/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力: 2007-03

PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

LES PRIVILÉGES DE SISYPHE - SISYPHUS'PRIVILEGES - LOS PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO - 風想像力 CONTRA CONTRE AGAINST MODERNISM Gegen Modernität CONTRA LA MODERNITÁ E FALSO CAVIARE SAIAM DA AUTOESTRADA FLY WITH WHOMEVER YOU CAN SORTEZ DE LA QUEUE Contra Tudo : De la Musique Avant Toute Chose: le Retour de la Poèsie comme Seule Connaissance ou La Solitude Extréme du Dandy Ibérique - Ensaios de uma Altermodernidade すべてに対して

2007-03-31

NORMOPATIA


A normopatia é a doença mental mais comum e vulgarizada de todas. O doente não apresenta sintomas nenhuns, é de uma normalidade assustadora. Tem uma conta bancária normal, uma casa normal, um automóvel normal, filhos normais com notas e amigos normais. Vive num país normal. Come e bebe normalmente. Apanha uma bebedeira anual, normal, com amigos todos normais. E depois de viver uma vida normal acaba num cemitério normal, normalmente cremado ou entumulado, consoante as posses mais ou menos normais.

O epitáfio reza: Aqui jaz um normal. Mas normalmente não tem epitáfio.

2007-03-30

I NO MORE SING THE BODY ELECTRIC



Clara consequência do triunfo da Europa do Norte, dos valores puritanos e capitalistas, uma sociedade frígida, como a nossa, a portuguesa, aposta na "inovação técnica" que na prática se traduz por mais auto-estradas, refinarias, telemóveis, play-stations, automóveis e menos espaço individual para todos.
O único sentido de "modernidade" para o Estado é o do gesto técnico.


Que tal para variar evoluir para um corpo absolutamente moderno, desprendido de vez do gesto técnico.



Foto de Guerreiro Apache, por Curtis.

2007-03-29

VIRAR DE ROSA


de querer tanto o tempo
de ver rosas quando tomava banho
tenho tanto visto os rios indiferentes
com os seus mortos e o seu mau olhado
rios quase mortos
pelos humanos tristes e sem sentido terrestre
destes tempos assassinados

que não sei se me enganei de vida
ou de corpo ou de tempo ou de rio

e entretanto lá vens tu com os teus espelhos
como num comboio dos anos trinta
em que deitavas sátrapas pela janela fora
e tinhas um olhar noivo dos cumes
e um modo de andar parecido ao das nuvens brancas


devemos nalgum ponto ter-mo-nos enganado
não imperialmente mas de modo fosco
e límbico, com os pinhais atenuados cada vez mais
pela língua negra das fábricas

e sem nenhum anjo, de gola levantada perigosamente
a incitar-nos aos obstáculos úteis
e aos grandes desaguares em estuários
cobertos dos cisnes negros do canto




O CARACOL


senhor de um saber incerto e fiel o caracol sobe o muro
dias depois só o traço da baba o lembra,
e, de nós espiras, os homens metamorfoseiam os deuses
em pedras utilmente perdidas

a seu tempo, o homem que apaga
as palavras dos profetas sobe ao seu
Monte das transformações
bêbedo como um poeta russo
com o passo trémulo, o crânio em chamas,
e o seu duplo astral de dedo aflito
a querer desprender cada aranha imensa
que se despenha desde o infinito

nós caracol e muro
como um mar grego e antigo, mar e muro
então com nobreza
refugiamo-nos nas pedras lentas
do murmúrio

VISITA AO POETA


Cheguei de visita ao poeta,
Ele hoje está irado, junto ao canavial,
dos seus olhos saiem vespas,
e indignado mostra os punhos
às visões. Depois dá grandes
passadas sobre a bosta das vacas
e os sinais de sangue dos pequenos
dias inermes e lânguidos
que pendem das patas dos
lamelibrânquios

Entretanto, de tudo se faz o poema
calcinado, diz-me ao ouvido,
com matérias podres e sevícias,
até que chegue ao ouro
dos nossos ouvidos encantados

2007-03-28

SALAZARINHOS, SALAZARETES E SALAZARÓIDES, COMUNICADO DO BUREAU SURREALISTA


Estão de volta! Saíram dos Sacrários de Esqueletos, aproveitando a tendência salazaróide dos dias de hoje, em que há mais um beirão a postos como PM.
E agora só é possível fazer amor entre fantasmas, mas nós queremos ir ao cemitério e partir os dentes aos mortos!
A luz fluorescente reina! E o pneu, verdadeiro perú das estradas, entrou dentro de cada voz. Tempos de sexo travado, de blog na boca um poeta morre debaixo dos semáforos indiferentes. O Salazaróide ronda, o Salazerete lambe o Salazarinho discursa!
Ah, mas nós, apóstatas do socialismo e da modernidade, inventaremos belas blasfémias novas. Não andámos debaixo do sete-estrelo a dormir em cobertores a cheirar a bosta em vão? O cheiro a urina moderna infestou o Arco-íris! O único modernista é o Papa e a sua coorte de ministros das finanças. O plástico começou a cheirar mal, e a ter verme. Cada bomba de gasolina é um polícia sorridente. "Tenha um dia positivo! Estampe o urinol e o saco de plástico que é a sua mente contra a Aurora!"
Desandem da nossa volta, provámos urânio e veneno de Vénus! Estamos a ficar sub-atómico, osmóticos, assinámos um contrato com o vento Norte, temos os olhos em chamas como os Pólos verdadeiros onde o Gelo Arde. Ó Rimbauds da Mamã, aposentados do Verbo, padrecas da literatura e da política, temos os ossos à vista. Temos um padrasto em cada estrela e andamos aos pontapés pela relva negra.








Im memoriam Andy Warhol.

Just stole the Blogger logo to offer it to Andy in The Sky With a Lot of Tomato Soup
Hec! Roubei a imagem do Blogger Buzz em homenagem ao Andy Warhol, só porque é cool, agora no "bicentenário" da Lata de Conserva.

2007-03-27

O GATO ASTRAL



Deixa cá ver...mmmm.... Ah ha! Nada mais, nada menos, do que os sonetos de Shakespeare. Excelente! Depois de bater uma boa sorna no telhado quente, eis o amor, a paixão, a ansiedade expectante, o feliz desespero, a suave tortura, a chaga que se deseja, o mal que se quer bem porque é mal que faz bem...

mmmm.... Mas o problema é que não há nenhuma boa tradução em português. ..

Bem... acreditaram nisto, que eu ia ler esta soda? (O rato também acreditou)

Ssssshhhhhh! vou deixar cair o livro em cima do Rato.

OH NÃO, O BOTAS OUTRA VEZ!


