PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力
LES PRIVILÉGES DE SISYPHE - SISYPHUS'PRIVILEGES - LOS PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO - 風想像力 CONTRA CONTRE AGAINST MODERNISM Gegen Modernität CONTRA LA MODERNITÁ E FALSO CAVIARE SAIAM DA AUTOESTRADA FLY WITH WHOMEVER YOU CAN SORTEZ DE LA QUEUE Contra Tudo : De la Musique Avant Toute Chose: le Retour de la Poèsie comme Seule Connaissance ou La Solitude Extréme du Dandy Ibérique - Ensaios de uma Altermodernidade すべてに対して
Contribuidores
2007-07-30
URIZEN
Which one of these is true?
1 -Urizen opens the Book of Blogs and finds out that Miguel Drummond´s brain was all composed of hierogliphs.
2- Right now Urizen is reading your mind.
3 - Old guy showing off some hocus-pocus
4 - A Portuguese Leftist reading his speech at the House of Representatives
5 - Just one more Poet presenting his latest book to his Publisher
6 - The man behind all William Shapekespeare's plays.
A propósito do caso Charrua afirma um alto dirigente do Partido Bufialista:
Comportamento cívico...reprovável...condenar...publicamente:
linguagem de padreca que reclama a instauração dos autos-da-fé do partido Bufialista.
NOTA. Imagem: um Felisberto. Neste blog atribuem-se Felisbertos às declarações mais espantosas de dirigentes políticos.
2007-07-28
AUTOESTRADAS NAS BERLENGAS
Nós, quando pudermos, vamos fazer copy paste para colar mais umas quantas autoestradas nas Berlengas. O primeiro ministro, entusiasmado, depois discursará para uns quantos figurantes infanto-senis pagos a 30 euros, vendo nisso um claro sinal de modernidade, mais uma rampa de lançamento para o "desenvolvimento do país."
Já mais gente de países desenvolvidos percebeu que o excesso de auto-estradas, o chamdo freenesi auto-estradista, é profundamente nefasto e nada moderno:
Internationale contre les autoroutes Le concept de « chaînon manquant » appliqué au transport routier a encore de beaux jours devant lui. Les projets routiers et autoroutiers sont légion. Ceci en Belgique, bien évidemment (Malte lui ayant ravi le titre de pays européen avec la plus forte densité d’infrastructures routières, notre pays royaume semble déterminé à tout faire pour reconquérir son titre). Mais, plus largement, partout dans le monde. Le Ministre des Transports chinois se félicitait en 2001 du fait que la Chine avait mis « dix ans seulement pour établir un réseau routier semblable à celui que les pays développés ont mis quarante ans à construire ». Ce qui ne l’empêchait pas de souligner que ce réseau de 19.000 km était encore insuffisant et que 82.000 km supplémentaires seraient construits d’ici 2030. Dans nos contrées, la période où ces chiffres soulevaient l’enthousiasme populaire est bien heureusement révolue. La mobilisation citoyenne est importante face à ces projets néfastes ignorant superbement des broutilles telles que la déplétion du pétrole ou les changements climatiques. Des exemples concrets de mobilisation, des conseils pratiques, des considération plus théoriques sont mises à disposition sur les sites de différentes associations. Voici, à cet effet, quelques liens intéressants (liste bien évidemment non exhaustive). Le Collectif contre les nuisances routières (http://pollution.nord.free.fr) lutte, dans le nord de la France, contre le projet A24. Le Comité contre la frénésie autoroutière (http://assoc.wanadoo.fr/c.c.f.a/) offre notamment, via sa rubrique « sachez vous défendre », des conseils basés sur une longue expérience. Longue expérience aussi pour Non à la deuxième autoroute, en Lozère (http://lozere-online.com/rn88/). De même que pour Initiative des Alpes en Suisse (http://initiative-des-alpes.ch/f/). La fédération européenne Initiative Transport Europe (http://ite-euro.com/fr) souligne avec justesse que, dans les régions montagneuses, « les camions passent, les glaciers trépassent ». Enfin, pour ceux qui pratiquent l‘anglais, une mine d’information sur le site de Transport 2000 : http://www.transport2000.org.uk/. Que cela ne vous fasse pas oublier nos actions en RW basées sur un argumentaire solide publié dans notre dossier “Nouvelles infrastructures routières et développement durable : l’impossible mariage” (voir pièce jointe) Illustration : Jean-François Vallée
6 mars 2006 par Pierre Courbe
2007-07-27
DRUMMONDAFORISMOS
O golficídio é a maneira portuguesa contemporânea de suicidar boas pastagens.
Hoje em dia viaja-se de um parking para outro, sempre entre filas de carros e a isso chama-se progresso e desenvolvimento.
Há gente que mesmo depois de ter atingido a maioridade ainda não conseguiu nascer.
Por mais que a tecnologia e a publicidade nos queiram levar à Lua a verdade é que estaremos sempre diante da terra.
Há tão poucos homens de realmente má vontade como os há de boa. Quase todos ficam-se a meio.
Há um género frequente de homem que é tão esquecido que se esqueceu de morrer.
Muito do que amo está a ser destruído por gente que nunca leu uma linha de Camões, nem faz ideia de quem foi Sen no Ryikiu.
Tenho a convicção profunda de que os subúrbios deviam ser substituídos por ilhas.
Desde o passado que os futuristas estão sempre em guerra com o passado.
Uma democracia admirável seria a que transformasse cada homem num homem nobre e não num homem comum.
O maior inimigo das comunidades é o homem comum, trivializa-as ou destrói-as.
Um homem vulgar torna os seus arredores vulgares.
Eu estou mais interessado em perceber porque é que Portugal falhou, não em porque é que deve ter sucesso.
Quando corrermos com o último polícia aparecerá sempre o último psiquiatra, que renovará a polícia.
Agora que a família tradicional está moribunda temos milhares de primos.
O socialismo em Portugal tornou-se respeitável, devia dar-se-lhe o título de baronesa.
A sociedade moderna tem uma grande falta de gárgulas em pedra, e uma abundância extrema delas em carne e osso.
A cara de uma pessoa famosa por verdade a mais, realidade a mais, tem sempre qualquer coisa de postiço e de expectante.
Uma pessoa famosa teme tanto ser reconhecida como não sê-lo.
As minorias acham normal que as maiorias votem nelas.
As eleições e as derrotas são sempre escandalosas para quem as perde.
O futuro deixou de ser o que era.
Ninguém a não ser um doido vive para o futuro, mas há sempre doidos em número suficiente para nos pôr a ter expectativas sobre o futuro.
O socialismo condena o homem ao futuro.
Os sms não destroem a língua, tornam-na mais ossuda.
O telemóvel substitui a telepatia com evidentes vantagens, mas quem disse que a telepatia era coisa boa?
Por cada pessoa fisicamente perfeita nascem milhões de feiosos.
O narcisismo assassina mais espíritos do que a coca.
Dois tipos de pessoas prosperam durante os períodos de decadência; os moralistas e os businessmen do entertainement.
Os mass media garantem que a estupidez seja uniforme e irmãmente distribuída. Garantem a boa saúde da estupidez.
Uma mulher que trabalha numa fábrica é como um homem que faz crochet.
Imagine-se uma sociedade sem mass media e sem coca-cola.
O automóveis e certos políticos mesmo depois de mortos são perigosos.
Os vegetarianos não escrevem obras primas, porque lhes falta ferro e sangue.
Quando um leão comer miso, e um abutre reclamar iogurte é porque a democracia e a publicidade triunfaram, e o mundo todo se transformou num imenso anúncio.
