/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力: 2007-10

PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

LES PRIVILÉGES DE SISYPHE - SISYPHUS'PRIVILEGES - LOS PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO - 風想像力 CONTRA CONTRE AGAINST MODERNISM Gegen Modernität CONTRA LA MODERNITÁ E FALSO CAVIARE SAIAM DA AUTOESTRADA FLY WITH WHOMEVER YOU CAN SORTEZ DE LA QUEUE Contra Tudo : De la Musique Avant Toute Chose: le Retour de la Poèsie comme Seule Connaissance ou La Solitude Extréme du Dandy Ibérique - Ensaios de uma Altermodernidade すべてに対して

2007-10-27

A MAÇÃ INTERIOR


escrevo para me desenganar de mim mesmo



A mulher elegante e caçadora que antigamente matara perdizes queria escrever um conto sobre a sua vida interior. Foi viver para uma tenda no deserto, depois para um Castelo nos Cárpatos (quando ainda se alugavam castelos inteiros, baratos). Aterrada, descobriu que não tinha vida interior nenhuma, que ela era sempre outra, uma mulher adorável de quem toda a gente gostava, mas que ela detestava. Eu não sou exactamente essa mulher, essa mentira de que todos gostam, e que eu cultivo com alguma distraída inquietação, pensou, sem saber o que fazer.
Então, um dia começou a escrever uma história para crianças, mas na sua mente só via cabeças de cavalos decepadas, a boiar pelas autoestradas. Começou a pensar angustiada que, se os seus sonhos se pudessem tornar realidade, coisa que ela realmente temia que pudesse suceder, então o pesadelo diário, caso os seus pesadelos fossem eficazes, podia ser ainda pior. Descobriu, igualmente, que não sabia o que era uma criança, precisamente porque nunca tinha sido uma ou talvez porque fora demasiadamente criança e se perdera para sempre num tempo eterno e hermético, não sabia bem. O certo é que tinha sido, logo à nascença, uma mulher bonita e adorada, e por isso, estava a mais nas coisas, transbordava da realidade para fora.
Para poder sentir-se fora dessa terra tão familiar, p
agou bom dinheiro para ser insultada, mas sucede que com a vileza geral dos tempos também tinha decaído, e muito, a arte da injúria. Tal como não sabiam louvar, as pessoas também tinham deixado de saber vilipendiar. Nem sequer as maldições extremas funcionavam, porque era uma era sem profundidade tanto do mal como do bem. Então soube que tinha de escrever um pequeno poema chamado a Maçã Interior. Custou-lhe imenso saber que essa voz interior que ela julgava sua, não era dela. Era de alguém outro, diferente, ou de um mistério dela, que ela perdera.
Por isso o seu conto esgotou-se todo no título. Mas as pessoas ficavam arrepiadas só com o título, como se ela tivesse condensado todas as figuras de uma vida surpreendente em apenas duas palavras. Todos, desvanecidos, a felicitavam pela justeza e pela profundidade daquele conto que começava e acabava num tão breve título. Só ela sabia que aquele título não tinha realidade, tal como ela.
A partir de então quis dedicar-se a observar os reflexos das nuvens nos grandes lagos, mas com muita e frequente pena sua descobriu que os seus olhos se alagavam de lágrimas tão leves que as coisas desapareciam do mundo, e em lugar dos seres ficavam manchas esparsas de névoa.


Desenho do século XVIII de um Dodo, espécie extinta pelo homem nesse século

UMA MENTE EM FATO DE TREINO


Parte do tesouro que os primeiros comunistas russos roubaram à Coroa Russa, agora a meio do autoritário consulado socialista que governa Portugal, tem um local - na gíria de museus chamado Pólo Hermitage - onde está em exibição em Lisboa. Foi boa ideia: despacharam para cá o trono do Czar, não vá alguém ter ideias lá. Também é verdade que os tesouros são exibicionistas e os portugas voyeurs, ou melhor, espias ágeis e praticantes assíduos da espreitadela.
Nas salas do Palácio da Ajuda, deslocalizadas para servir de abrigo ao Pólo, vêem-se mais uns quantos retratos, a óleo, em formato imperial, com belas molduras de talha, dos membros da família imperial. Acompanham-nos, umas jóias menores, umas pratas, mais uns adereços et voilà, com pompa (que ainda não é luxo) e com aquele luxo um pouco piroso e oficial das Cortes, tem-se o Pólo Hermitage de Lisboa. A visita demora pouco tempo - mas há sempre uma burguesia com uma mente em fato de treino, que adora visitar exposições com jóias, e que para elas guarda os maiores e mais consolados Aaaahs! e as mais demoradas contemplações. Nunca percebi essa gula, a admiração, a bulimia excitada que as jóias provocam. Tenho para com as jóias a maior das indiferenças. Nunca percebi nem quero a paixão pela prata. Pôr ouro no corpo, a mim parece-me que o torna estranho e feio. As minhotas cheias de arrecadas parecem-me vítimas de uma conspiração, os ouros mais finos e sóbrios das aristocratas e burguesas a meus olhos também me parecem expressões maníacas.

Entretanto, teve a sua piada ver o Putin, com ar de empregado de agência funerária rica, a esgueirar-se, de careca loira, no meio dos quadros imperiais. Nunca seria recebido em casa de boa gente. Só pode passar de lado e de perfil, com a boa gente já morta e oseus salões desmanchados. Ao lado dele, a nossa comitiva, de fato cinzento (tão típico da mente cinzenta ter extensões de acordo com elea) igualmente tão à l'aise nos imperiais salões como o raposinho, dava certeiros passos em direcção a fãbulas de Molière, e gravuras de Daumier, tipo o Ganso e o Pombo emproado que seguem a Mestre Raposa. Consola ver a velocidade e a aplicação com que a nossa subserviência segue o que ela julga Os Grandes.