Mesmo depois de morto o ascético paranóico de voz fininha e modos clericais, o prof. Salazar, continua a governar a cabeça de pelo menos 80.000 portugueses. Mas o certo é que a RTP tem uma estrutura mental salazarista de que nunca se libertou. O resultado está certo. A RTP é governada por um fantasma, o que justifica que as suas emissões são puros fantasmas.

2007-03-25

untradesmanlike



S40046, originally uploaded by Laurence Shan.


Actors are the most virtual people: you can only see them on screen. Even when you meet one of them they try so hard to be just an ordinary person, that they carry on being virtual.

Politicians are just bad actors acting a good part.


The plague of tourism


The plague of tourism

If we take a close look at inter-cultural relations, we shouldn't be surprised to find that mass tourism is one of the main reasons why we have some of the problems we now face. As the cutting edge of imperialism and globalisation, mass tourism has contributed both directly and indirectly to the unequal distribution of wealth in developing countries, environmental degradation, and the debasement of local cultures.

While the Bali bombing and other acts of terrorism have been linked to al-Qaeda, the fact of the matter is such attacks have been common well before September 2001. It was only after this date that they were all suddenly painted with the name and face of Osama bin Laden. Abu Sayf have always looked to tourists on remote islands as an easy target for kidnappings in order to generate income through ransom; the massacre at Luxor in Egypt, meanwhile, showed that western tourists are not always welcome; and in Columbia, kidnappings are of such regularity that it no longer makes headline news.

Still, in the post-9/11 world there is no doubt that tourism is now more severely affected by terrorism. One of the first priorities for Bush after 9/11 was to pump money into the industry (especially the airlines) and to launch a series of commercials to promote travel to and around the US. More recently, in the immediate aftermath of the bombing in Istanbul on November 20th, 2003, stocks in the tourism and airlines industry suffered losses.

While not justifying such attacks against foreigners (and local enablers alike), one just has to look at how the travel industry is set up to understand the hostility many have toward foreign tourists. Mass tourism threatens the fragile ecosystems of many idyllic areas. Ironically, mass tourism inevitably wrecks the peace and tranquility that people set out to enjoy. In the desperation to escape the hustle, bustle, noise and grime of urban life, tourists end up replicating these same problems in their idyllic holiday locations.

A massive show of inequality

Yet it's not just in Asia and other foreign destinations that the plague of tourism is apparent. Millions of travellers to Europe's own beauty spots endanger the continent's fragile ecosystems, not to mention snarl up the roads. With tourism already accounting for 6% of jobs within the EU (currently it employs over eight million Europeans), 9% of consumer spending, and accounts for more than 5% of GDP in some areas, the question is of huge economic as well as ecological importance. And the pressure on beauty spots is certain to increase, with the World Tourism Organisation predicting that the number of tourists arriving in Europe will double to 720 million per year by 2020.

Aside from all this, there are also huge social costs, and these are often acutely felt in developing countries. Club Med is perhaps the most horrendous, as it sets up walled compounds to isolate rich travellers from the poor locals. Other tour operators have similar systems in place. Not only does this introduce a massive show of inequality, in many cases so-called "folklore" performances tend to undermine and even belittle the authenticity of local cultures and traditions.

All this is facilitated by the present wave of globalisation. Countries whose local industries have been destroyed by global capitalism are being persuaded to shift their focus and resources to that of a "service" economy. Along these lines, mass tourism plays a huge part. As a result, so-called "development" is geared to making areas more tourist friendly and not actually developing a region or area for the immediate benefit of the local population. Likewise, people are trained to participate in this new "industry" rather than taught to set up their own, independent enterprises. Thus, when the number of tourists decline due to political, economic, geological, or meteorological events, not only do tourist-based industries suffer, but wider government policy as well.

In order to secure an increasing number of tourists coming to the country, government policies sometimes teeter on the brink of absurdity. In Hungary, for instance, a plan put forward by successive governments to overcome rural decay and depression was to promote "village tourism" on a large scale. Part of the program included foreign language courses for villagers. Another program sought to develop thermal baths, resulting in almost every small town and village in the Galga valley (which lies just east of Budapest) to seriously consider -- and even plan for -- such a tourist attraction, even though the area is not known for thermal baths.

But it's not only tourism in the form of foreigners in search of sand, sea, and sex which is having a negative impact. Elite tourism, as in the case of some sport events such as golf, also leaves a scar. In fact, the expansion of luxurious golf courses for the privileged few has even led to stresses in some western countries as well. In 1991 Canada called out the troops to end a blockade of bridges to the island of Montreal by indigenous people who were protesting the plan for a golf course on their land. Similar protests and confrontations have been witnessed elsewhere, mainly in under-developed countries.

From the "Grand Tour" to mass tourism

While mass tourism provides an extravagant display of wealth, exacerbating the inequalities which exist as well as forging new ones, it initially began as something completely different. While it's hard to point to an exact date when the notion of "tourism" began, as there have always been travellers in the past (e.g., Marco Polo), it is generally accepted that tourism as we know it today began with what was called "The Grand Tour". The success of Thomas Coryat's book "Coryat's Crudities" is often credited with starting the craze for the Grand Tour.

In the 18th century, the Grand Tour was a kind of education for wealthy British noblemen. It was a period of European travel which could last from a few months to 8 years. During the Tour, young men learned about the politics, culture, art, and antiquities of neighboring countries. They spent their time sightseeing, studying, and shopping. Italy, with its heritage of ancient Roman monuments, became one of the most popular places to visit. Sometimes, the trip south was as liberating sexually as it was aesthetically. Likewise, France at the time was at the height of style and sophistication, so young men went there to throw off their coarse behavior and put on the polish that set them apart as the aristocracy of Britain.

During the 19th century, most educated young men took the Grand Tour. Later, it became also fashionable for young women. A trip to Italy with a spinster aunt as chaperon was part of an upper-class lady's education.

Since that time, however, tourism has gradually evolved (and some might say degraded) into the mass tourism we have at present. Yet, even among the modern tourists of today there have been attempts to distinguish one group from another. Many backpackers consider themselves to be "travellers" and not "tourists", as if to highlight the fact that they are more culturally sensitive. However, at the end of the day in most cases these "travellers" are not much better than the so-called "tourists" they disdain.

All this doesn't mean tourism is a bad thing, and that we should throw the baby out with the bath water. For serious travellers, learning about cultural traditions, past history and, most importantly, the local language or languages, are a must. Ironically, modern technology has a role to play here. Use of the Internet can help to promote cultural understanding and enhance the tourist experience.