Há escritores abutre que deliram em refocilar no cadáver ainda quente da nossa sociedade. Mas seria injusto proclamar as virtudes dos escritores gazela. E temerário gabar os escritores borboleta. Por isso o melhor é ir à pesca.
Vi este epitáfio: Nunca Li Luís (Agustina).
As cidades modernas são horríveis porque não são suficientemente cidades. Misto de escritório, de fábrica e campo de concentração sofrem de indefinição sexual, de deriva sexual, como os indecisos, os ambivalentes e os hesitantes.
Em Portugal pensa-se que os moribundos tem sempre razão.
Os franceses julgam sempre que são capazes de desenvolver os outros países.
Eu falo de envolvimento, não me interessa o desenvolvimento.
Um conferencista que não suporte falar para uma sala às moscas, não só não sabe falar as moscas como às pessoas.
Quando as missas eram populares nem por isso Deus existia mais na terra.
Nem o socialismo nem o capitalismo tem sexo mas há mais de um século que se tem reproduzido um à custa do outro.
Em Portugal o socialismo acende duas velas ao capitalismo e uma ao diabo.
Um pouco por todo mundo os maçons tem todos um ar pouco iniciado
2007-07-26
- Os portugueses antes de dizer mal vestem uma armadura medieval e untam as mãos na sanita. Depois sobem para uma muralha onde fazem imenso barulho.
Fazer imenso barulho, a muitas pessoas parece uma quantidade de acção.
Gostei sempre de estar na periferia das coisas, na periferia da aristocracia e dos artistas, dos proletas e dos vagabundos - e tornei-me um combinado de seres periféricos. Servir com salada.
Aqueles que querem transformar o mundo esquecem-se sempre de transformar-se a si mesmos. É esso o problema crucial de todos os nossos primeiros ministros.
Segundo os jornais só há duas classes de países: os pobres e os ricos. Mas é nos países pobres que se come muito melhor e que as praias são autênticas.
Uma maturidade que não está toda furada por gargalhadas é pouco sólida.
Estamos a construir um país com as coisas a que não achamos sentido nos supermercados.
Dada a quantidade de ministros tolos é inevitável inferir que só os tolos querem ser ministros.
- Durante os meus anos nas guerras coloniais nunca ouvi um moribundo a abençoar
- o nome de Salazar ou a chamar por ele.
Eu acho que a sabedoria espontânea nunca se afoga numa garrafa de Coca-Cola.
Eis o que penso do petróleo: estamos a queimá-lo todo porque o odiamos.
O poema que não é como um navio de piratas ou leva turistas ou mercadoria.
Uma nuvem é água demissionária em estado de graça.
2007-07-25
NEC SPE NEC METU
Não há velhas florestas nas cidades
por onde avançamos; nem vestígios delas.
As copas que tocaram nas estrelas
talvez, agora imateriais, roçem a fronte
dos que apesar de tudo no meio da passadeira
de peões, como um herói de Italo Calvino,
se elevam no ar e desparecem,
entre o bramido do neón e os fumos
bárbaros e primitivos dos escapes.
Não mais o uivo dos lobos e o chirrido
do grilo, perturbam os obedientes autómatos.
Cada telemóvel de cabelos brancos
inclui em si o seu túmulo e o seu epitáfio;
a floresta digital cresce a cada passo,
os evasivos rostos da era parecem-se todos
uns com os outros, chegámos a era
da multiplicidade unitária.
Que fizemos do corvo renitente,
da rosa divergente? Da seara aos tiros
num quadro de Van Gogh?
A arte ofende o Estado e o tecnocrata,
a poesia em todo o lado exilada,
cede o lugar às obras do burocrata;
prédios de vidro, parkings, semáforos,
e códigos de barras formam uma quadrícula despótica.
Chegou o tempo dos homens umbilicados
à tralha electrónica. Posto isto, entretanto,
atravessemos levemente a noite totalitária.
MAIS NOVAS DO SAGAMARO
tirou da cartola
o coelho ibérico;
fedia tanto
que lhe deram na carola
com uma santola
e a mulher do mago
a bruzzxa Ogamaras
disse-lhe Ó Zé!
ca ganda pé
que me saíste;
o coelho fede
e tu não me dás fod...
tens mas é que
voltar à escola!
e tendo isto dito
meteu-o numa sacola
onde rebola
Mas muito e confuso
tuga, que aos Nóbeis
se faz autocolante,
diz : íbero e luso
parece importante!
e logo ao corno cola
o fétido coelho
por isso fede a espanha
e fede a portugalo,
porque há muito tuga
papagaio e aflalo
que no corno ostenta
o fétido animalo;
mas fod...s ,nem vê-las!
que o pivete é tanto
que nem no supermercado
dá descanto
Copyright: Miguel Drummond de Castro, Vate Mortal.
Pode copiar, decorar, declamar, distribuir, vociferar, desde que cite o autor e a fonte: Privilégios de Sísifo, o blog onde o vitriol se renova diariamente.
2007-07-24
QUESTÃO DE MÉTODO
Esta ainda põe umas quantas patitas de fora, a espatear com alvoroço. Mas não lhes dou marihuana, néps. Nem lhe envernizo a unhaca. Deixo-as cair sobre o vizinho. Os vizinhos são horríveis. Deveis detestar os vossos vizinhos. O som das patitas de aranha zaramaga a cair sobre o vizinho dão um alívio imenso: menos um espanhol. Só tenho pena de não ter vizinhos ministros, e de lhes atirar com amarelo baratoso confundido com o cérebro do zazamago, que a esta hora está a ciciar porque lhe cravei uma bandeira negra com duas tíbias cruzadas sobre o seu telhado de Lanzarote. Ha! Para saramago e meio, um Abremerlim e um sacamagos fazem bons serviços, e depois há a loira andaluza comprada a peso de oiro pelo casal zazamagus e que eu levo para os campos magnólicos nesta horinha mesmo.
MITOLOGIA LUSA
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o deus dos portugueses é um trafulha meio ladino meio fenício mete água porque vai aos esses cheio de vinho até às bordas e escoiceia não na primeira página mas na seguinte onde mostra que tem cabeça de peixe corpo de asno e mora dentro de um livro que nunca leu porque esqueceu a leitura tem uma tia chamada Ibéria que o zurze regularmente antes de o enrabar numa casa pia cor de rosa e cor de enxofre donde entram e saiem ministros montados nos seus cavalos de vidro fosco o gesto mais simples que faz é o manguito e aprendeu a uivar com os anúncios luminosos | |
CARTA ABERTA AO SARAMICO SARAMUGO SARAMAGO
Acha mesmo que os Espanhas querem um segundo país basco? Porque no momento em que Portugal for integrado na Espanha garanto-lhe que passará a haver fabrico de bombas artesanais por todo lado. Nós ainda somos bons em armadilhas. Ainda há corpos de veteranos das guerras do Ultramar. Seu sarameco fume, beba, enrole um charro, tome mezcal mas por favor não se meta a pater-familias do iberismo, que ainda arranja uma encrenca da grossa.
É que pode tirar isso das meninges, a Espanha nunca vai mandar em Portugal. Preferimos um péssimo governante nacional, um autocratita como o Sócrates, ao melhor génio político das Espanhas. Preferimos estragar-nos e afundar-nos e arruinar-nos por nossa conta a ser salvos por um espanhol, fosse ele Jesus Cristo, o verdadeiro e não o seu, em pessoa.