Quanto a retratos de avoenga ilustre - já se sabe que fazem parte das mise-en-scènes e narrativas das chamadas boas famílias, que reproduzem em formato pequeno, o formato grande das Cortes, onde há galerias e galerias ajoujadas de retratos dos antepassados. Chatíssimos de ver para terceiros, quem, depois de duas condessas e meia, meia dúzia de Perucas com condecorações e faixas, todos com o brasão, e todos muito mal pintados por medíocres pintores, tem paciência para ver mais? Aqui o Pólo Hermitage, apoiado pelos nossos subservientes governantes e comissários culturais, de calcinha baixa diante do Autoritarismo russo, impinge-nos uma terceira linha de pintores de genre, que pintavam a metro o Gotha russo da corte da altura.
Se aquelas Czarinas, e príncipes tivessem sido pintados pelo Gainsborough ou pelo Reynolds - obrigados a pintar aristocratas para pagar rendas de casa e bocas em casa, ou amantes exigentes...

A única coisa decente, para uma memória culta, é recordar que aquelas damas da corte Imperial falavam melhor francês do que russo. O que se compreende, e a posteriori se aplaude. O russo é uma língua feia, cheias de shhhs, ainda pior que a de um Lente da Beira de ouvido duro. Por isso. irei ao Museu, enfim ao Pólo, como um Dandy deve ir - de luneta acerada, com o maior desdém possível por tudo o que não seja imaginar que estou a ouvir algumas daquelas aristocratas a comentar Prosper Merimée, em francês, e a debater um conceito do infinito em Pascal, na mesma bela, geométrica e desdenhosa língua

2007-10-25

DEUS DO VENTO E GUIMARÃES ROSA



"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens."

guima_rosa.gif (2444 bytes)

2007-10-24

HERMITAGE


Amanhã, em Lisboa, Sherlock Holmes investiga o roubo das jóias do Czar - O Governo Português terá sido receptador

2007-10-23

NOVAS DA FRONTEIRA ASTRAL E ESTRELINA





Não venhas hoje S, que a noite entrou na garrafa errada,
os alemães disparam ao longe. fazem caligrafia com balas
Uma égua gigantesca, a via láctea hoje está escura
abrimos as latas nas trincheiras com os olhos postos
numa serpente de sangue que se revolve. Não hoje não
é noite que se deseje ao cancro ou a Mefisto
deixa-me cerrar os olhos porque nesta noite
quero ser o teu Dodo, ou uma avestruz
beija-me muito nestes meus olhos sem luz, hoje,
mas que se lembram das tuas penas de mulher areia
nua na vassoura etérea, subindo pelos corredores
entre as estrelas persas e vagamontes, que se acenderam
de propósito no sítio mais improvável, dentro do sangue


Imagens: à esquerda Guillaume Apollinaire e a sua Musa (que parece um homem) por Douanier Rousseau, e à direita as armas dos Koprowitzki - o lado materno de Apollinaris. Heráldica apropriada, indicando a Serpente Coroada, momento alquímico, que precede o desfazer-se da coroa e o Adquirir de Aza - hiperactivando a nobreza.

LES MOUSTACHES DE LA TRADUCTRICE


La perversion de L'Europe c'est l'introduction du monothéisme venu de l'Orient

2007-10-22

CADERNOS DO PORCO ILUMINADO 2


TRATADO

DE

FILOSOFIA

EMPUFFADA



A isto chama-se um Imperativo Categórico : Um filósofo tem que ter um ar doloroso, de quem pinga pensamento a cada canto, e emite frases como " a sucessão dos objectos de percepção não invalida que cada um de per si seja apenas um objecto e não a essência de todos os objectos que se sucedem". É natural que depois de uma frase destas se lhe procure uma bossa na cabeça, donde saiem estas frases, estranhas e repelentes como pús. Talvez não seja má ideia o filósofo ser marreca, porque assim as pessoas terão paciência em ouvir estas suas frases complicadas, e mentalmente, pelo menos acariciar-lhe-ão a marreca, belo sítio para guardar o pensamento.
Deve vestir roupa que ridicularize o seu corpo - o corpo, tanto o dele como o dos outros, enquanto fôr possível fazer esta distinão, é um grande objecto ridículo para o filósofo. O filósofo tem que saber, de ciência certa, que por mais digno de ser serializado por meio dos atributos que definem o Belo, o corpo envelhece, emborbulha-se, apresenta nódoas negras, enverdece devido ao absinto e ao excesso de dietas vegetraianas, e por fim acaba numa posição divertida como um silogismo, ou seja, fica rígido, lívido e imóvel. Por isso, o filósofo astuto escolhe roupa que lhe fica curta demais, ou comprida demais, que já passou de moda há várias modas atrás, e não se preocupa com barba, que lhe cresce revolta, nem com o cabelo que ele próprio corta às três pancadas com a tesoura das unhas. Depois rise amargamente se lhe disserem que "compôs todo um tipo"
"Compus um tipo, eu? Ó homem eu vivo na verdade da corrente da consciência, no devir constante da percepção que a informa, e sendo assim e não doutra maneira, como quer que eu me fixe, num tipo? Num tique... Eu não tenho tipo nenhum, percorro-os a todos e não me demoro nem enraízo em nenhum. Não ouviu falar da impermanência?"
Nós já ouvimos falar da impermanência... por isso dizemos com toda a paciência ao filósofo: você constituiu-se como o tipo clássico de Diógenes que vivia sem roupa dentro de uma pipa de vinho vazio. Infelizmente, o filósofo, nessa altura e momento, perde rapidamente o fair-play, chocalha a bossa e a marreca, e chama a tropa. Os filósofos tem esse fraco: não o parecendo, adoram fardas poque lhes lembra ideias alinhadas, em parada, conceitos apresentando armas prontos a ser revistos e reinterpretados. Também gosta de pendões e bandeiras e estandartes. Não é a mente um campo de batalha e não é a luta de ideias a mais bela coisa desde a batalha de Solferino?

SINAL DA CRUZ ACTUALIZADO!


Eis a nova versão abençoada, decretada e promulgada pelo consistório secreto dos Vates * e Canos *
(Entra em vigor imediatamente)

EM NOME DO PAI
E DO FILHO
E DO BANCO ESPÍRITO SANTO
AMÉN!