In the end, a more social friendly form of tourism won't solve the enigma of terrorism, nor will it guarantee that tourists and tourist attractions won't become a target in future attacks. Sadly, in Europe both the Kurds in Turkey and ETA in Spain use terror against tourists in their struggle against their respective governments. On the other hand, if these and other countries weren't so dependent on the tourist industry, then perhaps these targets wouldn't be regarded as so desirable in the first place.


artikel drucken

GlóriaGLÓRIAGLÓRIAglória

Glória ao ministro careca, que Abençoa a Modernidade
Glória ao Ministro Lagarta da Couve, que vende mão de obra barata
Glória ao proprietário dos terrenos da Ota, em que bate, ao fim, a bota com a perdigota
Glória ao homem estreitinho vestido com fatos Armani, que é mas não é engenheiro
Glória ao país dos sopeiros do Turismo, que dá cabo das suas florestas e das suas praias
Glória à Banca que vai ficando com o que está atrás à frente ao fundo e em cima dos trocos
Glória aos Hipópotamos do Asfalto e aos Mamutes de Cimento
Glória ao Golf que incensa as Nações
Só a Modernidade é Deus! Diante de Ti nos prosternamos!
Só a luta contra a Assimetria é Válida, contra ela nós os Simétricos combateremos!
Glória às Janelas de Alumínio e aos imigrantes não legalizados
Glória à força da polícia integrada e à nova Pide
Glória à Desidentidade Nacional
Glória à Europa da qual somos chulos putas e sopeiras
E já que perdemos as bolas e não os temos no sítio
Glória à bolinha de golf, e ao taco de golf nossa última pila

O GOLF


Portugal troca os seus pinhais e paisagens por campos de golf. Com boa parte das praias do Incaracterístico e Paranóico Algarve já enlatadas, entretanto a próxima vítima é o Litoral Alentejano.
Mais um projecto megalómano: uma Aldeia Turística de "Cólidade" na Comporta foi anunciado, ou melhor dito, foi berbigado por ministros. O novo berbigão turístico, abençoado pela Autarquia de Grândola: terá o Inevitável Campo de Golf. Para os ministros deslumbrados, irmãos em espírito dos autarcas pirosos, o Golf é sinónimo de modernidade, de civilização, de chic. O Golf é sinónimo de "cólidade".
E lá vai arrancar de raíz mais um novo massacre à natureza: um projecto turístico. Lá virá a marina, a talassoterapia, e o arranca-pêlos-do-cu doutro Centro Comercial.

Entretanto há tanta verba para tanto projecto mas não há dinheiro para comprar um avião anti~fogos como deve ser, nem há dinheiro para limpar as últimas florestas. O futuro radiante do país turístico do engenheiro que é mas não é adivinha-se: mais campos de golf (que paradoxalmente diminuem o número de desportistas), mais marinas (que paradoxalmente diminuem o numero de marinheiros), mais hóteis de luxo (que nada paradoxalmente fazem aumentar o preço dos terrenos e das casas), e mais cuzinho e pernas abertas ao Turista, o único cidadão deste país de sopeiros e de sopeiras.

2007-03-24

O RATO ASTRAL





O Rato Astral é um livro de MCH em 12 capítulos, cada um deles dedicado a um género de rato às vezes típico como o Rato da Biblioteca, outras clássico, como o Rato Banqueiro, outras terno, controverso e anómalo como o Rato Libertino. Cada Rato deste livro tem o seu contraponto, o seu pólo contrário num Gato. Por exemplo o Gato Fluorescente contrapôe-se ao Rato Lírico, e o Gato Yogi ao Rato Político.
Cada Rato sou Eu - ou pelo menos uma parte obscura, retraída, ainda não psicanalisada de mim, diz MCH. E a seguir acrescenta, Caro Drumas, lembra-se da minha proposta de Casa com Água Bacanalizada?
Claro que nos lembramos. De resto, neste livro, o Rato Astral, no capítulo Rato Cimento contrapontado pelo Gato Osmótico articula-se uma Paranóia Nazional EVVVidente chamada a "Casa" com a Pantufa Ibérica Global e, numa escrita que o autor classifica como "saltos de gafanhoto" no meio do Insecto Alucinado Amorfo, faz-se um ajuste de contas a apetitosos fantasmas da Mente Portuguesa actual como Les petits xanax de Tante Sophia e levantam-se Ó crime Ediondu! as saias feitas com cortinas do vira psicológico da Agustina. Descobre-se a relação entre as janelas de alumínio e a Loja Zara e a profunda analogia entre as Pastelarias Espelhentas e os "Discursos do Vazio" dos ministros, deputados, economistas e gestores, tudo ao ritmo de uma prosa de "boogie-woogie" que percorre varios registos desde o bad-writing mais demencial até à prosa nobre, togada, com os brasões dos Noronhas em luta com as camisolas conhecidas como T-shirts.

Transcrevemos alguns cândidamentes venenosos epigramas do capítulo do Rato Cimento:

Desde o aparecimento de poetas chorões, todas as casas portuguesas são pirosas.

O humor nos tempos de mosquitos só pode ser sub-atómico, por isso, Estica o infinito, ó Alberto!

Enfim, entre outras coisas, o livro passa-nos um atestado de mau-gosto geral e também entre outras coisas assenta as suas baterias contra os Novos Vultos da Literatura Actual como o Rapaz da Pérsia, e o Afro-Freudiano Anacleto, ao mesmo tempo que revê os Novos Mitos Sexuais, enquanto um sub-capítulo chamado a Indecisão dos Collants nos chama a atenção para a Banha Acumulada com Taxa de Juro da perna portuguesa depois de "vinte anos de automóveis para as massas."

2007-03-23

THE GLOBAL RULING CLASS


A emergência indiscutível de uma Global Ruling Class está a precipitar as nações para uma Global Working Class de dimensões sem precedentes, por isso a Dona Angela Merkel, a chanceleira visigoda, goda, alana e sueva, ec. zelosa na guarda dos futuros investimentos multimilionários pretende um Exército Europeu, leia-se Polícia Global.

Asssistiremos sem dúvida a um neo-neo-colonialismo porque o futuro Exército Europeu não vai decerto ficar sentado nas esplanadas a ler os suplementos coloridos do jornal o Sol e o novo amorfo e neo colorido Público (o último jornal nacional a suicidar-se e que agora apresenta o rosto incaracterístico de um jornal globalizado). O Exército Europeu, sob discreto comando alemão, intervirá em África - a pedido dos caciques de esquerda e direita locais, quase todos milionários, ou aspiring billionaires. E fomentará um Exército Pan-Africano, em nome dos valores da tolerância, e instruído por instrutores do Exército Europeu.

Teremos assim em escala maxi, a realização dos sonhos em escala mini, do sorridente multiétnico ministro Costa, que prepara o pacote da próxima Polícia Integrada, a globalização das polícias à portuguesa em nome da Santíssima Trindade da Racionalização, Eficiência e Modernidade.

