/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力: 2008-08

PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

LES PRIVILÉGES DE SISYPHE - SISYPHUS'PRIVILEGES - LOS PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO - 風想像力 CONTRA CONTRE AGAINST MODERNISM Gegen Modernität CONTRA LA MODERNITÁ E FALSO CAVIARE SAIAM DA AUTOESTRADA FLY WITH WHOMEVER YOU CAN SORTEZ DE LA QUEUE Contra Tudo : De la Musique Avant Toute Chose: le Retour de la Poèsie comme Seule Connaissance ou La Solitude Extréme du Dandy Ibérique - Ensaios de uma Altermodernidade すべてに対して

2008-08-30

NATIONAL CATOGRAPHIC MAGAZINE




NATIONAL CATOGRAPHIC MAGAZINE - FOTOGRAFIA



"National
Catographic Magazine – fotografia", de Susana Neves, estará patente de 13 de Setembro (inaugura às 15 horas) a 8 de Novembro, na Galeria Diferença, em Lisboa. Mostra um conjunto de 14 fotografias macro sobre o corpo do gato enquanto paisagem e ainda as metamorfoses de uma pétala transformada em signo.

Depois de "Viagem ao Pólen Sul", dedicada à «ars combinatoria de pétalas e folhas de flores silvestres», na Nouvelle Librairie Française, ter mostrado «as flores como nunca as tínhamos visto» (Jornal Público de 4 de Maio de 2007), esta segunda exposição de fotografia «evita os VICs (very important cats) e em vez do gato clássico, à maneira de Brassai ou Doisneau, propõe o «gato eléctrico».

«National
Catographic Magazine é um ensaio fotográfico sobre as subtis coreografias da imobilidade. Não havendo qualquer intervenção sobre a imagem instala-se o indecidível da sua realidade», explica Hikaru Katashi, autor do texto da exposição.


Galeria Diferença
Rua S. Filipe Neri, 42 cave (ao Rato)
De terça-feira a sábado, das 15H00 às 20H00.

2008-08-27

A árvore à beira da estrada
viverá mais do que tu e o teu telemóvel

2008-08-25

RELENDO MALDOROR NA COSTA VICENTINA

Antes de o mar ter areias, quando os gatos eram longuíssimos
e subiam pelas escadas entre as estrelas, nada era mais suave
a uma alma dotada para os pressentimentos pessimistas
do que ver as escarpas, apenas fluxos de púrpura, das costas
de Portugal sem pensamentos. Espumas, aragens vadias, acasos
de azul e pelo vale acima tatuagens de oiro na penedia sucediam-se
entre o lento deslizar das imensas serpentes preguiçosas e morenas
repletas de anéis, sufocadas de luxúria, enroscando-se na maior
intimidade: a das distâncias dissidentes. Então o mar tinha um bramido
puro de deus sem culto, de deus insidiosamente anónimo, disposto
a tudo: a não tempo, a ausência de anjos e crepúsculos
e a encantada contradição das venenosas papoulas alegrava
os bandos de aves predadoras que caíam das nuvens
com os gritos mais perfeitos da desolação sem fim e sem limites

2008-08-23

INSTANTE EXPLÍCITO (A Peixaria)


A mulher da peixaria modelo é laboratorial. Tem uniforme branco, touca, luvas, botas de borracha branca. Espalhados sobre gelo os peixes parecem calmos, narcotizados. Foram alinhados por espécies. Estão em grupos que parecem formações de soldados.

Caranguejos semi-vivos esboçam movimentos quase congelados de tenazes. Dentro de sacos de rede de plástico (que lembram as coberturas com que se tapam os prédios em obras e as "esculturas" de Christo) estão ameijoas e mexilhões.

A ordem - se a separação e o "arrumado" são a ordem - impera. Os moluscos e bivalves estão na extrema esquerda. As enguias, também semivivas, aglomeram-se num cilindro largo de plástico branco.

Os clientes tiram uma senha primeiro. A senha tem a forma de uma ponta de flecha? De um anzol de papel? Tem um número explícito, a ser seguido religiosamente. A fé profunda nas virtudes e poderes do número permite que cada número seja absoluto, tenha precedência sobre todos os mais. A indiscutível senha que permite que o cliente (o predador mole?) se aproxime das suas presas e aponte para algumas.

A mulher da peixaria, por exemplo, apanha um sargo, com um ar distante corta-lhe o ventre com uma tesoura vermelha, serrilhada. As entranhas são atiradas para o lixo. Imaginar-se-ia, por exemplo, que numa cena da Inquisição as tenazes depois de perfurar o ventre atirassem pedaços de tripa palpitante para o chão ou para um recipiente? A seguir vão as guelras. A boca do lixo que recebe as entranhas, e guelras e aletas e barbatanas é circular. Dela emana o perigo e o mistério das coisas profundas inutilizadas. Tanta entranha e guelra e barbatana deitada fora. Irão para onde?