Vates: a raça infecta dos Poetas
Canos: a raça igualmente infecta dos Cães Canalizados

2007-10-21

CADERNOS DO PORCO ILUMINADO


RaTazanaz

e

RaTazanim


No fim da jornada europeia, o sr. Sócrates e o sr. Durão não cabiam em si de contentes. Ao sr. Sócrates saiu-lhe um muito vilão porreiro pá endereçado ao sr. Durão. A gravata azul às pintas de Durão córou com a vilania, mas habituada a engolir sapos de todas as cores, aceitou o porreiro, com abraço anexo. O sr. Durão e o sr. Sócrates devem ter sido dos únicos portugueses contentes com a conclusão do que se chamou Tratado de Lisboa, executada num sítio altamente degradado, o Parque ou o Pavilhão das Nações, parte integrante de um bairro alarmante, do mais duvidoso gosto neo-empreiteiral, chamado Parque da Expo.


O sr. Sócrates por uma vez na vida, disse a verdade: este é um momento muito importante das nossas carreiras, a dele e a do sr. Durão, entenda-se. Indeed! O sr. Sócrates ascendeu ao alto funcionariado europeu, o sr. Durão consolidou o lugar. A chanceler germânica com nome de anjo e de comboio eléctrico, Angela Merkel, lançou-lhes a sua benção gordinha número um.

Saúde-se, no entanto, o atarefado comissário da polícia, que de walkie talkie na mão, coordenava os helicóteros com o trajecto dos carros que vinham do aeroporto - tropa de batedores à frente com as sirenes ao máximo - para a zona da Expo, pela sua felicidade e justeza semântica. A cada chefe de governo chegado chamava-lhe "Entidade". Anda bem a ontologia policial:
Nem mais. É o que são, uns anónimos espectros ectoplásmicos (estou a dizer isto com esgares Haddock) conhecidos nos meios paranormais do espiritismo como "Entidades".

A televisão deu-nos os fatos (escuros, quase todos, excepto um ou outro em cinza claro) dos representantes da matrix, que vinham para nos ajudar a vender a alma ao nem sequer mefisto de serviço. Alma escura, fato escuro? O alto funcionariado europeu veste e penteia idêntico. É um pequeno exército, uniformizado, de "Entidades". O AFE: Alto Funcionariado Entidade. Quem dizia que a polícia não tinha génio criativo nem designações de uma justeza flaubertiana?

Seja como fôr, custa a crer (a mim e a meia dúzia de gentes, porque a maioria macdonaldizada come tudo e cala) que seja esta gente que tem o futuro da Europa nas mãos? Não custa. Eles são as mãos doutra gente mais alta, sem rosto. Os sopeiros de mais alevantadas Entidades, que gerem os destinos da Globalização.



OS DITOS DO BARÃO DE LA RASTÉRE


Quem usa brasão de armas no dedo, em geral é porque não as tem ou então são recentes ou duvidosas


Ter sido admitido à nobreza no século XVI é bastante recente. Uma boa linha, no mínimo, tem que vir de antes do século X

Quem mais se exalta com a nobreza é a terceira geração de gente que veio das berças


Ter cara de cavalo não ficando nada mal a uma duquesa inglesa é despropositado numa italiana

Um burguês entra na nobreza casando com a herdeira de uma família fidalga falida


Os banqueiros, que provem de estratos sociais anónimos ou mesmo vilões, três gerações depois tem sangue real

Alguma nobreza já escrevia em

SMS

justamente porque não escrevia




As maneiras à mesa não fazem mesas, mas destroem reputações




Uma gravata mal placé muitas vezes significa o fim de uma carreira política prometedora




Falar, mesmo vagamente, com sotaque da beira pode dar altos cargos políticos mas socialmente é do mais comprometedor que há


Pode-se descender dos merovíngios, mas é de mau gosto divulgá-lo


Há monarcas que conseguiram ser tão estúpidos, absurdos e irrelevantes como a maioria dos nossos presidentes


O povo só é bonito nos poemas de aristocratas como a Sophia


Já quase não existe a nobreza portuguesa tradicional, e boa parte da que existia tradicionalmente tinha os modos grosseiros do povo


A maior parte dos portugueses, sobretudo os urbanos, morre de vergonha por ter tido um pai ou um avô camponês. Tem toda a razão. Mas os filhos deles também morrem de vergonha por os pais não serem da nobreza


A maior parte dos títulos de nobreza em Portugal, além de ser recentes, foram comprados no tempo do Senhor Dom Luís e no tempo do Senhor Dom Carlos. Fazem parte da nobreza "engenheira"


Ter um apelido estrangeiro dá sempre jeito a um português. Fica catita, janota e é mais distinto do que por exemplo chamar-se da Cunha, mesmo que seja de um dos Cunhas antigos, os da Táboa



A razão porque há tantos Rodrigues, Gonçalves e Santos, além de Lopes, Silvas e Antunes, de facto devia ser considerada alarmante


A burguesia, tal como o cancro, nem por ser extirpada deixa de crescer


O panache só o tem as classes em extinção


O rosto do sucesso e da prosperidade encontra sempre o seu Bordalo e o seu Eça


Quem dita a moda nunca está na moda, está à frente


Só a nobreza dita a moda, as Fátimas Lopes clonam-na, os Yves St.Laurent refinam-na e os de La Rastére seguem sempre em frente


Não há nada de mais recente do que o passado, nada de mais arcaico do que o futuro


As pessoas que não sabem nada dos seus antepassados são tão irrelevantes como as que sabem todas as suas linhas até Adão


A moral de escravo pede grandes palácios para destruir, à moral pequeno-burguesa bastam-lhe praias já destruídas


a decadência das praias começou com o primeiro pique-nique junto das águas


O povo vai a banhos, a burguesia vai à praia, a pequeno-burguesia à piscina. Quanto à nobreza, essa vai para a montanha


É pena que os desertos ameaçem encher-se de gente e de rallies imbecis que não deixam ver os camelos


O automobilismo é um desporto cujo grau de idiotia é directamente proporcional ao ruído que faz


O sportsman não tem nada a ver com o desportista e por mais desodorizante que se lhe ponha a camisola suada cheira mal


Quando a lei da produtividade maximalizada chegou ao futebol começaram os jogos industriais, chatíssimos, parecidos ao baseball


A nobreza em Portugal criou o primeiro clube de futebol, o Sport Club de Belas, depois entregou-o à segunda linha de aristocratas, e isso deu o Sporting Clube de Portugal