Seu sarameco, mas por onde é que tem andado? É que de repente estamos a ficar com vontade de invadir Lanzarote e erguer o pavilhão azul e branco no telhado da sua casa, eo vermelho e rubro também, além da bandeira pirata, enquanto o vendemos a si, saramujo, a uns chins ou a uns árabes, para ver se eles lhe aproveitam ainda um sebo. Não estudou um pouco que seja a nossa história? Quer com uma penada globalista derrotar todas as batalhas que ganhámos aos Espanhóis para continuarmos a ser uma unidade nacional, definida, cristalina, com sabor à nossa língua de sangue e mel, de pedra e de mar?
Não o sabia, mas seu saramico, você está-me a tornar num nacionalista assanhado. É que nem sonhe nem mais um minuto: o senhor vai ser defenestrado, e onde lhe dói mais: no papel.
2007-07-22
"All that is popular is wrong"
Oscar Wilde
Decorre a banalidade mais temível de Portugal: o Verão. As autoestradas vomitam hordas de veraneantes nas praias. Uma seita chamada "motards" sob o aplauso das autoridades e a benção da Sagres tem o seu convénio mensal ao Sul e enfrasca-se com cerveja ao som de Metálica. A TV com carinho e benevolência apadrinha timidamente o evento, e dá-nos imagens de motards de terceira idade em "conbebência" proletária, de garrafa de Sagres na mão, com outros doutras idades. Adivinha-se um perfil físico dos motards - além dos inevitáveis fardamentos de coiros e tatuagens, cabelos sujos - elas e eles são gordos. Pudera, não andam a pé. Desfilam pelas ruas de Faro. A multidão eterna ingénua gosta. "Eu cá gosto de motas" diz uma sexagenária desvanecida.
Os ingleses entretanto também chegam em hordas, ansiosos por cerveja barata. e facultada a qualquer hora. Um Baco, degradado, popularucho reina um pouco por todo o lado. A evasiva e laxa moral das férias dá para uns engates. Aliás o serial-engate, no Verão é de rigor. Depois esquece-se. Comamo-nos uns aos outros sob estes céus clementes do Sul. Somos receptivos, promíscuos, tolerantes. Os portugueses, por imitação passarão a dar o cu e mais uns euros se esses forem os ventos da moda. Por moda, só para ser como os outros, faremos tudo. Quanto mais imitamos, mais somos - tal é o paradoxo de base da actual nacionalidade lusitana.
2007-07-21
IMPERATIVOS
Deve-se dizer tomates em vez de cápsula
Deve-se dizer caminho em vez de estrada
Deve-se dizer cloreto em vez de anúncio
Deve-se dizer vala comum em vez de televisão
Deve-se dizer faca em vez de voto
Deve-se dizer bandeira negra em vez de maternidade
Deve-se dizer veneno em vez de causa
Deve-se dizer música em vez de morte
Deve-se dizer galinha em vez de discurso
Deve-se dizer maca em vez de banco
Deve-se dizer merda em vez de mercado
Deve-se dizer porra em vez de euro
Deve-se dizer vida em vez de vencimento
Deve-se dizer rio em vez de recuperação económica
Deve-se dizer opiário em vez de operário
Deve-se dizer tudo de novo sempre
Imagem: poetas iraquianos lendo poemas numa rua de Bagdad
SUR LE TEXTE BRUT
Moi je pense que: Tout le monde n'est pas peintre. Peindre, ce ne n'est pas du tout comme marcher ou parler. Ce n'est même pas comme réspirer. L'être humain trouve très peu naturel de crayonner sur n'importe quell surface qui s'offfre à sa main. Pourquoi? parce que très peu de surfaces aiment s'offrir à l'être humain. La surface des eaux, par exemple, adore engloutir et dévorer des êtres humains. La surface des nuages adore faire tomber les êtres humains qui s'y posent. Peindre n'est pas barbouiller, et barbouiller ce n'est pas un barbecue.
Les barbiers barbouillent, les pompiers aussi. Les barbouilleurs sont ceux qui bouillent dans les bars. Dubuffet globalisait comme un socialiste.
Dubuffet était tort et travers aussi. If ne simplifiait pas, il disait des simplismes, pense Miguel Drummond de Castro.
DA IMITAÇÃO EM PORTUGAL
Quando abre uma loja disto ou daquilo, abrem logo outras cinco na mesma rua.
O mesmo se passa com os Centros Comerciais.
Com a caligrafia e com os penteados acontece a mesma coisa. Basta uma rapariga bonita ter letra redonda para existirem cem mil como ela.
As mulheres não toleram não imitar o que lhes pareceu sublime noutra.
Nem os políticos.
O problema de Portugal é que somos um país de imitadores júnior e senior. Mesmo ao morrer um português imita o estilo de morte de um outro.
A poesia portuguesa é muito aborrecida de ler porque há um só poeta e dez mil epígonos.
Mas quem leva a palma na imitação são os empreiteiros: estes tem a arte de copiar o que há de pior em qualquer outro empreiteiro.
Qualquer futebolista entrevistado é sempre o Ricardo.
Os filmes portugueses são quase todos feitos ou no Iémen ou no Castelo dos Cárpatos.
O êxito da música popular portuguesa é directamente proporcional ao excesso de acumulação de cera no ouvido.
A razão porque há tantos festivais de música em Portugal é porque a razão dos festivais de música é muito pouca e porque o inglês é uma língua fácil de imitar.
Um povo iletrado acaba sempre por preferir o abrelata e o idólatra. Um para abrir o outro.
Ter muitos campos de golfe é a forma que escolhemos de parecer ingleses.
Na cama as portuguesas tem todas o mesmo ai. E pelo que me dizem todos os homens usam os mesmos palavrões. Logo, não há nada que se imite mais do que o fazer amor.
Os discursos do Sócrates são mais curtos e indignados, e muito menos literários do que os do Salazar. Mas ambos imitavam dirigir-se à mesma entidade platónica: o povo.
O humor português não é um humor de situações nem de quid pro quos, nem sequer cultiva o nonsense. É um humor de tipo imitativo. Um burro a imitar um papagaio, acha-se graça.
O estado de felicidade em Portugal só existe nos estádios: a multidão imita estar em delírio, e por uns instantes consegue-o. Mas há delírios que são de insecto.
Há gente que desmaia de felicidade diante de um carro novo ou de um prédio do Siza. Faz-se o que se pode na imitação da felcidiade.
As mulheres que imitam o orgasmo também imitam muito bem a felicidade.
Os políticos nunca se dão conta que imitam muito mal o palhaço sério e o padre.
Os padres que imitam a virtude exalam ranço.
Os pintores que imitam sites-specifics são muito pouco específicos.
Todos os críticos imitam o Pinharanda e este imita todos os críticos.
O futebol português desde o dia de nascença imita um team campeão mundial.
Claro que a imitação provem da intuição difusa da própria menoridade e infantilismo.
Cada português em geral é filho de duas mães, a propriamente dita e o pai que imita a mãe dele.
As nossas imitações de família dão incestos, mas não romances.
Durante uns dez anos seguidos todos imitaram o Miguel Esteves Cardoso, agora só ele imita o Miguel Esteves Cardoso além de imitar todos os outros.
A coisa é por fases. Não se pode imitar toda a vida a mesma pessoa. Por isso varia-se a imitação na esperança que o imitador aceda ao zénite.
As novas meninas que escrevem no Público escrevem da mesma maneira, mesmo quando são do sexo masculino.
Há que anos que o Saramago imita ser comunista, tudo o que conseguiu foi imitar ser um iberista.
Um homem com muitos vícios imita sempre a virtude do mesmo modo que a Polícia imita a Lei.
A velocidade com que os gays imitam os tiques dos outros só é compensada pela velocidade com que se traem uns aos outros.