Não será inocente ter dado o Prémio da Paz a um banqueiro, santificando assim o dinheiro (factor Número Um de unidade entre os povos), numa operação promocional destinada a convencer os povos que é este a alma e a essência do progresso, desenvolvimento e modernidade. A religião do Desenvolvimento que entre nós conta tantos entusiastas e pios devotos no seio do Governo não podia desejar melhor, agora cada moeda é uma pombinha da paz e lembra a Aurora radiosa de um amanhã higiénico, com os povos em filas obedientes, a pagar os impostos a horas, e a entrar nos lares para idosos com um sorriso de paz, enquanto os netos nos aviários pedagógicos aprendem o inglês do engenheiro, todos em filas ordeiras, comandados por sorridentes sargentas chamadas educadoras de infância.

Ao longe, a família nuclear suburbana almoça no Espaço Comercial. O Eurol, brilha num céu sem nuvens. O velho sol, desdentado, está no lar para idosos a dizer "cheese".

CRÓNICAS DO IRAQUE


Enquanto a Dona Angela Merkel, chanceleira alemã, deseja um Exército Europeu (prototipo do futuro Exército Global, sem dúvida) a caminho de um Só Governo, e o nosso sinistro da economia, o sublime Pinho-nhó-nhó, se prepara para encher os cumes das colinas, montes e montanhas de Portugal com moinhos de produção de electricidade, continuam a arrebentar suicidas no Iraque levando atrás deles dezenas de pessoas por dia.

Entretanto, estamos dentro do casulo dos media, como larvas a quem enchem de informação e ficam demasiado gordas para voar depois. E se chegamos a sair do casulo somos borboletas aterrorizadas num voo tonto em direcção a nada passando por um mundo destruído, que cheira a sangue. De facto, um mar de sangue onde boiam sacos de plástico e lixo.

Por isso, Alice, aqui na imagem a espreitar horrorizada pela porta, desta feita em vez do Chapeleiro Louco só encontra o Coelho Carbonizado. E também só encontra Rainhas Más todas com a cara de um soldado-proletário-americano. A Guerra do Iraque está por todo o lado porque os media invadiram o planeta como um cancro. É assim a Terceira Guerra Mundial, que se desenrola no sítio mais e menos previsível: dentro da nossa mente.


Gravura de Gustave Doré.

2007-03-22

SERMÃO AOS PINGUINS DO COMANDANTE CHARCOT



Irmãos Pinguins, desgraçadamente faço parte de uma Seita Aniquiladora e Extincionista, chamada Humanidade. Há milénios que andamos a perseguir e matar ou pôr na prisão todos os que não são nossos semelhantes e mesmo os que o são. Temos a Paranóia que somos os donos do planeta, os deuses da terra, e que os animais como vocês são "produtos" dos quais podemos dispôr como quisermos, quando quisermos, sem entraves outros que os da concorrência.
As nossas cidades não são como as vossas, em que se vêem todas as espécies de bichos voadores, terrestres e submarinos. Não podemos ir para onde podemos e queremos e para onde queremos e podemos ir tudo se paga. Temos umas Casas muito altas e feias chamadas Parlamentos, Câmaras e Ministérios onde os mais feios e mais agressivos da nossa espécie estão sempre a discutir a melhor maneira de nos carregar de impostos e de outras algemas, cadeias e correntes, se bem que sejam de plástico como o dinheiro plástico.
Como somos pelados, temos que andar vestidos e lutamos para andar melhor vestidos do que os outros. De facto, tranferimos o ser para o vestuário, e hoje sem nunca nos revestir do que somos, somos o que vestimos e ainda por cima não nos fica bem.
Nus somos horrorosos, e temos vergonha que nos vejam assim, vestidos somos ridículos e cheiramos mal. As nossas mentes fedem porque só pensamos em dinheiro, em juros, em novos prazeres e em como escapar à morte. Não somos capazes de prazeres simples. Os mais ricos de nós estão sempre a juntar mais dinheiro porque tem sempre medo de ter pouco e não ser suficiente. Todos nós desejamos o dinheiro, e todos temos medo quer quando o temos, de perdê-lo, quer quando não o temos, porque do modo como estão as coisas nada podemos fazer sem ele. E a nossa vida com ou sem dinheiro é sempre feia, porque o dinheiro não compra a liberdade nem a beleza, nem a alma nem a imaginação.
Este meu sermão no fundo não se destina a vocês, mas é feito para vocês, para que saibam que talvez um dia vocês nos ensinem a vossa vida simples e dura, o esforço que fizeram para manter os vossos territórios tão puros e brilhantes, o modo como os vossos olham brilham com o simoun secreto do Sul, a maneira como protegem os vossos filhos até â morte, se for preciso, e como vocês são capazes de nada comer durante meses.

Eu gostava que este sentimento do Pólo, que se explica como o sentimento da imensidão e da maravilha gelada e viva das coisas, e que talvez encontre um poiso temporário nesta frase "O gelo arde" pelo menos chegasse a alguns de nós que pensam que seria bom vivermos numa árvore, ter uma vaca em casa como queria o Cesariny (que desenhou um elevador para a sua vaca poder descer ao rés do chão sempre que quisesse) e encontrar alguins animais selvagens à solta nas nossas cidades, que parecem metáforas de um sonho de xanax, com ruas pasteurizadas e gente sonâmbula que divaga como autómatos tão incapazes de aceder à verdadeira vida e à verdadeira morte, que por isso vivem falsas vidas e morrem de falsas mortes, prolixas, todas iguais, que nem os vive nem os mata e assim ficam como larvas astrais, tépidas, nem mortas nem vivas, como a indústria, o dinheiro, o petróleo, as assistentes sociais, as irmãs de caridade, as diversas polícias integradas ou por integrar, o último ditador, os padres da república e os totós da modernidade.


Fotografia do Comandante Charcot no Pólo Sul.

Pode citar, copiar, reproduzir este texto desde que refira o autor deste blog e autor do texto.

2007-03-20

DA UTILIDADE DE UMA ESTREBARIA PORTÁTIL


Dada a multiplicação das cidades, e a sua contínua e abrupta congruência com um estado "nullum" da natureza, segue-se que estas foram criadas contra a natureza, contra a fauna, não se consentindo nelas fauna, a não ser humana, e árvores e plantas, a não ser ornamentais.

A favor delas pode-se dizer que elevaram, como Balzac genialmente se apercebeu, a humanidade a fauna. Sem as cidades não se teriam diversos tipos da besta humana como o burguês, o conselheiro, o polícia, o boémio nocturno, o catita, o punk, o homem da claque, o tipo do banqueiro, além dos vários tipos de suburbanos autómatos ou sonâmbulos periféricos.