A melhor maneira de ser Rei é ser um eterno pretendente ao trono


Ter ou não ter chá, eis a questão



Um rei pode viajar de metro sem ser reconhecido, um burguês não


Um verdadeiro nobre nunca se parece a outro nobre

2007-10-19

PAVOROSA ILUSÃO DA ETERNIDADE

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Temos a subida honra de publicar no Sísifo um manuscrito de Bocage - o verdadeiro Sísifo luso - fotocopiado na BN

2007-10-18

UM ECLIPSE DA MENTE


Ó minha formiga matinal
traz-me depressa, antes do café e das más notícias,
o prestativo veronal
antes de eu ler e ficar de Boca Torta
que mais uma autoestrada atravessa
a minha mente, e que um viaduto me corta
um diadema de papoulas e de canaviais e de sapos
traz-me, traz-me em bandeja de ouro
o verønal

ó minha formiga romana e altiva
que vens de sandálias roubadas
faz-me cócegas com as tuas patinhas
na arrasada floresta do crâneo
(assim mesmo: irreformado ortográfico)
apresenta-me de novo à Amazona da Pastilha Rennie

e diz-me, diz-me baixinho ao ouvido
que não há um eclipse da mente
que ainda não há um permanente eclipse da mente
em Portugal


MODERN LIFE

O dia traz ninhos de ratos para os telhados. Organizam-se por turnos para ir beber leite - leite verde, amarelo e vermelho dos semáforos. O Homem Rato que nos governa, sossegado, nessa altura folheia A sua folha de paranóias. Tem um Portugaloma a crescer-lhe no estômago.
Porém, do outro lado do bosque, a conspiração das musas continua. Flutuam docemente no ar, levam gárgulas pela trela, são ajudadas por toda a casta de papoulas. Pousam em Eros Polissémico, como sempre. Avisadas, as estrelas entram-lhes na fronte.

NÃO HÁ


não há povo para cantar
mas há moças de fina cintura
e olhos que trazem
mar

não há causas
não há futuros
mas há ainda
ninfas pelo arvoredo

e lugares de erva
e vento
onde os peitos se medem
num beijo

não há pátria
não há república
não há avós republicanos
mas há musas

e embora não haja
tusa para tanta musa
há prados há sóis
há luares e segredos

e há um país da pele
e uma doçura no ar
nos olhos e no ventre
e na mancha mais escura

A REBELIÃO DOS ÚLTIMOS NEURÓNIOS

Gostamos de mapear o cérebro. Ou de emplumá-lo. Ou de albergá-lo dentro de um capacete, chapéu, turbante ou forno alquímico.
A verdade é que nunca o deixamos em paz. Alguma vez alguém proclamou uma coisa deste género: sou a favor da paz cerberal? Nunca.
Gostamos de o manter agitado, inquieto, ebuliente, cada vez mais funcional e operacional. Havemos de pôr os seus 600 mil quadriliões de sextiliões de neurónios a trabalhar todos ao mesmo tempo. Como escravos.


Mas e?
E se grupos do cérebro declarassem a independência?
Se partes do cérebro recusassem a corrida de ratos que é a vida urbana actual e entrassem em curto-circuito criativo?

2007-10-17

TELEGRAMA (CURTO) DA SOCIEDADE DOS DANDIES DESENTERRADOS

EM TEMPOS ESCRAVOS em que o gosto da esmagadora plebe audio-visual - moldado pelos feitores e sargentos e engenheiros da opinião pública - é dominante, há um único dever aristocrático: cultivar a distância e o espírito de dandy.

O ANARQUISTA GENTLEMAN

Francisco Goya y Lucientes, Pintor, antes de rir dos outros sabia rir e ferozmente de si mesmo. Aqui o temos auto-caricaturado. Veja-se o lábio desdenhoso, os olhos semicerrados de quem se pôs à distância da humanidade e das coisas, o foulard enrolado ao pescoço, de forma carefully carefree, além do chapéu alto para guardar e transformar os fumos de vitriol que a comédia humana provoca num cérebro activo. É um chapéu forno alquímico.
Temos ainda que a patilha farta, à inglesa, e bigode e queixo rapados denotam o dandy, el señorito, em suma o elegante ácrido, de cara gelada para os outros. Antes de Oscar Wilde a recomendar como dever absoluto do dandy, Goya já cultivava a pose. E também cultiva a suprema ironia. Em relação a si mesmo. Leva-se o suficientemente a sério para não se levar a sério. Esta sua imagem, também faz parte dos famosos Caprichos de Goya (uma obra que anuncia Fellini e que também provem do Satiricon e de Rabelais). O que eu gostaria de saber é se a pintou antes, durante ou depois da genial série dos Caprichos.
Seja como fôr, não se poupou nem um átomo. Desanca em si mesmo com a mesma liberdade, fluidez e acutilância com que trata os seus frades e megeras, autarcas e bispos, reis e autoridades. O Anarquista Gentleman em todo o seu esplendor.

2007-10-16

DEVOTA PROFISSÃO

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Sabia que em Portugal
:

* O insulto gratuito é muito bem pago
* O ensino obrigatório é muitas vezes facultativo
* Os impostos pagam BMWs topo de gama para altos funcionários publicos
* Os funcionários públicos são obrigatoriamente disfuncionais
* Os autarcas são arcanos de autismo
* Os arquitectos detestam árvores
* O atum em lata é uma amostra da democracia e das funerárias
* O ar condicionado é parente da liberade condicionada
* Os chóferes de táxi tem mais feeling político do que os ministros
* O peixe congelado tem peso e poder político sobre as famílias
* Os anúncios de televisão são psicoterapia familiar



Não sabia ? então as recomendações do Sísifo são:

a) se não sabia, parabéns, vive de sonhos

b) se sabia e ainda está cá consulte um apoio de psicoterapia e vá fazendo as malas


Imagem: da série dos caprichos de Goya "Devota profesión", ou seja Devota Profissão: ser português.

2007-10-15



Dedicatória para uma fotografia de Charles Baudelaire (tomada por Nadar)
:


Aspiro ao supremo prazer de desaparecer, não por meio de um suicídio, coisa peganhenta e trivial, mas por meio da literatura, a única arte que permite o grau superior do anonimato no qual o criador se confunde com as criaturas criadas e assim se multiplica diante do tempo dilatado até se tornar eternidade.