Os espectadores de futebol estão sempre a imitar outros espectadores de futebol.
Na religião católica o papa imita a voz de Deus, na luterana esse papel cabe à consciência.
Também igualmente divertido é ver um ateu a imitar a racionalidade.
Os candidatos à Câmara com um insucesso clamoroso imitaram a razoabilidade.
A escritora Agustina Bessa Luís sempre imitou os Oráculos e as Sibilas mas teve mais êxito no género DJ do Norte.
A imitação do entusiasmo é pouco apaixonante e a do cinismo cansativa, por isso aos políticos resta a imitação da modernidade.
VERÃO
agora a curva da duna está cheia de automóveis
os plásticos da era rolam pelo chão
e seguem dentro da cabeça
do que eram pessoas
naquela praia de areia em concha
uma última árvore faz de mim no vento
e assim conhecemos os sinais da espuma
que quebra as rochas sem um só lamento
e como sempre, de pé, aguardo os deuses
que desenham um país para lá da noite longa
do asfalto, do cimento e das escadarias
prostituídas pelos campos de golf
e é por isso que encostando o ouvido
à linha do horizonte
ouço o rugido dos golfinhos
à espera do armamento pesado das gaivotas
2007-07-18
2007-07-17
É necessário estar sempre bêbedo. Tudo está aí: é a única questão. Para não se sentir o horrível fardo do Tempo que quebranta os vossos ombros e vos curva em direcção à terra, deveis embebedar-vos sem trégua. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiserdes. Mas embebedai-vos.
Charles Baudelaire, in Pequenos Poemas em Prosa
A primeira vez que vi esta versão traduzida em português, incluída nos Paraísos Artificiais, a tradução era do Saramago.
Traduziu o "il faut être toujours ivre" por "é preciso estar sempre embriagado." Desde então queria fazer um ajuste de contas com essa tradução. Claro que "s'enivrer" também se pode traduzir por embriagar-se. Mas em português só depois de ler Júlio Dantas alguém dirá "vou-me embriagar. "
Em italiano faria sentido, faz parte da linguagem popular camponesa e urbana. O bêbedo é o "briacho". Mas em Portugal só num chá de professoras tugas púdicas se dirá de alguém que "estava embriagado." Soa também a padre literário o "embriagai-vos!"
Por tudo isto parece-me evidente que a tradução mais justa do il faut être toujours ivre será "é preciso estar sempre bêbedo."
Dyonysus, o modelo do bebedor excessivo e contínuo convivia com pastores iletrados e com ninfas dos bosques. Baco era acompanhado pelo gordo, excessivo, sensual e pançudo Sileno.
Não imagino uma dança dionisíaca conduzida por Nuryeev, Barshinikov ou outro qualquer dançarino de ballet. Há qualquer coisa de militar e de "demasiado salão ou teatro" no ballet para poder ser dionisíaco. A água excessiva da uva não dá também para movimentos regulados por anos de disciplina.
Em suma, a tradução do Saramago é ballet. Literariamente correcta e bichosa, é daquelas que tira o tendão ao bife, e branqueia o pão. Nascida no campo a orgia da bebida tem por força que ser rústica. Não vai com renda de bilros. Cheira a terra, a suor, a sangue - a tradução do Saramago era clinicamente correcta, pasteurizada. Uma dança debaixo de neón.
À PROCURA DE MIM MESMO
Eu português elipsóide e parabólico, elusivo e múltiplo, barroco e brutalmente simplista não me confesso. O espírito luminoso que me ilumina é o meu, não o do guru, do deus, da narrativa histórica, nem mesmo o do espírito celta-absinto de Arthur Rimbaud.
Já deixei crescer a barba para protestar contra a patifaria iníqua dos Impostos. Impostos = Impostura = Imposição. Não se deviam pagar impostos nenhuns!
Em vez de embebedar-nos com asfalto e carros, antes que o tontinho do Silva nos arranque 15000 hectares de vinha devíamos embebedar-nos fora dos carros e no meio das autoestradas.
Proponho um dia Dionisíaco no meio das autoestradas de todo o país. Paragem de todo o trânsito. Tudo parado, excepto a Pipa, o Copo, a Garganta, a Língua. E a União Europeia que se lixe!
Eu não quero o regresso do euro, mas sim o regresso de Baco e o das caravelas carregadas de Tinto, de haxe, de Esplendor e jade, não de sapatos chineses e telemóveis alemães.
OS GATOS X
Um dos meus gatos estou convencido que afia as unhas nas barbas do Profeta (Louvado Seja!), mas vai ser duro converter-me a mim, ateu de nascença cuja primeira frase em plena maternidade alemã foi Nihil Est!
DA ESTUPIDEZ, DA INSANIDADE e mais
Em Portugal a insanidade de um governo é a garantia da sua continuidade.
O Primeiro ministro julga que falar aos gritos é a melhor forma de argumentar.
A raça dos chatos julga que todos são da mesma raça, a deles.
Portugal é um país de patuscos, não de poetas.
Não há passadeiras para passar entre palermas.
A partir de certo ponto a estupidez é criminosa.
O génio é a única forma de sobrevivência.
A beleza das mulheres parvas é sempre coxa.
Portugal tem tantos idiotas como a Espanha mas cá um deles ganhou um prémio Nobel.
Um louco crê com facilidade no seu juízo, um homem sãbio desconfia inúmeras vezes do seu juízo.
O Juízo Final não foi inventado por um filósofo.
A única possibilidade que Deus exista é que ele cometa erros espectaculares de existência.
Uma mulher elevada ao quadrado é sempre um triângulo.
Um homem dividido apesar de tudo dá um bom pai de família.
Um recém nascido costuma deixar o lugar em que nasceu cheio de sangue.
As mulheres nunca perdem a cabeça, perdem é sangue metodicamente.
A facilidade com um homem perde a cabeça diante de uma bandeira ou de uma multidão só é comparavel à velocidade com que em poucos minutos se aborrece.
As feras aborrecem-se tanto na selva como no Zoo.
Um Baco moderno seria meio grego meio luso com uma paciência de corno?
Tanto pior: se os deuses não nos reinventarem, reinventá-los-emos nós a eles!
Um país estritamente monoteísta é como um dieta macrobiótica só de arroz integral.
A Missa em latim, mesmo mal pronunciado (com sotaque à Bizheu), passava-se mais no ar.
As idas a Fátima não são idas aos factos.
Sempre me admirou que Deus não fosse o diabo.
Os homens que sabem tudo sobre o dinheiro não querem saber de mais nada.
Curioso como os empregados bancários, mesmo de bancos diferentes, são sempre a mesma pessoa.
OBSERVATÓRIO DO LACRIMÁRIO NAZIONAL
estive a ler um dos Príncipes Poetas Aranhiços de Portugal. Não é o Peixoto nem um dos Tavares. Já vai em 20 e tal livros como o Eugénio de Andrade, e como chegou aos sessenta anos apaixonou-se impossivelmente por uma adolescente. Não estaria mal, desde que a coisa ficasse secreta. Mas, mais um caso de coração quebrado que verte águas na poesia, o Príncipe Poeta Aranhiço vem-nos confessar a sua paixão dificil. Trata na terceira pessoa o objecto da sua paixão. Há que entrar como um latinista na posteridade.
A ameaça fadista: entra logo de lágrima em punho. Aliás armado de lágrimas até aos dentes. No país dos coitadinhos, no país onde os mestres da manipulação poética usam a chantagem emocional é bom usar o fel torto e viscoso da lágrima hereditária. Mais um serviço prestado que denota a ovina fidelidade portuguesa à nostalgia complicada e labirintica, uma cortina árborea de lágrimas, uma adolescente que eu não mereço... Ó principe Aranhiço e se fosses charrar?