Por uma perversão de excesso de hormonas de (cres) ---cimento as cidades fomentaram cada vez mais o cidadão periférico, um pobre autómato, sem tempo, sempre entalado entre uma circular e um infantário, entre um escritório e um dormitório e com hobbies de velha consumista: frequentar o Megacentro Kumerzial ao Sábado e ao Domingo.

No entanto, apesar de tudo as cidades encontraram um nicho para a fauna, sobretudo os insectos e os ratos : Onde há mais baratas, mesmo de uma forma desproporcional, além de ratos, é nas cidades. E é sabido que o semelhante atrai o semelhante...

Para alguns que esperam por grandes hiatos, por grandes desabamentos da irrealidade, propomos uma máquina patafísica secundária: a estrebaria portátil. Pode ser construída por cima de cada abrigo atómico, usando os postes da EMEL. Além disso garante-se que não vai ser possível que apareça no ecrã do telemóvel ou noutro dos ecrãs anões do Imenso Formigueiro Socialista.



O HOMEM QUE RAPTAVA ESPELHOS


Trata-se de uma história absurda passada num país atravessado por mil países, o Iraque. Não tem a menor credibilidade e nem sei porque a vou contar. Desde logo se vê que Sedhim Ali, com uma perna a menos, a saltitar pelas ruas cheias de buracos de bombas, não regula bem da cabeça. Mesmo quando há um atentado sucida não se protege, não se defende, continua a saltitar com o seu coxear antigo, empurrando o seu carrinho de mão.
É suicida a maneira como ele continua a avançar. Eu estou admirado como a polícia toda abrigada atrás de um muro de cimento armado ao vê-lo avançar para eles não o transforma em passador. E sorri, um sorriso sem jeito, de adolescente velho, de alguém que continua a sorrir para a câmara enquanto o fotógrafo é decapitado por uma rajada.
Esse espaço entre o sorriso com fotógrafo à frente e o sorriso depois de o fotógrafo ter perdido a cabeça é o seu. Quer-me parecer que a Magnum podia ter captado uma coisa destas, um sorriso entre, um sorriso depois da morte. Mas não se vê muita gente da Magnum por aqui.
No fundo desta rua, a do mártir e profeta Bedouz, há um lugarzinho onde fazem um óptimo café. O dono daquele lugarzinho é um cipriota indefinido, que faz o café à maneira turca em pequenos caldeirões de cobre, lá atrás, numa grelha atirada sobre meio bidão, onde arde carvão.
Recebe-me de braços abertos. Há clientes sombrios, com cicatrizes no rosto, e caras apagadas devido a tanta morte. O sr. Karakoulos pisca-me o olho e diz-me em francês
La Mort efface aussi le visage des vivants. E aponta-me uma mesinha onde está um tabuleiro de xadrez e o meu amigo, chamado Kiriaz, um sírio vestido como um ocidental, com uns sapatos táo engraxados, que é possivel fazer a barba a olhar para eles. Está muito contente porque sabe que vamos jogar não mais uma partida, mas a nossa partida.
Dispomos as peças com aquela forma negligentemente precisa dos velhos jogadores, que sabem que boa parte dos seus dias foi ficando dentro da cabeça do rei e da rainha, nos cascos dos cavalos sem patas do xadrez, no peões de cabeça redonda, como soldados do Cromwell, nos bispos de viseira cortada como cavaleiros, nas torres tiradas de um brasão de fidalgo ibérico.
Dois traços de fumo paralelos anunciam que o café já chegou à mesa. Mais virão. Bedouz sabe os tempos do xadrez, vem espiar a estratégia, e dizer uns hmmms hmmms se a jogada lhe parecer de mestre.
Kiriaz nunca sorri e um dia afirmou que o sorriso punha o homem perto dos anjos, semelhante às mulheres mas incapaz de as conhecer. Mas não se importa com os que sorriem, oferece-lhes o seu rosto que nunca conheceu um sorriso, e demora-se.
Entretanto, Sedhim Ali chega a esta espécie de sucursal poeirenta do Parnaso e pede licença para empurrar o carrinho para dentro, não vá algum ladrão de Bagdad levar-lhe a sua carga preciosa: espelhos. que cintilam ao de leve.
Salam, Salam, vai dizendo. Até se sentar junto de nós num tamborete baixo, com o seu sorriso de depois da morte, enquanto eu troco um cavalo por outro cavalo.
Karakoulos sem sequer se virar pergunta-lhe: "e então Sedhim? como correram as coisas hoje?"
-Raptei dez espelhos no bairro das galinhas francesas - diz Sedhim, com modéstia, baixando os olhos como um "turpinoor".
Eu fico sobressaltado. Parece-me altamente imoral e perigoso. Um homem que rapta espelhos é qualquer coisa de tão aberrante e estranho que nos dá pele de galinha imediatamente e vontade de erradicar aquele espaço caótico que de repente se ergue à nossa frente, uma vertigem onde tudo o que era deixa de ser, deixa de passar com a velocidade dos carretos certos, e entra-se noutro plano inclinado e perigoso das coisas, onde tudo treme e começa a deslizar para a esquerda e para o fundo.
- Mon cher, - diz-me Kiriaz levando-me um bispo, " aqui em Bagdad é preciso ter jeito para ser um quadro cubista. Ou seja, a alma pode estar cosida a uma parte errada da nossa anatomia. Um olho pode estar posto na nuca em vez de estar no sítio certo. E por exemplo os cabelos das mulheres podem-se prolongar, em chamas, até à linha do horizonte."
Com a sua elegância de cisne antigo, Kiriaz bebe mais outro gole enquanto se ouve uma explosão ao longe. E continua:
"Vou-te contar como morreu a mulher do turco Mehmet. diz-me Kiriaz. É uma morte em quatro ou cinco linhas. Ou talvez menos. Tem a precisão de um conto de Borges, a efervescência de uma imagem de Rabelais e talvez a concisão de um hadith. Era de origem italiana, chamava-se Joséphine. Tinha uns peitos abençoados, daqueles que são delicados e gulosos. estava toda vestida com um kaftan vermelho com bordados dourados que representavam a Fénix. E há quem diga que à alegoria que é a morte nós não nos opomos com outras alegorias igualmente bizarras e deslocalizadas...enfim. Os shiitas de rosto tapado entraram aos berros, com aquela energia pavorosa dos que contam os dias aos outros, e dos que fazem marcas na coronha para manter certa e inflexível a conta dos que abateram. Ela, ao vê-los, levantou as saias e virou-lhes o rabo nu - uma delicadeza! - e disse-lhes: "querem ver uma peida peluda e fedorenta a brincar ao gato e ao lagarto?" Os homens pararam por momentos e ela soltou um traque monumental, digno de um dragão. Depois, furiosos crivaram-na de balas. Mas ela morreu a cantar com uma voz de sereia que enlouqueceu todos os seus assassinos."
Depois Kiriaz virou-se para Sedhim, e perguntou-lhe com aquela negligência exacta, "não é assim, Sedhim Ali?"
Este acenou, sem muito entusiasmo de resto, várias vezes com a cabeça. Vi que tinha um olho muito maior do que o outro.
Kiriaz com o seu enorme cosmopolitismo disse-me, desculpe, e a seguir levou-me um bispo, e disse em tom de confidência:
"Aqui o nosso Sedhim tinha raptado dois espelhos da casa de Joséphine. E ela prometera dar-lhe dinheiro em troca, mas não deu... Logo...aqui o nosso amiguinho subiu à Torre da Mesquita de Omar com um lenço de seda amarela, e ao chegar lá em cima acenou por duas vezes em direcção do Oriente."
Outro gole de café, com aquele género de gestos vagos e perfeitos que condensam o tempo porque captaram toda a atenção e, depois, Kiriaz sacudindo uma mosca, diz taambém naquele registo de displicência contida:
"E já se sabe como este género de coisas... este tipo de metonímias funciona muito melhor do que os telemóveis ou do que as tretas dos jornalistas, que não sabem nada do Grand Jeu."