O MONTE DAS TRANSFORMAÇÕES


Pelo menos uma vez na vida deve-se subir ao Monte das Transformações : não vem no mapa, o Luís Maio naõ sabe onde é, os alpinistas mais conhecidos não sabem onde fica.
O Paul Auster que esteve lá em cima esqueceu-se de tudo depois e, entrado em amnésia, fez um filme com imensos planos fixos sobre a Vida Interior dum Outro.

Só de olhos vendados nos beija a Musa?


O PODER DO ALFAIATE

O que pode um alfaiate? Muita coisa: endireitar costas tortas, disfarçar marrecas, equilibrar ombros, disfarçar barrigas, solenizar idiotas, fardar aquele género semicefálico de espinais medulas chamadas militares e académicos, dar ar de importância a nulidades, fardar com prestígio brutamontes e chamar-lhes polícias, etc. etc.
Um milagreiro, o alfaiate, o verdadeiro pilar da ordem social.

Goya nesta gravura evidenciou todo o poder que tem o alfaiate. Uma árvore está vestida de freira, com os braços histericamente devotos levantados ao céu. À sua roda (será um azinheira?) os primeiros fiéis hipnotizados pela roupa ajoelham e oram.

Enquanto as "revelações" dos chamados Três Pastorinhos, sobretudo a última são magras, pobres e com umas narrativas fracas e demasiado ambíguas, as revelações de Goya são claras e fortes : ele previu como a manipulação das almas passa por serem hipnotizadas pela roupa.


2007-10-11

NOVA MOEDA

Vou começar a cunhar a minha própria moeda e pô-la em circulação a devido tempo

Dado que não lhe vou chamar EURO (Estúpida Unidade Rompe Olhos)

Em vez desssa moeda federalista, maçónica, metediça e feiosa, a minha moeda vai ter um nome desunitário, divisivo, dodecaltista e desejante_

Minhas Senhoras e Meus Senhores (enquanto os Houver) Apresento-vos o

DRUMMÓNIO!

Em vez de pretender na vida ganhar 10.000 euros/mês - em começo de carreira

(um número flat com um toque enucleado-boring, que denota catastrofe sináptica à vista em breve)

que tal pretender ganhar: 675 Drummónios por semana?

Não aguarde pelas instruções a menos que já tenha sido sorvido para dentro do Euro-Vortex, a moeda do Insecto Colectivo!

2007-10-10

COCA-COLA ANAGRAMATIZADA

Partindo de COCA-COLA

COCO - CALA
(Psicanálise sumária: A COCA COLA cala o cócó)
(Interpretação cabalística: o COCO (a cabeça) fica calada

ALÔ COCCA

De facto a princípio a Coca-Cola tinha cocaína

CALO-COCA

( Cala a Coca. De fato calava a coca porque não dizia na fórmula que a continha)

CO CLOACA

(Conhecida como desentupidor bem por de ser considerada uma co-cloaca. Na actualidade vários ministros são co-cloacas do PM)

LOCA COCA

(Um bom slogan tipo anos porreirinho-sessenta, assenta bem para um pub de província "arejado" e modernícola)

COLO CACA

(o adoptado pela concorrência e pelos inimigos da Coca-Cola. Colar caca é a pior injúria que se pode fazer)

CA CAO COLO

(Cá Cão Colo? Sweet. Anda cá Farrusco salta-me ao colo. A Coca~cola subliminar apresenta~se como um cão que nos salta ao colo)

OCA LOCCA

(Para um estilo turbo-house, em que se pode alucinar ao som deste mantra até ficar completamente pifado e com ar de extático catatónico)

CACO CALO

( Cala o caco: silencia a mente. Bom para ansiosos, para gente com angst da interpetação, para massas em estado de revolta)

LOCA CACO

Mais um nome de pub no Sotavento, prometendo bifas fáceis e "locas".

CA ALCOOL

(Aqui há alcool. Mais publicidade subliminar enganadora)

COOL CALA

(Cala o cool, ou seja excita. Dá pedra no caco, tem cola)

LOL CO CAA

(Faz rir alto com os que estão cá. Bebida gregária)

PRÉMIO : Não se dá uma coca-cola a quem introduzir mais interpetações deste magno produto destinado a envenenar discretamente o mundo




Agora pode-se ler a COCA-COLA ANAGRAMATIZADA como um poema CONCRETO

COCO - CALA

ALÔ COCCA

CALO-COCA

CO CLOACA

LOCA COCA

COLO CACA

CA CAO COLO

OCA LOCCA

CACO CALO

LOCA CACO


Prémio Creative Anagramatism do Ano 2007 - já que ninguém mo dá invento-o e dou-me eu a Mim mesmo. Ich. Je. Moi. Drumas, sempre e grato ao vosso dispôr.

SUBIDA DE IMPOSTOS

Ao chegar a casa o banqueiro dirigia-se para o seu quarto deliciosamente forrado de quadros de Mestre, despia-se e com a ajuda de uma vergasta chicoteava-se até correr sangue. Limpava-se, desinfectava-se, depois vestia-se outra vez muito devagar, mandava entrar o pivot da TV e os cameramen e explicava que a subida dos impostos era um mal necessário.

MISSA DE REQUIEM POR UMA MOSCA

Como tinha dinheiro mandou rezar uma missa de Requiem por uma mosca. O orgão em tonalidade grave, os coros afinados, os sacerdotes paramentados excederam-se. A multidão dos fiéis estava emocionada. Um certo sentimento, comovido, de gratidão pela eternidade enchia os corações. Mas sem que ninguém o soubesse, dentro do imenso caixão de mogno, coberto com panejamentos de veludo, estava apenas uma mosca varejeira, um pouco esfomeada.

ELOGIO FÚNEBRE

Era uma pessoa mui teopática, respirava-se divindade junto dela. Depois de privar com ela chegava-se a casa com um aura dourada, envolvendo o corpo, e uma aureóla, tipo anjo de Boticelli, na cabeça. Pena é que não se pudessem trocar por bagaço, do bom, ou paz da antiga e eterna.