Já agora levavas o Peixoto e os Tavares contigo...ver se apanham juízo ou bom desjuízo na glândula do olho.
O BILHETE HERMÉTICO
agora o mundo é fóssil puro e telegrafia
ectoplasmas ávidos pintam-no de asfalto
ministros gregos sobem a pedaços de asno
e orientam as manobras das formigas
em cada câmara flutua a bandeira do detergente
os sinais de fumo são agora de fuligem
os homens-cano brotaram por todo o lado
e tu antiga Ophiusa da esmeralda e do oiro
sobre as margens
agora perdidos os últimos centauros
tens que te haver com a legião de reticulários
enquanto as bordadeiras passam por poetas
e os lacrimistas tem lugar no pódio
A CADEIRA ASTUTA
In memoriam Ezra Pound, miglior fabro
Na casa das palavras assustadas
ergue-se a Cadeira Astuta
é sábia e labirintica
tem nas patas Péricles e Píndaro
e se é preciso põe semáforos em Cícero
e desliza caravela latina
cheia de enganos gregos
em direcção ao país
dos falsos fenícios
aqui toda a gente tem a boca cheia de asfalto
e uma fala de cimento e alumínio
é onde o Setentrião se perde
e o Suão morde o rabo
aqui o inimigo global é interno
e tira cemitérios debaixo dos pés
enquanto as Sibilas rasgam palindromas
e a nova linguagem dos gigas
rasga as praias com mais plástico e elevadores
sem que alguém repare que
cada um de nós é uma manhã de névoas
sem rei sem futuro sem objectivo
poalha galáctica entre
ninhos de ratos
2007-07-16
DEZ PROPOSTAS PARA TORNAR A CIDADE MAIS CAÓTICA
1. Reinvenção dos dirigiveis e equacionamento de passadeiras na vertical para todas as crianças ao sair da escola poderem subir para o dirigível mais proximo.
2. Colour Exhaustion Tube. Invenção do tubo de escape com fumos coloridos. Máxima confusão garantida à hora de ponta. Espectáculo féerico.
3 . Escarrador escovinha. Little Brush Spatter. Como 15 % da população é esputosa, ou seja, larga uma percentagem nada negligenciável de esputos por minuto o escarrador escovinha devolve o esputo à fonte de origem.
4 . Cartazes Carnívoros. Admiráveis para o contrôle de natalidade e da densidade populacional em todo o tipo de bairros problemáticos.
5 - Alucinador de semáforos. Semaphore's hallucinator. Em vez das três cores Verde: islão, Amarelo: Sião, Vermelho: Revolução, sete cores. Púrpura: Religião, Negro : Anarquia, Branco: Sémen, etc.
6 - Amolecedor de prédios de vidro. Glass Building Softner. Produto lançado pelos bombeiros desde os carros mangueira, tendo por objectivo o amolecimento das cfachadas de prédios de vidro. Fomenta turismo de excelência.
7 - Pontificador. Bridgefier. Aparelho que lança pontes entre os telhados. Todos os tipos. Pontes para amantes solitários, para amantes trinitários, para amantes orgiásticos e mesmo para funcionários da recolha do esperma perdido.
8. Descedor de Prédios. Aparelho para descer e mesmo para fazer desaparecer emprendimentos turísticos . Come to Portugal where we kill tourists with a smile.
9- Desnidificador e Densificador de asfalto. Aspahlt Denidfier and Densificator. Primorosa aplicação de mais asfalto. A Liberty Avenue levantada a 250 metros do solo only com asphalt.
10 - Desparecedor de idosos. Old People Disappearizer. Máquina Patafísica para desaparecer idosos. Entram por um lado desdentados saiem pelo outro novinhos e com os dentes furados já com piercing.
Escrito com a ajuda do ectoplasma de Fernando Pessoa, depois de o subornar com duas bijecas.
UMA CASA XANAX
Quem vive lá? um casal laboratorial ou feito no laboratório - os jornais depois de lidos ficam impecavelmnete dobrados. os livros nas parateleiras estão minuciosamente alinhados, por altura, tema, cor. Os DVDs tem um armarinho. Estamos certamente dentro de uma cápsula espacial, na terra é que não.
Enquanto escrevo isto Cadamosto, a minha Serpente Negra, achou que, qual caduceu, era uma graça enroscar-se no pé do candeeeiro alto e a minha gata Mura (saki) acaba de me entornar uma taça de Colares tinto sobre o tapete persa, de Saffazz. E olho para uma teia de aranha onde de facto vive uma aranha que não sei se faz fios de luz ou se capta raios de luar com oito patas imóveis. Uma nómada na imobilidade.
Se a juíza da Deco entrasse em minha casa achava 208 situações irregulares. Se o sr. John Li, sino-amercano, pai do Feng Shui por aqui deslizasse encontrava irregularidades gritantes que comprometem a circulação do Chi. Na cozinha, ond estão cinco recém nascidos gatinhos, filhos da Iuri, dentro de um caixote, a brigada do prof. Mexia que quer tirar o sal da dieta aos portugueses poria as mãos na cabeça dizendo que não é higiénico. Os inspectores da União Europeia cheios de desdém enxotariam os gatos.
Entretanto, quando algum político aparece no ecrã da TV todos lhe fazemos belos manguitos. Não vivemos numa casa da Zara, o espírito da Habitat foi dez vezes exorcizado, aqui não entra design nórdico nem aquelas coisadas Zen minimalistas. Isto é uma Arca de Noética Aplicada. Cada aranha ganha mais do que o salário mínimo. Os beijos são mais saborosos com mostarda.
OS ROTUNDOS 63% - Abstenção ou Abs tesão?
Notar ainda: a morte anunciada e o consequente funeral do CDS. Portas, cheio de rugas, envelheceu. Numa só noite é ejectado para fora do carro de glória com que sonhava. O seu papel de concentrar a melhor oposição a Sócrates cai por terra. Com uma equipa toda ela entrada em stress pós-traumático terá ele que fazer o seu próprio delete. Como os mártires e os anacoretas vai agora para retiro no deserto: fazer a sua reflexão. De facto, há imenso a reflectir. A ruga está velha, a equipe em rigor mortis, o Cadáver do partido já antes de morrer fedia.
Corolário: vitória colateral do Éme Mendes, que retoma o seu lugar de chefe da oposição, vasgamente eclipsado pelo acte-divers (acte divers e não fait-divers. Consultem o Littré) de Portas se ter posto nos bicos dos pés. Foi irreflectido. Os anões tem uma base de sustentação admirável. Custa a derrubar um anão. E se cai nunca cai de muito alto.
Outra nota (esta das notas...peguei o tique do Marcelo Rabello de Sousa. Nada de piadas fáceis, é assim que se escreve arcaicamente Rebelo) . A entrada em pré-coma do PSD. O forcing de Negrão que serviu de bode expiatório aos cismas internos do PSD não deu resultado. Apertou a mão a mais terceiro-idosos do que os outros candidatos, ficou sem mãos, sem votos. Com uma das piores votações de sempre do PSD sobre a cabeça. Foi crucificado nessa mesma noite pelos notáveis do seu partido.
Corolário: Negrão que era vereador em Setúbal agora é vereador em Lisboa. Progresso na carreira. Ascenção? Setúbal à beira de ser comprada por uma Cimenteira vai-se projectar no mundo, por isso não arriscamos uma opinião.