Impassivel a mulher laboratorial continua o seu trabalho. Agora é a finale. Uma robusta torneira está sempre aberta. O peixe eviscerado, sem aletas, é lavado pelo jacto de agua, e o líquido que primeiro sai vermelho forte depois vem rosado. Agora, por fim, o peixe está socialmente aceitável, é só carne sem órgãos. Um puro corpo sem órgãos.


É quase estranho que cheire a peixe.

2008-08-22

The Old Impish Games




The Old Impish Games

When I watched the ceremony of the official opening I was not taken aback, nor it surprised me. The Land, par excellence of the new Collective Insect, was not expected to produce something else but collective work, collective choreographies that can only mean amorphous and indistinct movement of huge masses.

The apex ot the ceremony was abusively military. Chinese soldiers in an uniform reminiscent of old soviet uniforms, marching like Nazi paratroopers carried the Olympic flag. They maneuvered automatically, as if they were devoid of brain (unnecessary in the military that can only accomplish orders). Their stiff movements made me laugh, it seemed as they were choreographed in some weird glorification of mechanization by Charlie Chaplin, of le Grand Dictateur.

The music was so New Age, so Astral, willing to determine the New Will of the Collective Republic, that it had the contrary effect, instead of sounding epic, futuristic, it sounded Deja vu OldNew.

2008-08-21


os cães são anjos para certos livros
tørnam-se azuis, levitam, giram à roda de torres
rasgam bandeiras, tangem violinos
e caem sobre as papoulas em chamas doutra primavera
indiciada em certos poemas secretos e graves
que já não são destes tempos de filas e gente aos pulos

os cães correm atrás de todos os carros querem
abocanhá-los sem ternura nenhuma, dilacerar os pneus
impedi-los, chamá-los à irrealidade de onde saíram
por isso amo-os, porque não gostam das corridas
neuróticas e rituais da modernidade

e se eu fosse uma palavra era certamente cão ou polvo
e não tinha asas mas sim preciosos venenos

2008-08-16

Manuscritos Medievais


Se tiver a sorte de estar em Reiqujavique vá à Culture House. Verá uma exposição de manuscritos medievais que Jorge-Luis Borges adoraria ter visto. Num tempo digital em que massivamente fomos deixando de escrever à mão, tem-se o redobrado prazer de deixar o olhar correr por textos de antes da revølução de Guttenberg.




Many of Iceland’s national treasures are on display in the Culture House’s featured exhibition Medieval Manuscripts – Eddas and Sagas. It includes the principal medieval manuscripts, such as Codex Regius of the Poetic Edda and the compendium Flateyjarbók, as well as law codices and Christian works, not to forget the Sagas of Icelanders. Important paper manuscripts from later centuries are also displayed.


The ancient vellum manuscripts preserve the Northern classical heritage: unique sagas, poems and narratives which are often our sole written sources of information on the society, religion and world view of the people of Northern Europe from pagan times through the tumult of Viking Expansion, the settlement of the Atlantic Islands and the period of Christianisation.


The exhibition focuses on the period preceding the writing of the manuscripts, their origins and role, manuscript collecting, editions, and on their reception in Iceland and abroad. It also portrays the process of book making itself: preparing the vellum and ink, writing, illuminating etc. are explained in a special exhibit area.

Opened 5 October 2002

2008-08-06

PARABOLINHA DE UMA MULHER MODERNA APRISIONADA NA MODERNIDADE


Que horror a colecção do Berardo.
Ela chegou a casa transformada numa luva de borracha.
Depois de muito procurar encontrou o telefone dentro do cão.
Sempre que te vejo tenho que pôr um escanfandro, disse. Queria gaguejar com elegância como Mistinguett, com pérolas negras a sair da boca, mas deu um berro formidável.
Uma mulher sózinha pode berrar mais que toda a Alemanha.
O berro ouviu-se noutros andares. Foi confundido com avionetas, bulldozers, black and deckers.
Visto isso, perfumou-se com um disco antigo dos Rolling Stones.
Foi à janela sentir a velhice das casas modernas, todas alinhadas, despediu-se de todas as antenas parabólicas.
Encontrou dentro de si uns ossos. Roeu-os, e deitou-os contra a parede para ver o que dava.
As portas etéreas da parede abriram-se, esplendorosas sobre o nada de novo.
O que me está a acontecer é que saí depressa demais do Aquário. Era verdade. Não se deve sair depressa demais do Aquário.