SOLIDÃO


nestes ermos onde não vejo ninguém durante dias a fio conheço face a face a solidão e gosto dela como a melhor companhia deste mundo e doutros

E discretamente vou desenvolvendo uma certa antropofobia sobretudo ao perceber que as conversas da maior parte das pessoas gira sobre dinheiro, ou o tempo que faz, ou sobre aquilo que gostam de mostrar que tem

e tudo isso não me interessa rigorosamente nada nem tem importância alguma, então volto para lugares onde não se ouça a voz humana, onde não haja presença humana alguma e assim misturo-me às pedras, oliveiras, insectos e pássaros e cães que passam ao longe


vejo-me vagamente como um deles, um ser entre o arbóreo e o animal, com umas unhas riscadas pelo luar, apenas um ser capaz de sol: ou seja, de estar sem pensar em nada com o sol dentro de mim nas mãos abertas

e assim passam eras por mim e sou transparente ao vento que também me atravessa e começo a respirar com toda a pele

toco num quase animismo de estar tudo vivo e idêntico e onde nenhum ser senciente tem alguma qualidade ou distinção

quem sabe se toquei no Grande Indiferenciado de que falam os Taoístas ou se pressenti um sopro de ser diferente e idêntico que me iguala à mesma condição de todas as coisas transitórias e gloriosas, anónimas e em soberania

os pássaros cantam-me



2007-10-09

COMO SOBREVIVER COM MEIA LATA DE ATUM E VINTE GATOS


DESENVOLVER CONSTRUCTIVENESS, seja lá o que fôr que isso queira dizer. E tirar um curso de funâmbulo para actuar só para o Vazio das praças. Pastar vento, roer pedaços de sombra das parreiras. Atravessar um vidro com um dedo.

Ler vários livros de apicultura chinesa, e com surpresa verificar que a parte mais kafkiana do corpo se enche de quitina. Não entrar em pânico ao constatar que o nosso estômago é um molusco bivalve sempre com o aparelho succionante de fora. Nem entrar em parafuso quando uma colecção de tetinas no cérebro entrechocalham com um som parecido ao de Por Quem os Sinos Dobram.

PORTUGAL TELEMÓVEIS E O RISO EM HI HI HO

Cada vez que vejo nomear um novo inspector da PJ penso que estou no México. O ar acetinado e farto do bigode, uma típica e atávica tristeza merencória no olhar, avisa-me que ali há México puro, além de complicações não resolvidas de infância, traumas milenários, uma frustração.

É que ser braço da Lei é muito parecido com ser fora-da~lei. No jogo dos polícias e ladrões, uns e outros, no fundo são indistinguíveis. Depois a dialética hegeliana faz com que o perseguidor e o perseguido se osmotizem, ou seja os contrários afinal são semelhantes. O polícia acaba por ter sempre uma parte de ladrão, tal como o ladrão acaba por ter uma parte de polícia.

Nos últimos tempos, em que fui sucessivamente detective de sofá, Maigret alentejano e o Repórter X ( morfei nesses personagens graças às minhas hormonas detectivescas activadas pelo caso Maddie) não pude deixar de pensar que aquela menininha (Paz para ela onde quer que esteja) tinha poderes com que o Paulo Coelho, o escrevinhante brazuca que fornece magia a todas as porteiras do mundo, nunca sonhou.

A menininha Maddie conseguiu pôr no olho da rua um senhor gordo de bigode, com ar de mexicano, e substituiu-o por um senhor magro, de bigode, com ar de mexicano.
Conseguiu com que finalmente toda a nação (excepto um milhão de alcóolicos, e 6 milhões de xanaxados, além dos terminais à paisana e os verdadeiros) visse o supremo chefe da PJ. É um senhor que fala em "hás". Há que ter reserva, há que ter contenção, um homem cheio de reservas e cuidados e ademanes precautórios. Só de ouvi-lo, e levá-lo a sério, fica~se com angústia garantida para uma semana (Andarei a falar demais no talho? Não me contive ao olhar para uma lata de atum no supermercado? O meu olhar para a taxa que sobe dos juros do meu crédito foi imprudente?) O director da PJ lembrou-me o director do meu colégio de religiosos, que também era homem de voz cuidadosa e angustiada, cheio de cuidados, de reservas e de contenções de linguagem. Pareceu-me a Encarnação do Luso Polichinelo Respeitável, o homem sigiloso, precato, prudentinho, contido, cheio de pontos nos ís, cheio de traços no Tê e também cheio até às bordas de Há-Quês, e não menos cheio de Notas, com a cabeça, gafada, em forma de Ponto Um, Ponto Dois, Ponto Três.

E aquelas roupas beige claro de menisco operado, de testemunha de Jeová rica! E a gravata! Atrás e ao fundo do Director da PJ, na sua primeira aparição aos Povos Celtíberos, estava a Enciclopédia Luso-Brasileira, que nunca me pareceu tão vigilante, com a capa tão negra e inflexível, contendo toda a Dura Lex Sed Lex.

Mas, adelante! Voltando à menininha Maddie - de facto, que poder! - ela conseguiu revelar ao mundo que a PJ portuguesa é composta por uma série de inspectores mexicanos. E que além dela ainda há cromos british para encher todas as BDs do planeta, tais como detectives ingleses reformados, com Máquinas de Descobrir Desparecidos.


DEUS DEPRESSÃO FREUD E XANAX


Quando Deus criou o homem todos os animais uivaram de medo, inclusivé as formigas.
Quando Freud inventou a Depressão, que substituiu Deus, todos os homens uivaram inclusivé os formigos.
Quando a Bayer ou a Boehringer criou o Xanax, que substituiu o Tintol e o Haxe e o Spide, todos os co-dependentes levantaram as mãos aos céus e....

... voltou a haver Sacramento, e voltou a haver Deus, que se encarnou como animal, e voltou a haver Homem que se encornou como Deus e voltou a haver Freud que morfou em pedo-psiquiatra.


Palavra do Senhor Drummond!

2007-10-08

AIRBE DRUAD

MÁQUINA PATAFÍSICA DRUIDA

AIRBE DRUAD

A mystical protective barrier ('druid's hedge') created round an army by a druid. It sometimes seems that a similar barrier protects the ancient wisdoms and understandings from ourselves.