A acentuação das práticas salazaristas do PS : agora sem maquilhagem nenhuma, de forma atabalhoada (que denota o desespero) recurso a provincianos do Alandroal e de Cabeceiras de Basto para compor a moldura humana diante das câmaras. O fachadismo em todo o seu esplendor. O PS anémico, não mobiliza. Não tem jovens ao seu lado. Tornou-se uma União Nacional. Sócrates-Botas, Costa - Salvação Barreto.
António Costa bem abriu as buzinas no seu discurso de vencedor a proclamar o seu programa em 10 pontos. (que não diz como se resolverá a crise financeira da Câmara).
Cá fora, no Carro de Triunfo (uma camião enorme transformado em placo, lembrava aqueles carrões de Glória do FCP) embora aplaudido pelo Alandroal e Cabeceiras de Basto, Costa está só diante de uma Lisboa indiferente. Uma fraca vitória, meio derrota meio vitória. Com a aclamação popular mais caricata de todas as eleições da Câmara de Lisboa.
Corolário: Pedroso por pessoa interposta conquista o poder. Haverá casamentos gays no dia de S.António. O Bispo vai barafustar mas dá-se-lhe um espaço frente ao rio para fazer uma capela para os navios de cruzeiro poderem ficar sossegados em condómino turístico e o bispo amocha. Há que ser pragmático. Provavelmente também lá estará na inauguração de um campo de golpe na Portela. Para o turismo de excelência do ministro Pinho.
A tuno filia é a paixão pelo túnel. Regozijem-se os tunófilos, os pedófilos (não esses, mas os entusiastas das passagens pedonais), e as boas gentes do Alandroal e de Cabeceiras de Basto. Quantos mais túneis virão aí? Lisboa futuro paraíso de empreiteiros? Com cidadãos tão desistentes não há cidade que se aguente. A Barreirização de Lisboa, a suburbanização de Lisboa, com uma frente Alta no Rio para navios de cruzeiro?
A OTA = espaço verde, ou seja Campo de Golfe. Esta é a minha ganda ideia para Lisboa. A minha oferenda em desagravo a Pinho-nhó: Um país de campos de golfe de Norte a Sul! Todos alinhados cantando e saudando a bandeira do desenvolvimento e do progresso.
Entretanto porque não fazer um parking no Rio Tejo? Bastava cimentar aquela porcaria toda. Evitava fazer mais pontes ou túneis.
Conclusio: As cimenteiras ganharam em Lisboa tal como em todo o país. O yeah!
DRUMMONDAFORISMOS
* Se algo funciona, é porque deve estar avariado.
* A história de Lisboa moderna começa com a descoberta da cidade pelos provincianos.
* Os maus governos são protegidos pela incredulidade pública.
* Enquanto a ideologia e a ciência dependem da polícia para as fazer cumprir, a poesia bling.
* Por uma razão qualquer nunca se pára com esta actividade absolutamente frivola: contar dinheiro.
* O telemóvel serve para entrar no ouvido doutra pessoa e aí ficar.
* O dinheiro é a unica arma dos pobres que andam sempre desarmados.
* Em Portugal entrámos no futuro a olhar para o passado das sociedades desenvolvidas.
* As ideias dos verdes são produzidas por condutores de comboios, tal como a ideia do progresso ainda é patrocinada por objectivos puritanos.
* A Invenção cria um mar de novos problemas.
* E se eu disser que só metade da minha teoria está errada?
* Os espelhos às vezes dão a ilusão que nos multiplIcámos.
* O carro tornou-se a cara metálica e agressiva do homem urbano e suburbano.
* Urbano ou Ur- rabo?
* Em portugal estamos a confrontar-nos com as soluções de democracias industriais que falharam sem ser capazes de diagnosticar os nossos impasses específicos.
* O problema com esta educação de plástico dos últimos anos é que não vai haver lixeiras suficientes para ela.
* Já ninguém lê jornais usam-se apenas para embrulhar o cérebro.
* O semáforo é o nosso sacramento para prestar homenagem à Santíssima Trindade.
* Hoje em dia cada um de nós sabe menos de colesterol do que o homem de Neanderthal que não tinha colesterol.
* Hoje em dia vender dinheiro para fazer dinheiro tornou-se um ritual planetário.
* O preço de haver sempre coisas novas é a indiferença absoluta à novidade.
* A única inflação contemporânea é a das notícias.
* A ideia de que tecnologia do corpo é uma coisa do passado leva-nos a andar sempre no ar ou agarrados ao computador.
* O futuro é onde moramos desde o tempo do general Eanes.
* A vida moderna passa-se sempre no futuro.
* Não há boas e más respostas, há só falsos problemas.
* A Televisão substitui a reaiidade das pessoas com um replay das vidas que elas não tiveram.
* Ter muita informação não destrói a ignorância, apenas a pessoa.
* O político é alguém que nunca se engana a caminho dos grandes sofismas.
* Uma das coısas mais admiráveis de ser um país pequeno é dar-se ao luxo de pensar em grande sem pensar que os grandes pensamentos nunca cabem em pouco espaço.
* Os políticos oferecem as melhores soluções desactualizadas.
* Uma pessoa que desaparece torna-se imediatamente interessante.
* A pessoa que pensa que está a isolar virus perigosos no fundo é outro tipo de virus.* Quando uma bebida é popular é porque se tornou vulgar.
* A comida da mente provoca tantas indigestões como a do corpo. No primeiro caso chamam-se sistemas, no segundo diarreias.
* As vizinhanças aumentaram de tal modo graças à velocidade da luz que estamos todos a abandonar em massa as nossas prévias identidades.
* O futuro do livro está nas vossas mãos, mas já não tendes mãos.
* Toda a nova tecnologia cria pilhas de desempregados.
* Um aeroporto é uma estrada abortada onde entra mais ar do que o pneu permite.
* Os partidos politicos são-no à letra : estão cada vez mais partidos
* Pode ser que eu me engane, mas faço-o com toda a confiança.
* Estamos na era dos últimos pedestres, a sociedade moderna só deixa as pessoas andar a pé nos campos de desporto.
2007-07-15
O patrocinador da marca Allgarve, o ministro com ar de cara apagada a borracha, o nóvel Pinho deu-nos ontem esta pérola:
O tipo de turistas que nos interessa atrair não é definitivamente o turista de massas
Existe de facto o turismo de massas, mas o turista de massas não quer dizer nada. É pura e simplesmente mau português ou então é calão. Sendo massas em calão = dinheiro, pilim, money, érios, a única coisa que "turista de massas" quer dizer é turista rico, aquele tipo que a conceptuologia pasteurizada chama turista de classe média alta.
Que é o que interessa ao Pinho atrair. Mas a sua frase, mais uma que declara o seu alto génio literário, diz que ele não quer defintivamente o turista de massas, ou seja o turista de classe média alta.
Além desta pérola, O ministro quer um Allgarve que vá além do mar e sol, (pobres coisas primitivas, pacóvias, simplistas) e mais declara o preclaro ministro (as seguintes palavras de ordem) :
"Mar, sol, golfe, cultura, congressos. É essa imagem transversal que se pretende passar".
Mais golfe para o turista de cálidade! Afasta-te Zé com o teu farnel, donde sai em vias de extinção um belo pernil de presunto: não podes mais assentar arraiais no futuro Allgarve. O teu garrafão de 5 litros espetado na areia da praia doravante é obsceno. Para onde irás chupar a espinha da sardinha e cuspir o queimado do pimento assado?
De facto um congresso transversal ao golfe é moderno, desenvolvido, passa à história. A imagem de cultura transversal ao mar deve ser psicicultura dentro de um congresso.