(Na imagem a antiga Bandeira do Iraque, antes de Sadham Hussein)


à espera do nirvana dá sempre jeito umas lãs e o Snoopy.

2007-03-19


O SÍSIFO, PRIVILEGIADÍSSIMO, chegou hoje aos 6.839 leitores no espaço de 3 meses e meio de aktividade.
Vamos desrolhar a Garrafa de Medronho Ilegal e comer boas coisas Ilegais antes que a CEE tome conta de tudo e haja por toda a parte cidadãos-formiga deliciados na construção do Formigueiro Socialista.


ONDAS ALFA


Lembras-te daquele dia em que te disse que dentro da cabeça eu só tinha uma alface?

2007-03-18

ROSA

Para Ouhiné

rosa
multiplicada sereia
composta de névoa
e cereja
se as tuas mãos
fossem vagas
eu seria rocha
e magia
e se fosses tigre
eu buscaria renas
e lumes
enquanto o teu lume
iria ligando as estrelas
à relva negra
do universo

2007-03-16

PARASITAS TECNOLÓGICOS


Alguns perigosos Parasitas tecnológicos:

* O Bull-dozer
* O Black-and-decker
* Cartões de crédito
* Camionetas de cimento



Agradeço aos amáveis leitores que continuem esta lista.

OSSOS DA TERRA

Ele tinha acabado de lavrar o campo, arrancara todas as rochas, e grandes que elas eram. O tractor não parara, com ruídos lancinantes de cada vez que a aiveca descomunal arrancava mais outra rocha, de manhã à noite. A certa altura o tractorista e dono do campo, um homem careca com olhar de assírio, parou a máquina, desceu meio cambaleante, com um olhar meio vago, sem perceber que arrancara os ossos à terra.

2007-03-15

Li Bai


Ainda não sei respirar a rosa nem beber a montanha numa só gota de orvalho.Perco-me com prazer nos caminhos lodosos, sei que o canavial está próximo. Quando o pássaro que canta dentro do sangue levantar voo talvez esteja perto do rio. Então verei o salto da carpa. Então poderei trocar todos os meus poemas pelo voo do ganso.


Li Bai


Quem não conhece Li Bai não sabe o gosto que o vinho tem, nem como uma mulher pode sair da água com a Lua presa ao cabelo, banhada de uma luz que só a Vinha e a poesia combinadas atraem.



Poeta nómada, indomável, livre como um dia de nevoeiro, ia para onde queria quando queria. Ou ficava imóvel, à espera do vento, como os canaviais. Quem não conhece Li Bai nunca entrou de pés descalços num regato rápido, nem nunca se sentou durante algum tempo ao lado de um gato preguiçoso a ver a Lua entre as ramagens douradas.

2007-03-14


Dancing till the end of Mask

Flying for the end of Time




Detail from a Greek vase, 200 BC

2007-03-13

DEPOIS DE SAIR DO CINEMA

depois de sair daquele filme
em que um filho nunca mais volta a casa
porque viu que a velhice é uma tirania
e o amor paterno uma atrocidade
enquanto a mãe lê António Nobre
na cozinha, onde cheira a musgo, a fel,
a lodo e a eternidade

agora cá fora, sob a luz crua da era,
neón e mais neón
da cidade ausente e bizarra
cheia de gente que não está lá,
anda-se pelas ruas em que ninguém
tem uma história, em que os pródigos
voltaram e uma sensação de festa
que nunca começou paira no ar
carbónico, macerado, que os sinais
eléctricos esmagam com a sinceridade
simplista das coisas técnicas.

PUXAR PELO PAÍS



Há pouca besta de tiro:

«Quem tem condições para puxar pelo país e fazê-lo crescer são actualmente apenas 30% dos trabalhadores e esse milhão e meio de pessoas é pouco» (Afirmou Sócrates).


Como Portugal tem Dez Milhões, segue-se que 7,5 milhões de habitantes, todo o governo incluído, é puxado por aquele Milhão e Meio.

Concordamos. É pouco. Atrelem-se mais bestas de tiro.

PROPOSTA PATAFÍSICA DO DIA




Construa a sua máquina de ar incondicionado.






Pintura de Rola, pintor brasileiro.

2007-03-10



Dia de cair na Primavera - Nuvem Verde - Rasto esguio de andorinha - cheiro a agulhas de pinheiro

Oiro do Instante - som dos grilos

AMIGOS ORIENTAIS DO SÍSIFO


Gostamos do Porkêra. Do Drumas também. Portugal ainda existe? Não batam com a cabeça no Semáforo!

2007-03-09

O SENHOR-CORNO


Os portugueses tem tanta falta de memória que se esquecem dos cornos em qualquer lado. Por isso vemo-los em bancos de jardins ao lado de jornais desportivos, na cadeira dos restaurantes, caídos ao fundo e à direita do pivot do telejornal.
Como há cornos por todo o lado ninguém lhes liga muito. Disfarçadamente vêem-se sujeitos na oblíqua alta a recolher cornos perdidos no café, no banco, no restaurante. Mas às vezes, com a pressa distraída, trocam de cornos e voltam para casa com cornos que não são os seus. A esposa chocada olha-os com ar bizarro. Chega mesmo a dizer-lhe : Aníbal...esses não são os teus!
Não são os meus! Não são são os meus? Não são os meus? É claro que são os meus riposta o Aníbal, furioso. E avança para a casa de jantar, já sentindo o bacalhau estragado.