PS- Retrato de Percy Bysshe Shelley, poet and gentleman

2007-10-07

POST NÁUTICO-NAVAL E FREUDIANO-MARÍTIMO



There was a Young Lady of Portugal,
Whose ideas were excessively nautical:
She climbed up a tree,
To examine the sea,
But declared she would never leave Portugal.


Lear nunca esteve em Portugal mas captou admiravelmente o lunatismo nacional e a hereditária e epidémica mania de cuscar que lhe é anexa. Assim pôs a Young Lady from Portugal, com um apêndice nasal incrível em plena prática da maior arte nacional, a Arte da Espreita. Porquê se espreita tanto em Portugal ? - umas das razões mais óbvias é que em primeiro lugar se espreita para poder imitar, só depois se espreita porque não há coragem do olhar de frente. Só podemos ver dissimuladamante, de forma lateral e escondida, senão esconsa e esdrúxula - aspecto psicológico que denota falta de assertividade. Embora sabote o falar directo, se é que existe, talvez seja excelente para uma fala oblíqua e mais alusiva, e mais apoiada na imaginação do que no visto.
Lear, com magistral intuição e imaginação, igualmente captou o paroquialismo de quem nunca quer deixar o seu poleiro. Com efeito, numa postura de aderência típica sobretudo das classes em ascenção social a
Young Lady of Portugal nunca mais quer sair do seu posto de observação.

Curiosamente, esta Young Lady of Portugal, que está no topo de um árvore à espreita, forma um contraponto inesperado e significativo com o gageiro da Nau Catrineta. Este gageiro adolescente obedece às ordens do capitão que lhe ordena "Acima, acima gageiro! Vê se vês terras de Espanha, areias de Portugal". Ambos estão no topo, um de um mastro, a outra de uma árvore.
Neste blog colocámos pela primeira vez na História da Literatura frente a frente o gageiro da Nau Catrineta com a Young Lady of Portugal. Há encontros que só mesmo no espaço do mito - mas fazem faísca, e desencadeiam depois a famosa angst literária, a angústia da interpretação. Ingrediente necessário para revolver as águas. Quantas partes de um escritor não se identificarão com o Ver Oblíquo da Young Lady, com o Ver Angustiado do gageiro. Flaubert que disse Madame Bovary c'est moi (e não se lhe conhece o mínimo penchant gay) se tivesse a felicidade (hmmmm...) de ser um escritor luso bem podia afirmar I am The Young Lady of Portugal, who Climbed up a tree.

Quanto ao resto, examinar, de uma forma excessivamente naútica, o mar, faz bastante falta. Nos últimos tempos só o temos visto de uma forma excessivamente praística. Tempo de alterar as praxis marítimas, parece-me. De subir absurdamente a um blog, por exemplo e tomar-se sempre por Outro, com o telescópio virado para o centro mais improvável de nós mesmos.

2007-10-05

SCHIZO IMPERATIVES TO MY SHADE (Interview)



Are you an artist or an autist?
Am An aurtist, I guess.
I Mean are you an autistic artist?
Dunno. In any case I'm not an artistic artist.
What d'ya think about Orks-
Orks? O my are they related to Poons?
What da hell?
Orks and Poons...
D' you write in the tube?
Never take the tube, neither, and more important, allow the tube to take me.
D'you write in your bathroom?
Uuuh? I have a very plain bathroom. It´s so plain that I only go there to get a bath
There is a thin line between_
A Thin Lion?
Are you Schizo?
Are you Ozihcs?
Who the hell is that_
The guy in reverse of Schizo, the backwards Schizo. Ozihcs, you know?
Ah ! Right. Ozihcs. Ha! Are you him?
Yes I am everybody I see . Fortunatetly I don´t see everybody-

** ORKS - Ordinary Regular Kinetic Sityzen, or Unforked Guy


Image, Amedé de Savoie, Dux.

HAM! BURGUER


Os franceses escrevem Poutine para dizer Putine, doutra forma soaria putinha. E nós que dizemos Amburguer, e atiramos o H aspirado de hamburger à valeta mantemos o Putin em estado puro. Claro que Putin em português é matéria prima para mil e um trocadilhos, que a Razão de Estado não previu, e que os Véus do Estado não conseguem esconder. Entre nós, sem ser ao Sétimo Dia, um Putim novo nasceu, sem o púdico "ou" gaulês e assim o supremo homem das Rússias, que tem um misto de cára de poker e cara de anjo vegetariano, o ex-KGB, não escapa à chalaça tão nossa, e diga-se tão necessária diante de gente que face ao contraditório diz "eu fico atónito" ou "eu fico estupefacto" como o Eduardo de Sá Veludo. (recentemente esteve em veludo ao vivo no Prós e Contras. ) Entre nós o Putin é putinha à partida e nunca mais, nem à lei da bala, poderá provar o contrário.

Mas voltemos à vaca fria e comecemos para emigrar para essa palavra tão omnipresente como Putine, tão global como o futebol e o telemóvel. Notemos ainda, antes de virarmos de bordo, que Poutine rima com terrine, e não com trottoir. Por outro lado, amburguer traz dentro e atrás de si, para o ouvido fino e atento à compressão de significados, uma declaração de princípios.


Am (sou) burguer = Sou burguês.

De facto, é dificil imaginar comida mais burguesa do que um amburguer: tudo nele tende para o redondo, o indiferenciado. O pão redondo do amburguer não requer força na maxila, é mole. É o contrário de pão duro em casa de pobreta ou forreta. O bife do amburguer vem todo picado. Pode-se comer a dormir, pode-se comer com distracção, não tem nada de rijo. Pao mole e bife mole fundem-se na mesma argamassa da mesma ordem social. É inócuo, sem deixar de ser imperativo. Reproduz a máxima discrição. A discretíssima classe da burguesia tem aqui a comida mais discreta para o dente que se pode imaginar. Resguarda o precato e contido silêncio que distingue o burguês do proleta e do animal ao comer, garante silenciosidade e não se trabalha a comer. Com o amburguer, de facto os dentes não tem trabalho quase nenhum. No fundo, bem considerada a sua forma e consistência trata-se de uma Hóstia-Papa, come-se sem esforço, escorrega já feito bolo alimentar pelo esófago abaixo. Chega em rolamentos ao estômago onde não dá trabalho e mais tarde, passados aqueles metros todos de intestino grosso e delgado, é expelido plácida e práticamente na mesma forma em que entrou, salvo alguns detalhes na cor e no cheiro.