JOÃO ASPECTO


João Aspecto
só para incomodá
de dia virava sombra
de noite ficava luz
João Aspecto
só para incomodã
fez sua casa em cima
de uma garrafa
de dia virava copo
de noite ficava rio
só pra incomodá

A ESTUPIDEZ ESTATÍSTICAMENTE CORDIAL DOS LOCUTORES DE TV


Há medíocres com talento? Há estúpidos com brilho? Há, e são inúmeros. Aparecem todos os dias diante do cidadão médio, esse carneiro cordial e inofensivo disposto a acatar todas as ordens. Sorriem-lhe, acalmam-no, informam-no. Dão-lhe a ilusão do estado das coisas. Vigiam-lhe a temperatura do mundo. São os modernos gurus digitais: os locutores de televisão.

Com a mesma serenidade dizem que houve mil e duzentos mortos na China e que os bebés portugueses vão usar pulseiras electrónicas. Como na TV a mensagem é sempre divina, o facto é consumado imediatamente. Há que aceitá-lo, de imediato. Ordem santíssima dimanada do governo, essa Suprema Sapiência que labora pelo bem comum.

No caso recente da TV1 a informar sobre a pulseira electrónica destinada aos recém nascidos, o estilo neutro e vagamente apreciativo da locutora, em relação ao pavoroso facto, era corroborado com o testemunho de duas cidadãs de estupidez média garantida: uma parturiente, meio sedada, que sorria deitada junto do pé já com pulseira do seu bebé - apresentando a imagem forte As Mães Compreendem e Apoiam, e uma enfermeira, gorda, com ar eficaz e neurótico, que dizia que a princípio estava renitente mas agora compreendia.

E pronto com a ajuda de duas palermas úteis a TV implementou a pavorosa medida, consagrou-a, tornou-a indiscutível e, pior ainda, irreversível. Não há dúvida, que modernidade! que desenvolvimento! as nossas maternidades agora tem pulseiras electrónicas disponíveis para os recém-nascidos. Os exigentes deuses da segurança podem descansar.

Em duas penadas aparentemente sem dor, sob a capa da normalidade, introduziu-se o Princípio mais forte do Gulag a hiperidentificação: e louvou-se a prisão de máxima segurança em que os prisioneiros colaboram eficazmente.

CRONOLOGIA DE UM INSECTO MAMÍFERO


Mesmo quando estou parado no passado, estou sempre uma boa meia hora à frente da próxima tendência.

Às vezes torno-me uma estátua em fluxo: mas não se vê, não podes pendurar lá a tua bengala inquisidora.

E essa história de eu ter sido atravessado pela cascavel transparente foi-me contada por uma Excelentíssima Torneira.

A Senhora Ferro de Engomar bem tentou quando eu eu era criança envolver-me com os seus delicados tentáculos.

Os homens bem penteados tem riscos graves no cérebro por onde sai urina.

O Estado Alarmante da Mulher Portuguesa: as mulheres foram confundidas com instrumentos ópticos pelos cabeleireiros e pelos médicos "compreensivos".

Portugal desapareceu por distração.

A uma pessoa sem um gato faltam-lhe inúmeras caudas.

Há borbulhas que deixam crescer várias pessoas à sua roda.

A voz do Presidente tem caspa e saquetas de plástico todas coladas a um perdigoto infinito.

Ouvir um polícia ou uma pia é diferente na intensidade, mas idêntico na essência.

Naquele país plantavam-se bombeiros por todo o lado. Eram incombustíveis.

Muitos políticos não se dão conta que lhes sai cocó continuamente pela boca.

As ancas são um posto de observação ímpar.


Imagem: Terá havido um tempo em que os mapas eram inocentes. Não havia estradas directas para o Supermercado. O Compasso era um instrumento de apropriação do mundo, mais poderoso do que uma espada. Veja-se no canto inferior direito do mapa como o compasso é brandido com uma alegria epistemológica.
Os rios que eram mesmo vias de comunicação não interrompidos por barragens bojudas e idiotas continuavam a correr pelos mapas, em direcção ao puro pensamento. As montanhas agrupavam-se como bandos de pássaros. Era o tempo dos vulcões voadores.

2008-08-05

SOCIEDADE-PRISÃO COM HOSPITAIS-PRISÃO PARA TODOS

O cidadão pré-chipado: a tecnologia que serve para as prisões é a mesma que serve para as maternidades - A futura sociedade-prisão-modelo já cá está pela mão da Ministra da Saúde, que em nome das eternas e inefáveis nocões de "segurança" introduziu a medida: doravante cada bebé nascido numa maternidade terá de usar pulseira electrónica.
O novo gado humano dócil do Socialismo Insecto in progress apresenta-se ao país. De pequenino é que se torce o pepino. Habituem-se a andar algemados logo à nascença.