Isto é o que se passa com o comum dos cidadãos. Mas num país onde só há gente comum, avessa à pintura, à arte, à música - salvo uma pequena elite de snobs que percorre de nariz no ar os Centros Culturais - há que se distinguir do comum portador de cornos. E por isso há um tipo especial de portadores de cornos que são os Senhores-Cornos. A sua presença é frequente na Televisão. O Senhor-Corno em geral é um sacerdote da modernidade - tudo o que é tecnologia fascina-o. Por qualquer novo objecto tecnológico é capaz de deitar abaixo a casa onde vivia Dom Cornão, o seu avô e Dona Cornúpeta, a avó. O Senhor-Corno tem cornos maiores do que o portador de cornos de Lineu. Quando se vira de lado de repente bate nos que estão ao seu lado, os quais humildemente ficam curvados, porque sabem que o respeitinho é directamente proporcional ao comprimento do corno. Se os japoneses se curvam de acordo com a quantidade de energia que detectam no "Hara" da pessoa respeitável, e no fundo ficando com a cabeça à altura do Hara esperam receber um influxo positivo, os portugueses curvam-se simplesmente para que não lhes caia um Grande Corno em cima.

O portador de cornos comum quando apareceu, por exemplo um objecto tecnológico chamado telemóvel, um objecto do tamanho de um pénis pequeno espalmado, adoptou-o com uma exuberância tropical. Agora tinha qualquer coisa que não se devia esquecer em lado nenhum, que não podia confundir com um corno - porque se é certo que cornos são gratuitos, não o são os telemóveis. E o portador comum de cornos preza muito o que custa dinheiro e mais ainda o que custa muito dinheiro. Por isso a partir da difusão do telemóvel os portugueses começaram a perder muito mais cornos, e por isso se vê que o afã principal, a actividade mais concorrida de todo o país a qualquer hora e momento é a procura dos cornos perdidos, agora com a ajuda do pequeno pénis espalmado.


Pintura de André Breton

O MANEQUIM PAPAL


















Clique na foto para aumentar.



Segundo o filósofo inglês Carlyle:

the opening chapter of the third book of Past and Present, uses the fact of an "amphibious Pope" to epitomize what has happened to Christianity. When the pope's rheumatism made kneeling during the Corpus Christi processions difficult,
his cardinals constructed "a stuffed cloaked figure, of iron and wood, with wool or baked hair; and placed it in a kneeling posture. Stuffed figure, or rump of a figure; to this stuffed rump he, sitting at his ease on a lower level joins, by the aid of cloaks and drapery, his living head and outspread hands: the rump with its cloak kneels, the Pope looks, and holds his hands spread; so the two in concert bless the Roman population on Corpus-Christi Day, as well as they can" (10.138). According to Carlyle, the pope thus sums up the entire "Scenic Theory of Worship": "Here is a Supreme Priest who believes . . . that all worship of God is a scenic phantasmagory of wax-candles, organ-blasts, Gregorian chants, massbrayings, purple monsignori, wool-and-iron rumps, artistically spread out, -- to save the ignorant from worse" (10.138). Admitting the pope's charities, the bravery of his priests during a recent plague in Naples, and his wish to protect the poor and ignorant from unbelief, Carlyle nonetheless mocks him as an embodiment of "worshipping by stage-machinery" (10.139) in order to protect the established political order from proletarian rage. Such "Gregorian Chant, and beautiful wax-light Phantasmagory" hide "an Abyss, of Black Doubt, Scepticism, nay Sansculottic Jacobinism" (10.139). Carlyle thus reveals that the way the pope's infirmities were accommodated one feast day can tell us what we most need to know about the spiritual and political infirmities of the age as well. His sage's vision has in fact transformed an apparently trivial contemporary phenomenon into a Belshazzar fire-letter that warns his readers that they cannot hope to survive by using an obsolete religion to prop up an obsolete political system.

50 ANOS DE DOENÇA


Um dos maiores factores da contemporânea e massiva doença da obesidade é a televisão. Em Portugal comemoram-se agora com grande pompa 50 anos de introdução desse agente patológico duplo: mental e físico, que é a televisão. O Presidente, na sua "qualidade de Grão-Mestre das Ordens Portuguesas" (Aviz, S.Tiago, Infante...) condecorou a entidade RTP com a Ordem do Infante.

Uma fidelidade tem tido a RTP sem dúvida, ao partido que está no poder. É agora tão His Master´s Voice do actual tecno-socialismo ou tecno-fascismo como o era do salazarismo.

O rosto brilhante da mediocridade, sem dúvida, cravado nas meninges da vasta plebe audio-visual.


2007-03-07

TRIÁLOGO ENTRE VD, CC e OP

entre um Vegetariano Desleal, VD
um Carnívoro Cansado, CC
e um Ocidental Psicodislata, OP

VD . não sei como são capazes de comer Couve hoje em dia
OP - mas não eras o tipo do Evangelho Verde?
CC - Messias crucificado numa cenoura?
VD- também não sei como são capazes de comer batata frita
CC - a maioria é de pacote, também não sei como é possível
OP - a Torre de Pisa é feita com batata frita
VD - as obras de Isabel Allende também
CC - e o cinquentenário da TV
VD - aquela choça já nasceu com duzentos anos
CC - não sei como se pode comer tanta televisão

2007-03-06

O IMPERADOR DA COMIDA PLÁSTICA


Nos dias em que te sai alumínio pela narina, e em que sentes gafanhotos alcatroados a correr pelo ventre o ministro toma conta do ecrã. As tuas gotas de suor tem E 550, o anti-oxidante. O Guru da dietética, um homenzinho verde pendurado na orelha grita: também há anões no paraíso! E depois vai-se embora, engomar a careta.
Entretanto tu vais em direcção do teu Túmulo Portátil, esse Tê Dois na Outra banda, com vista sobre marrecos e telhados vesgos. Lá a Aranha de uma só pata tece a sua teia: outra auto-estrada.
Os teus orgãos sexuais, esse ninho de larvas, agora estão ligados a todas as auto-estradas do país. Deves sentir-te muito contente. Os liliputos dançam com os lusiputos nas bombas de gasolina, e a voz da maneta diz: Tenha um Dia Positivo!
Arrancas no teu carro a crédito, acompanhado pela tua esposa também a crédito. Ela boa cidadã acerta o conta- mênstruos. Todo o sangue pifado tem sanguessuga racional à espera. A ministra com sapos no bigode quer contabilizar cada movimento dos Lusiputos.
Páras no entreposto. Tu, colónia de bactérias, tu cidadão racional, tu o melhor amigo da Lógica, agora és aspirado pela maquinaria das maçãs perfeitas. Tens que chupar fruta normalizada. A Perfeição da Careta assim o exige. Não te lembras do Guruzinho Verde com a Careta toda Engomada. Vá, faz vénias à Bigoda. Deixa-te encular pelo supermerdado. Atura a Sónia, a maninha magra da Ministra do Pêlo Sintético.
No átrio, o Esquerdas, dá-te um número. O número canta em voz alta: diz não ao Imperador da Comida Plástica! Grande movimento de gafanhotos que são os teus pêlos púbicos ou públicos, agora no momento da Epifania, O Esquerdas grita: Diz Sim Ao Colectivo da Comida Plástica!