Estas imagens transversais do ministro tem passadeira para mais uma dúzia de hóteis ligados a campos de golfe.
ELEIÇÕES- A FEIRA SUBMISSA
Quem participa na aclamação de António Costa? Com muitas bandeiras, provincianos vindos do Alandroal e de Cabeceiras de Basto, para fazer número - pois obviamente temia-se que ninguém comparecesse.
Mais tarde com aquela vozinha de duende irritado, aos gritos, do alto de uma camioneta, Sócrates discursa aos figurantes e profere um dos discursos mais fracos da sua história em que promete para Lisboa...modernidade, desenvolvimento, progresso. Devia estar a pensar que estava em 1960 em Cabeceiras de Basto ou no Alandroal.
Modernidade socrática : fazer um discurso com tom de voz de tribuno do séc. XIX, propostas dos anos sessenta, no alto de uma camioneta. No fundo, a confirmação do talento de vendedor de banha da cobra, gritando para a oivinidade.
2007-07-13
AS MULHERES NÃO SÃO FÁCEIS DE ABRIR
O novo Café Sical 5 Estrelas apresenta-se com um SISTEMA DE FECHO que é considerado pela própria embalagem como
+ Prático
+ Fácil
+ Cómodo
uma trindade superlativa de "musts" que fazem parecer a antiga embalagem como qualquer coisa da era do pleistoceno das embalagens de café. A simpática preta, ícone de tranquilo racismo do exotismo da SICAL, continua em estado de nirvana a erguer uma fumegante chávena de café, Tem um turbante listado, um decote generoso. É uma hedonista, tem a largueza da entrega sensorial das pretas. Uma branca tem séculos de contenção sensorial. As pretas são mais bicho, podem sorrir com o corpo inteiro. O turbante zebrado reforça ainda mais a ideia de animal quase nu.
O café SICAL é criacionista. Debaixo da palavra SICAL vem estes dizeres "A origem do café". Não restem dúvidas o CAFÉ SICAL mantem contacto directo com o Continente Negro donde provem o café original, uma Preta Nirvânica assim o confirma. Está domada para satisfazer os nossos instintos, mas não inteiramente, embora tenha uma argola enorme na orelha por onde se pode passar uma corda.
Sobre a preta está a palavra ESTRELAS. São cinco. Como um hotel. É um café Cinco Estrelas. Tem serviço de negra incluída. Estamos numa suite, tudo desliza, não há obstáculos. A cortina do duche desliza, a combinação de água quente e fria não falha, a porta do pequeno frigorífico atulhado não range. Há um saca rolhas que não está oxidado e abre tudo à primeira. Tudo é seguro, higiénico e previsível. A pessoa pode dirigir-se para o sofá ergonómico, pegar no comando do sofá e ajustar a inclinação das costas. Fácil. Prático. Cómodo. Os três mantras da modernidade, que é o sonho burguês do "sem atrito" , a epifania do "não obstáculo", um mundo em que os objectos como pretas domesticadas são fáceis e cómodos e obedecem ao primeiro comando.
A rebeldia da antiga embalagem? ultrapassada. O seu incómodo? aniquilado. O seu lado inprático: eliminado. Chegámos ao paraíso.
ESTE BLOG NÃO FAZ POLLS
No entanto, tenho vindo a pensar nos excessos da inter-actividade. É um novo deus? Não estaremos cada vez mais presos a consensos, a avançar sob a ditadura do marketing, ansiosamente escutando o que o público quer? Para depois em feed-back adaptativo lhe retornar o que deseja.
Desenha-se uma nova figura a POLLICE. Parece ter uma simpática cara democrática, uma inocência digital, mas prefigura um mundo de inventários, de relatórios, de interrogatório constante. Além de que substitui a introspecção e promove o Parque Humano, o Insecto Colectivo, o Despotismo da Maioria.
No Parque das Nações em que a blogosfera se pode tornar, com a POLLICE a avançar, aparentemente alargam-se os mecanismos democráticos de consulta. Parece que se comunica mais. Talvez, mas a própria hiperbóle comunicacional em que vivemos a meu ver prefigura a construção de Perfil Ideal da comunicação apoiado na POLLICE. Ou seja, numa cedência ao Gosto da Maioria, com prendas laterais para as franjas secundariamente significativas da opinião.
Por mim, prefiro pensar que a comunicação às vezes pode ser vagotónica, ou seja sibilina, envolvida em nevoeiro, não "straight to the point", labiríntica, e difícil de compreender à primeira. A cara de fácil de abrir que quase todos os produtos apresentam (como se fosse uma qualidade superlativa da sua excelência), parece-me que fomenta a gordura mental. Subir à montanha custa. Comprar um simulador de subida à montanha talvez não. Subir ou não à montanha para dar um jeito à maioria certamente é mercenário.
Prefiro um Dia de Santos Impopulares e um poeta obscuro.
2007-07-12
coisas piores coisas melhores
e saber que logo não estás diante do lume de carvão
e do canjirrão de vinho tinto espesso
coisa melhor é entre dois ramos
por acaso ver a lua de julho, enorme,
pronta a ficar na cabeça vazia de qualquer pensamento
O TAO DO HOMEM SÓ
A paz não me perturba, nem os círculos da minha espada.
SENHOR HOSSEIN
suicídio morte tranquilizantes
tome uma cadeira
estamos sentados à sombra
dantes ouviam-se as abelhas
e sabe o que quer dizer cicadas?
tomávamos um café
antes de jogar os dominós
senhor Hossein
vejo-o a dirigir-se para a mesquita
tem um ar carregado
há quanto tempo não grita?
não se levante já
pode começar a tirar esse cinto
vá devagar
temos tempo para morrer
não é verdade
mas para quê ter pressa
em morrer?
tire o cinto devagar
entre um momento e outro
eu sei que não passa a Fénix
mas pode passar um abelhão
são surpreendentes
não não vêem doutra galáxia
nem conhecem o reflexo de prata
que o sol faz na copa das oliveiras
senhor Hossein não lhe quero perguntar
porque vai para a praça de Haifa
não me interessa a política
interessa-me a luz da manhã
pairando sobre o corpo das mulheres
senhor Hossein por favor tire o cinto
não sei se haverá paraíso
depois do tempo
nem se somos seres carregados de tempo
sim o seu avô passava por esta rua asfaltada
com um rebanho de cabras
o muezzin pastoreava palavras
agora passam jipes
moças de blue jeans e tchador
o mundo está sempre a acabar
não é assim sr. Hossein?
o retrato de John Lennon ao lado de Ali
o telemóvel diante do cordeiro esfolado
uma parabólica em frente a uma bilha de barro
não olhemos para o lixo de todas
essas garrafas de plástico vazias
assim com tão maus olhos
podíamos falar da gritante anomalia do lixo
podíamos falar da discreta anomalia das pedras
cada pedra a bem ver é anómala
já que não aceita um café
nem um chilom
ao menos aceite um grito
vindo do fundo do meu ser
eu também tenho um cinto
carregado de poesia
Sr.Hossein a poesia é mais letal
que todas as bombas que traz
no seu cinto
mas eu vou tirar o meu cinto
vou ficar sem metáforas
dou ao vento os meus jardins
no topo da onda
sentemo-nos como dois sufis
diante das garrafas proibídas
a manhã sobe a rua devagar
DHARMATA SHUNYATA TANTRA
e aos céus aos céus os dou
e a Brahma viro-lhe as costas
bem como à Cruz e a cada Salvador
e vou até uma certa tasquinha
da Cruz Quebrada
comer tremoços junto do rio
beber cervejas junto do mar
na volta vejo semáforos quebrados
nunca se volta não há sítio para voltar
verde vermelho amarelo
só quero pular
o mundo é o teu ventre
o céu a mancha mais escura
eis o segredo do Vale
espuma dos corpos
brisa vermelha
tirei-te a blusa com os dentes
o que nos faz portugueses?