Naturalmente, a medida foi implementada sem estudos prévios sobre os efeitos no desenvolvimento psíquico e motor dos nascituros. Observe-se só o volume da pulseira. Imagine-se o bebé a chupar naquilo. Tratamento de gado humano em nome da tecnologia da segurança - o governo continua a mostrar a sua cara de fabricante de novos Gulags.


Por favor: seja qual fôr a sua preferência política divulgue esta imagem citando ou não citando a fonte e o autor do texto.


2008-08-02

O CALADINHO PIOU


O caladinho piou. Nunca fala, no que faz bem, dada a dicção, e quando fala diz quase invariavelmente "não me vou pronunciar sobre essa matéria". Desta vez tomou um semblante judicialíssimo e falou 9 minutos seguidos.
No fim ouviu-se um estranho ruido em todo o país, o abanar de uma infinidade de lenços brancos. Os portugueses andam duplamente desentendidos com o Presidente e com o Primeiro Ministro. Fartos de um e de outro e sem ninguém à vista para os substituir entrámos num daqueles Vazios Republicanos. A contagem descrescente para as próximas eleições não tem ninguém a crescer no horizonte.


Imagem que explica a voz do Presidente enCavaco: não tem mesmo nada lá dentro.



Como se vê pela foto uma escada de metro também pode ser digna de Vitrúvio, feita à escala humana, agradável à "Divina Proportionae".



Neste tempo em que surgem por todo o lado missionários do bem comer e da saúde, todos com fórmulas infalíveis que incluem uma comida recheada de vegetais, santificada, sem álcool, sem sal, sem gordura, com pouca carne e em que a comida ganha nomes de Lego, como por exemplo, "uma peça de fruta" e em que nos dão explicações "racionais" e damas e damiselos nos propõe "um programa de boa alimentação para a semana" em que nem uma hora fica livre e em que "peças de furta" se sucedem a doses farmacológicas de salada.
Neste tempo cheio de vozes sisudas, vegetarianas e com um horror vacui aos salgados e enchidos, o título deste livro é uma festa para os olhos e uma promessa para as barrigotas sem culpabilidades.

Dá vontade de acrescentar: escape à ditadura do "salutar" . faça dieta mas é das dietas, e nunca abandone a boa e pecadora e insalutar comida e claro le bon vin.

2008-08-01

LET'S BOOGIE!

PRIMEIRO SMS


da primeira vez que escrevi um sms
naturalmente não havia rosas da Picardia à roda
nem os gerânios vermelhos das varandas de Lisboa
foi numa estação de metro com a gente
a passar depressa com aquela espécie de passo
de pinguim interceptado que tem a gente com sono e pressa
eu estava sentado num banco revestido a mármore
e os pequenos Calígulas improváveis do meu tempo
passavam sem cessar à minha frente muitos com a cabeça
inclinada para o lado do telemóvel
e no tempo da gente que fala imenso
ninguém falava comigo e passava sem me ver
nem a mim nem ao mundo, cada um com cada um
na sua cápsula autista, na sua cápsula de fado eléctrico
de Lissabona a imensa cidade provinciana que o rio
deixou de levar ao mundo
no écran a rainha Mariza com os seus cabelos curtos de nova diva
e vestida de negro como uma sibila interrompida
meneava-se cantando qualquer coisa em que dizia "povo"
com uma emoção estatisticamente correcta
e eu tentava acertar com o polegar num teclado ridículo
enquanto as letras apareciam erradas num pequeníssimo écran
em que devia estar o mundo e o espaço
mas onde estava só a minha ortografia errada e a sombra
oblíqua de todos os meus polegares perdidos
no dia em que eu escrevi o meu primeiro sms
diante de gente provinda de todos os pontos do Hades
dei-me conta que afinal eu também era um cliente do Hades
um dos únicos com informações clássicas sobre a frequência de tal sítio
e sabedor e ciente do que me esperava: Caronte, Cerbero
e a fuselagem cinza e vermelho do esquife veloz
da moderna barca
assim ao rematar a mensagem esqueci-me
de escrever o meu nome e depois o metro levou-me
a outra estação e subi as escadas com Cerbero
fechando a sua boca no círculo do meu tornozelo
situação clássica, e agora sim, ao ar livre já vendo
os gerânios vermelhos das varandas de Lisboa


Do livro a publicar: Mil estações de metro por segundo
Imagem: Retrato do autor jivarizado pela literatura