2007-10-03

SANTA STAR E FUFA


Santa Star e Fufa é a Referenda Europeia

ao contrário dos jornalistas que escrevem para informar, coisa que não sei ao certo o que seja, só escrevo para quem escreve, porque só leio os que lêem

o cérebro é vermelho nos iluminados e nos bêbedos, e o sangue tem linhas de continuidade nas árvores e nas falésias

um monolito humano com tecnologia é infinitamente reprodutível

na estupidez há um espessura inultrapassável, vedante e estanque como o plástico

temos dois esqueletos, um surreal e outro que nos persegue, um literário e outro amigo dos vermes - ou serão ambos

endeusemo-nos uns aos outros mas façamos de mim um deus maior, ou pelo menos um sumo sacerdote é o que diz o homem de olhos fechados ao cego voluntário

um cientista é uma nebulosa precisa, um ignorante um nevoeiro sólido

O LEITOR DE BLOGS


o leitor de blogs não procura o óbvio nem a notícia digerida: quer o incorrigível

a morte é uma nudez

todos os mortos nos pertencem

a quantidade de moscas deste Outono traz verdades gregas desiguais

em parte somos deuses amnésicos, em parte animais sem mito

há um certa energia no lacønismo que nos traz a consciência que somos efêmeros

os especialistas de sofrimento procuram a felicidade a qualquer preço

o mundo não me preocupa, preocupa-me a falta de mundo

o meu estado de espírito não depende de todo da economia

a minha corrente de consciência é só minha, por isso toca no universal

a honra sobretudo em tempos de vileza tem uma força própria


GANG WARILY!
(divisa dos Drumonds)


Imagem de Fredegonde, Rainha e Maga

2007-10-02

SONETO COCA-COLA DOS AMARICANOS




os americanos eram amocados
os almerdicanos não eram amoçados
eram as moças armoricanas?
as amerbicadas não eram moças

então quem era almoçomicano?
os américos são americanos
e os amaricanos são feéricos
os almoçobicanos são os tremoços

que são os moços das amerbijecas
por isso te moco na bicicleta
e te digo que os amariquenhos

não são como os afribacanos
nem estes como os republicanos
que só publicam o que já republicaram

O UNICÓRNIO DE TODAS AS DAMAS


O unicórnio de todas as damas
não é có corno e pata, bicho rijo
e doce, a todas as carícias disposto,
é também ente alado e osmótico

capaz de Verbena e perdigoto,
e ora sáfico ora platónico
tem oratório mui peculiar
não só entre o arvoredo mas

também entre-pernedo, e
a todas Santas e menos precatas,
sem alarido, as leva à Cantata

ou ao uivo de loba e de fêmea
perdida encontrada alta na doce
e confusa montanha da cama

CASA TRADICIONAL DE LAVRADOR da ILHA DA MADEIRA


20070915-vs-8793, originally uploaded by Made in Madeira.

Modernizar quando se chegou à perfeiçâo?

CONTRA A TIRANIA DA FRUTA CONGELADA!


20070915-vs-8784, originally uploaded by Made in Madeira.

Os cadáveres de fruta congelada, sem sabor, embora lustrosa, que se vêem abatidos massivamente nesses verdadeiros campos de concentração chamados Supermercados, não passam de uma coisa epiléptica e desenxabida chamada Fruta Industrial. Ou seja aquela que, literalmente e em todos os sentidos, perdeu a Chama, a Graça, o Conhecimento, a Sensualidade e é membro do Mundo Plástico onde há pedo-psiquiatras de Carranca e Psicólogos Infantis de veludo (e onde todos se comem uns aos outros). Mas apesar de tudo o Paraíso resiste (é coisa Interior depois da Albedo e da Rubedo) e envia-nos maçãs certeiras como flechas no coração da Insanidade. Como estas da Ilha da Madeira.

O CONVITE VERDE


20070518-vs-2984, originally uploaded by Made in Madeira.

Viver no campo, junto das fontes, das levadas ou em qualquer sítio onde ainda corre água, e não trânsito, tem destas coisas sobretudo no início do Outono: surpresa verde garantida. Aqui a elegante e misteriosa Avenca (Addiantum Radianum) muito bem enquadrada por um fotógrafo madeirense com sentido de cor e composição convida-nos a entrar no verdadeiro mundo, o que se renova sempre sem alarido e não é invasivo nem proclamatório, e que está sempre disposto a envolver-nos de Graça como se faz a um deus.

2007-10-01

EM LOUVOR DE SÍSIFO PRISIONEIRO DA LIBERDADE


Sobre caricas, também carantonhas,
além de gárgulas e gurunsans
rola o meu Sísifo, de veludo
esfarrapado vestido,
com os anéis de armas às tiras
e os pendões feitos velas de moinho.
Blasfema, esperneia, rola bosta,
mete a vara na Estrumeira-
Tudo é Estrume e Mosca?
Neste País de Varejeiras,
a Montanha a que Sísifo sobe
não é de Rocha, é de Merda!
Chorai Sadinas e Tágides,
e Douríneas e Flávias,
e vós também doces Natércias,
Por este vosso vate enfrascado,
em garrafas mil acidentado,
com um Cérebro todo Picado
de Verme, de verruma, de bruteza.
Mas apesar de tudo este Sísifo
vosso, sacode a porkêra
E por vezes um Vento Fresco
Lhe Lava a Alma com um
Sopro de Mistérios
e de encantos. Por isso bem
vale a pena rolar a pedra
penada e deixar-vos a vós
o puro canto, a Voz, a Onda,
a viva maravilha da mocidade
!


cada vez mais os bébés nascem republicanos e barbudos preparados para entrar nas 360 novas Creches que o Governo lhes preparou para poder ver televisão 48 horas por dia

a minha cultura
de
não zen

trezentas freiras
caiem
na papoula

não preciso
de Buda






Os extraterrestres sorriam

deliciados

o planeta não tinha
tecnologia alguma

podiam esquecer
a deles

por fim
tornar-se
erva

e
água, água, água livre



Imagem: Marie, Comtesse de Champagne, poète et alienigen
e