2007-03-05


as autoestradas são os afrodisíacos para os cretinos

PATAFÍSICA


A Patafísica é a ciência que tira partido de todas as outras, deixando-as mais ricas.

2007-03-04

NOSSA SENHORA DO HAXE


ORA PRO CHARRUS!
LIBERA NOBIS DO MAU PRODUTO QUE SABE A POLÍCIA!
AMÓN!

2007-03-02

HINO NACIONAL DOIS




















Lá vem mais um
Quem?
Um habitante
do país buraco
Que lhe aconteceu?
Que lhe aconteceu?
Não lhe aconteceu nada
a vida inteira
Aos zero anos
caiu no Buraco
católico
Aos seis anos
caiu no buraco
da escola
Aos vinte e tal no
buraco do trabalho
(depois do buraco da tropa)
Em todo o tempo caiu
no buraco dos media
Agora o que faz?
agora buraca:
buraca no metro
buraca no matrimónio
buraca na política
buraca na literatura
e para onde vai?
Vai pra outro buraco
noutra dimensão
Fazer o quê?
Fazer o quê?
Nada fazer a não ser
fazer buraco
Fazer buraco noutro buraco

SOLENÍSSIMO BURACO


Um país infecto-turístico de barriga grande, pêndula, rodeado de empreiteiros por todos os lados só merece ser chamado Buraco. No caso português, dado o volume da história pregressa, Soleníssimo Buraco.

Há inúmeros países-Buraco hoje em dia. Por exemplo, a Venezuela. A Turquia. Os resplandescentes Emirados Árabes todos eles uma Quinta do Lago contínua.

E há o país do futuro do general Eanes, opusado, deificado, com toda a gente na ordem e todos na fila. E que, pode perfeitamente coincidir com O País Refinarista do dr. Pinho.

E há o país Milénio BCP em que andamos todos a subir escadas rolantes, ao longo de uma parede vermelha e cinza, com um sorriso milenarista.

Característico dos Países-Buraco: estão cheios de profetas de mau agouro, amargos, com famílias disfuncionais, dívidas até ao pescoço, heil hitlers à Ordem e ao Passado-em-que-era-bom. No entanto, estão contrabalançados por uma legião de optimistas que só véem coisas boas no progresso e na tecnologia, na morte de deus e na racionalização das relações amorosas.

O que acontece nos Países-Buraco é Sinergismo Despótico. Por exemplo, tem media-Buraco. Como não se passa nada e sobretudo porque tem que se impedir que algo se passe o Tempo dos noticiários da TV é infinito. Tudo cai para dentro dos media-buraco a eito.

O tirador de coelhos da cartola depois ordena e reordena o Coelho Consoante.

O Coelho dos Incêndios, por exemplo na época estival em Portugal, é um Top Chart Guy.

2007-03-01

风头脑风身体


风头脑风身体

NOVAS DO MEU ATHANOR


gostei de todas as chuvas deste inverno e acho que ouvi com o maior gosto muitos dos ventos, se bem que nem sempre tenha entendido as suas mensagens. Também me senti como uma árvore a cair pelo universo, no dia em que houve uma grande trovoada. Nós de linguagem atravessavam-me o corpo, uma rosa de relâmpagos crescia-me em todo o corpo- Eu, e um atraso de luz, e a teia de trovões cortando-me os pulsos.

Mas avisado pela luz rodopiante o corpo refazendo-se à altura das nuvens que vinham beber o sangue gotejando dos meus pulsos. Por estranho que pareça não tinha estado a ler literatura japonesa, nem a percorrer livros de imagens medievais de santos expostos aos elementos.

O Athanor começa a certa altura a ser o corpo, vaso e veículo. E a carga das transformações nem sempre é pacífica, ou ordenada, como se tivesse um plano. A Fénix não é nenhum ministro! Não há mapas seguros e certos para o Monte das Transformações. Nâo há plano director. As cabeças ordenadas com lógicas privadas e pequenas vêem-se no colar de Kali como pequenos crânios.

Quanto do idiota útil que fui ficou a ferver, do lado de fora da janela, depois da trovoada? Não sei. Mas sei que não somos sólidos, a qualquer momento podemos ser um Fluido Lúcido. Mas cuidado com os parasitas.



VIAGENS NA MINHA VILA


Hoje vi um frade de bicicleta, ia ao lado de uma jovem grega, ambos à mesma velocidade. Pensei que era um bom começo de filme, o frade eterno de bicicleta e a grega efêmera. Mas tambem penso que a realidade são os meus filmes, tenho uma costela de Arcebispo. Berkeley, o que pensava que tudo o que vemos are but visions displayed by our mind.

A colina do Castelo, que se vê bem de certos pontos da avenida D.Nuno Álvares Pereira, espreitava rodeada de oliveiras. O ar vivo e lúcido de Fevereiro, a luz tão mutável de Fevereiro, surpresa azul, depois prata, nuvens de todas as formas. E no ar o subtil perfume das laranjas.

Eu ia no meu chasso, um velho VW vermelho desbotado, calcinado pelo sol do Alentejo, roubado a um filme do Wim Wenders, com umas amolgadelas, um traço de ferrugem, as armas do Drummonds no capot (num autocolante). Nós Lordes dos primeiros crepúsculos somos guerrilheiros dandies.

O homem mais velho da vila todo curvado para o chão, mas ainda um olhar vivíssimo passou no passeio com um saco de plástico cheio de caracóis. Acenou-me com o saco. Aquele homem velhíssimo à noite mete-se num dos buracos das oliveiras e desaparece. Transforma-se em seiva azul, de noite vai dançar com as corujas. Imagino-o muito bem de noite, a uivar à Lua. Ou a ensinar os caracóis a correr.

Depois continuei pela avenida devagar, vendo o hostil quartel dos bombeiros, todo em ângulos de cimento, uma coisa de caixas feita por homens-caixa, e um cão passou muito lentamente à frente. Parei para o deixar passar. Tenho cortesia para com todos os animais. Não sou mais do que nenhum deles. Podiam ser meus pais, meus avôs.

E quem sabe se um cão não é um deus antigo?