«Temos de estar à altura deste desafio. É uma oportunidade verdadeiramente única para transformarmos Sines num centro petroquímico de dimensão europeia, cumprindo um sonho adiado durante décadas», assegurou.
"Sonho adiado"? das petroleiras, concerteza. Não dos inúmeros veraneantes com um mínimo de preocupações ambientais que vão perder 50 km a norte e 50 km a sul de Sines das últimas praias interessantes do litoral português.
Sines transformado num centro petroquímico. Lindo! Uma cidade encantadora considerada a St.Tropez portuguesa, agora "transformada" em centro petroquímico. Certamente era esse o sonho dos seus habitantes.
O ministro da Economia falava aos jornalistas, em Sines, após encerrar a cerimónia de apresentação de alguns dos principais projectos previstos para a zona, de um conjunto de investimentos que atinge os 2.550 milhões de euros, dos quais 2,1 mil milhões respeitam ao sector petroquímico. Sector petroquímico: os amigos de Bush.
Na cerimónia, os projectos em destaque foram os da Galp Energia, para a remodelação e reconversão da refinaria de Sines, da Repsol YPF, de expansão do seu complexo petroquímico local, e da Artensa, empresa do grupo espanhol La Seda, que vai construir uma fábrica de produção de PET (polímero, termoplástico ou plástico). Produção de mais plástico, mais petroleiras, mais poluição.
Manuel Pinho realçou que já foram assinados os contratos das empresas investidoras com o Estado português para a concretização destes projectos, os quais, disse, devem agora ser acarinhados pelas entidades centrais e locais. Primeiro assinam-se os contratos, depois mandam-se as entidades locais fazer festinhas nos projectos. Não se consulta a população local para projectos que podem comprometer seriamente não só a sua qualidade mas o seu estilo de vida.
«Nesta fase (construção), que vai demorar cerca de três anos, é necessário que se juntem uma série de esforços para que as empresas se sintam bem», disse, aludindo ao apoio esperado por parte dos organismos da Administração Central, da Agência Portuguesa para o Investimento (API) e do município de Sines. Podem lá sentir-se mal as empresas! Arrasa-me aí essas praias e esses pinhais, que não quero que as empresas se sintam mal.
Isto porque, frisou o governante, «estas três empresas podem ser as melhores embaixadoras para atrair ainda mais investimento para Portugal». Mais plástico e petróleo. A diplomacia agora passa para as empresas. O Governo transfere esforços diplomáticos para as empresas. O Governo actual: uma empresa ao serviço das empresas.
«Já existem dados que confirmam que o investimento directo estrangeiro, finalmente, está a aumentar, o que testemunha o crescimento da confiança dos investidores estrangeiros no país. Mas, queremos que esse seja um processo que continue e se amplifique também ao sector petroquímico», argumentou. Sirvam os interesses estrangeiros e Shut Up.
O ministro salientou também a importância de, associados a estes projectos industriais na cidade do Litoral Alentejano, surgirem investimentos nas acessibilidades e na área logística local. Outra vez as "acessibilidades" - Old country roads are lovely! O encanto dos locais remotos é a relativa inacessibilidade deles. Mas quem quer ir para mais locais de férias enlatadas. Calão economês : área logistica local
«O melhor instrumento para atrair investimento é criar um bom ambiente de negócios para as empresas, para que possamos ser dignos de investimentos que poderiam ter ido para outros países», disse. Religião da Economia. O Investimento é Deus e as Senhoras Empresas são o seu profeta. Sejamos dignos delas. Outros países?: na Europa ninguém quer elefantes brancos nem refinarias mamute.
Como exemplo, o governante apontou o caso dos projectos da Repsol e da Artensa, em que existiu «uma fortíssima concorrência de outros países, como a Alemanha e o Reino Unido». Manuel Pinho explicou que os três projectos hoje apresentados vão criar «mais de quatro mil empregos» na fase de construção, a qual está prevista decorrer até final de 2009, e «mais de mil postos de trabalho» na fase de operação. A famosa cenoura no pau: os postos de trabalho a criar serão 4 mil,mais mil. Os postos de trabalho dos que trabalham no turismo são em número muito maior mais e vão desparecer não só em Sines, mas até Vila Nova de Mil Fontes a Sul e para lá de Melides e da Comporta a Norte.
O «pacote» de investimentos que vão ser concretizados em Sines, de acordo com dados do ministério da Economia, vão contribuir para a «convergência» do Valor Acrescentado Bruto (VAB) português do sector para a média europeia, promovendo emprego e criando capacidade de exportação incremental. Segundo o ministério, contabilizando apenas os investimentos da Repsol e da Artensa, o peso do sector químico e de produtos petrolíferos refinados para o VAB anual nacional passa a ser de 2,1%, o que aproxima Portugal da média da União Europeia a 25, que é de 2,3%. No global dos 2,5 mil milhões de euros, os projectos hoje apresentados em Sines representam 1,9 mil milhões, já que a Galp pretende investir 830 milhões (na reconversão da refinaria e numa central de co-geração), a Repsol YPF 750 milhões (aumento do complexo petroquímico, com três novas fábricas) e a Artensa 360 milhões (fábrica de PET). Mais petroleiras- e um passe de números hipnóticos.
A juntar a estes projectos, Sines vai acolher ainda investimentos da Lusomissão (81 milhões), da MPQ Ambiente (46 milhões) e da BET (35 milhões). Por último, o «pacote» dos investimentos globais inclui ainda os 400 milhões a aplicar pela Galp Energia na construção de uma central de ciclo combinado a gás natural e os 50 milhões da Administração do Porto de Sines na área energética e de infra-estruturas. Em resumo: absolutamente sinistro e sem futuro. Num momento em que se procura incrementar energias alternativas para um novo modelo de automóvel que funcione sem derivados do petróleo o governo que tanto preza a "modernidade" cria uma coisa retrógrada, já desactual. Dezenas de superpetroleiros em cadeia ao largo de Sines, largando a sua caca. 50 km a Norte e 50 Km a sul de praias inviabilizadas.
Entretanto as queixas contínuas da população de Sines e arredores num raio de 50 km em relação aos gases das actuais refinarias não foram até agora atendidas. Com a fumaça dos biliões de euros a investir o ministro Pinho quer escamotear um problema não resolvido - a péssima qualidade do ar que se faz sentir em Sines. E agravá-la ainda mais. Muito mau negócio para os contemporâneos, péssimo negócio para os vindouros.
Bom negócio para os fabricantes de máscaras de Gás.
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