um sexo masculino e entrar na galeria dos ou das transgéneros. Rapar o pêlo púbico, vulgo pentilheira, pintá-lo, fazer-lhe tranças...

São eminentemente fluidas e como são feitas de substância da Lua, mutáveis. As geografias de ontem não são as de amanhã. O corpo do passado pode-se abolir de uma penada. Nada mais radical do que uma mulher, e também nada de mais implacável. Embirrou com o nariz? vai borda fora! Atira-se aos tubarões sem contemplações. Fartai vilanagem com os pêlos das minhas narinas, com o arco gótico a mais da minha cana do nariz! Enjoam-lhe as maminhas, gorduchotas de mais, flácidas ou com um recorte suspeito? Empinam-se, reduzem-se, dilatam-se, contraem-se, e deita-se fora sem contemplações o que não interessa.

As princesas também tem os seus problemas, e não só com os paparazzi que lhe espiolham a imagem. Tem problemas íntimos e públicos. Embora a intimidade seja de um grau zero, dado que uma princesa é uma produção feita para ser toda pública e eminentemente publicável. No fundo, as princesas são a gasolina que faz mover mil e um tablóides e revistas e conversas. Ninguém na China sabe quem é Cavaco, todos sabem quem é Letizia. Mas embora todas as princesas , em princípio, sejam mulheres (não se sabe até que ponto o sempre em expansão caderno de reivindações gay não virá a alterar o estado de coisas ou o estado de coisinhas, e um dia não tão longínquo como isso ter-se-á o jovem príncipe herdeiro casando com outro belo jovem promissor, podendo os dois adoptar um herdeiro) nem todas as mulheres são princesas. A esmagadora maioria não o é. Dado o Triunfo da Classe Média, a maioria das mulheres de todas classes e de todos os sexos é classe média ou tendencialmente classe média. Dado este calamitoso estado de coisas, entretanto, dada a carência e pauperização de monarquias e o triunfo da família nuclear, pouco procriativa, as princesas e príncipes de sangue real, herdeiros de uma Coroa, não abundam.

Ora recentemente Letizia, a princesa do povo - muito mais do que Diana que era uma Spencer (oriunda da nobreza normanda dos Le Dispenser, eram na realidade dispenseiros, tratavam de fornecer a dispensa da Casa Ducal) e tinha pedigree, Letizia é uma dupla princesa do povo, pois o seu avozinho era chófer de táxi ( vaya democracia!) - alterou o nariz.

Li num blogue espanhol que se está a dar demasiada importância a um simples apêndice, e que com o seu nariz cada um faz o que quer. O indignado bloguista, cheio de tiradas que me iam provocando asma, tal a sua raiva profética, revolta-se contra a importância excessiva dada ao apêndice, manifesta uma incompreensão total face ao sucedido. Pateia os tempos modernos. Atira-se à esquerda e à direita. Não entende. Está possesso de incompreensão, baba-se raivosamente e atira ácido sulfúrico aos que escreveram sobre o nariz da princesa, pró e contra. Mal sabe ele que Pascal, o filósofo dos tempos de Poret-Royal que ainda hoje move o pensamento francês, disse que se o Nariz de Cleópatra fosse mais curto teria mudado a face do mundo. Pascal sabia bem que o mundo acaba sempre, apesar da rede chata e monumental de economistas e banqueiros e jogadores de futebol de QI igual a 30 por ter o rosto de uma Princesa, de uma Imperatriz ou de uma Deusa.