a tusa o mar a tusa
a teia ateia dos corpos
enquanto o espírito santo em fuga
se incendeia
no sémen
COMO MANTER ALTO E NOBRE O TÉDIO NA ERA DOS TRANQULIZANTES
viveria nu e tranquilo
fora do alcance dos telemóveis
e da televisão
não teria vizinhos
com cára de pedra
nem um Deus tripartido
também não seria esmagado
por autoestradas mortíssimas
deslizaria coberto de ramagens
e de deuses,
na perpendicular do condor
e numa cabana longe das cidades
passaria a noite inteira
numa esteira
dentro
da minha mulher concha e estrela
tudo isto teria encanto
mas tudo isto acabaria por me aborrecer
****************************************
assim ligo o computador e navego
e entro na caverna digital do novo Ali Babá
que é a mente universal
tudo o que está na net
fui eu que o fiz: o teu poema, a minha musa,
a tua musa, o meu dilema,
o que escreves contra mim
o melhor pior que pensas de mim
fui eu que o escrevi
e isto é belo como ramagens
sob a canoa
e noites estreladas vistas
pelos olhos de um jaguar andino
ou pelo olho furioso e implacavelmente atento
da águia que desce directa
ao sangue vivo da presa
e para meu alívio e pena
este encanto também me aborrrece
************************************
blasé dizes tu que abençoas o entusiasmo
e te lanças sempre de olhos fechados no
absolutamente inédito
blasé! sim, de torre abolida
e com a linguagem morta e a imaginação
delida pela imaginação
escrevo depois de mim estas linhas
como alguém que sobrou de si
mesmo
e continua a viver por puro esquecimento
mas aos deuses se os há
só peço o máximo:
que nada me distraia da solidão
mãe de todos os encantos do tédio constante
que - pedra de toque e gema feliz -
me afasta de toda a sociedade
2007-07-11
CHANSONS PAILLARDES
Amis, il faut faire une pause j'aprçoit l'ombre d'un bouchon buvons à l'aimables Fanchon Chantons pour elle quelque chose [refrain] Et ah ! ce que son son entretien est bon Qu'elle a de mérite et de gloire Elle aime à rire, elle aime à boire Elle aime à chanter comme nous Elle aime à rire, elle aime à boire Elle aime à chanter comme nous Elle aime à rire, elle aime à boire Elle aime à chanter comme nous oui comme nous, oui comme nous, oui comme nous ! Fanchon quoique bonne chrétienne Fut baptisée avec du vin Un Bourguignon fut son parain, une Bretonne sa maraine [refrain] Fanchon préfère la grillade A d'autres mets plus délicats Son teint prend un nouvel éclat Quand on lui verse une rasade [refrain] Fanchon ne se montre cruelle Que lorsqu'on lui parle d'amour Mais moi, je ne lui fait la cour Que pour m'enivrer avec elle [refrain] Un jour le voisin la Grenade A mis la main dans son corset, Elle a répondu d'un souflet Sur le museau du camarade | |
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O VAZIO PORTUGUÊS
Tendo estado a trabalhar que nem um mouro, à noite e tudo, e não acompanhei por completo o último debate dos 12 candidatos à Câmara, por isso esta é uma espécie de crónica fragmentária. Baseada naquilo que nós portugas fazemos melhor: a espreita.
Nesta vidinha de ecrã em ecrã (imagino o O'Neill a fazer um começo de prosa assim), de vez em quando tirava os olhos do ecrã do computador e espreitava o outro ecrã onde os admiráveis 12 (número simbólico, os 12 de Inglaterra, os 12 apóstolos, os 12 meses do ano e o Dicionário dos Símbolos deve ter página mui fornida sobre o assunto) sentados em possantes e simbólicos cadeirões da Sala da Leitura da Câmara Municipal posavam.
(Nota: Qualquer dia vendem o edifício da Câmara para um Hotel de luxo. Por isso estas oportunidades de ver o belo edificio por dentro são raras.)
Vi logo que a hipnótica Madame Fátima Ferreira não tinha cedido ao espírito Zara, embora vestisse qualquer coisa de negro formal, avisando que a ocasião era séria e grave. A sua roupa pode ser descrita como uma farda de almirante, desidratada, com as galonas postas à roda do níveo colo. A voz vestida de negro, grave, mântrica, de Madame Fátima evocava aqueles mosteiros tibetanos depois dos chineses, com uns monges tristíssimos, que se vêem na Discovery. Nunca vi que tipo de sapatos usava mas fiquei fascinado com o ar de conclave da sala de leitura. Também naquela Sala à medida que a espreita se consolidava reparei que tinham um vago toque veneziano aqueles cadeirões onde se podiam imaginar doges togados. As Encenações do Poder em Portugal giram à roda do imaginário republicano do princípio do século passado: Marianas de gesso, uma geometria formal de madeiras pesadas, tectos muito altos, uma pose de racionalidade arquitectónica. Se eu fosse Visconti utilizaria sem dúvida os espaços onde o Poder se mostra para o contrastar com as ligas escarlate de Claudia Cardinali em todo o seu viço. Fetichismo pede fetichismo, e os fetichismos do poder são elaborados com todo o peso e a solenidade de uma retórica.
Os cenários não são indiferentes. Um bom cenário é mais do que metade do êxito de uma peça. O que se iria representar ali na Sala de Leitura da Câmara? Pois nem mais do que a encenação clássica da democracia: todos são ouvidos em tempo igual. A inexorável lógica distributiva da democracia entraria ali mais uma vez em acção. A grande sacerdotisa-pivot e além disso arbiter estava ali para fazer cumprir a distribuição equitativa do tempo de palavra. A deusa da suprema e exacta igualdade garantiria espaço de Verbo matematicamente distribuído.
Não pude deixar de me recordar que a democracia vive de rituais que a re-encenam constantemente - tal como a missa. E no fundo, na essência, estas representações rituais da igualdade são do domínio do sagrado. Aquele círculo de cadeirões é o inner circle, o círculo esotérico, a linha dos Doges, as mais altas instâncias na hierarquia dos anjos. O Poder sempre fez uma petição angélica de poder e sempre gostou de se espraiar num vórtice de falácias legitimizadoras.
Enfim, tinha que me concentrar na tradução de português para inglês que estava a fazer. O texto em português era daqueles textos de mau barroco. Uma estagiária de museu discursava em pinharandês sobre os quadros de um museu em frases intermináveis, lardeadas de boa gordura maneirista e barroca. Mas manejar mal a frase barroca é um desastre clássico em Portugal, onde quando se é obscuro e enigmático, isso passa por inteligência e cultura. Os dois ecrãs estavam contra mim! Senti-me no dojo de aikido, a enfrentar vários adversários. Mas é demais para um mero cinturão negro 1º Dan, enfrentar o Espírito Democratóide e a Mente Barroca. Seja como fôr tinha que fazer a tradução. A Dead Line já tinha expirado. Bem sei que em Portugal estamos sempre under pressure, a trabalhar com os fornos da cafeína todos em ignição, à última hora. Mas não estou muito seguro se curto a adrenalina. Prefiro o seu antagonista, a acetil-colina. (Desta pobre, outra lina, quase nunca ninguém fala). Tinha que fazer imperativamente a tradução e tinha que ver reunidos, pela primeira e certamente última vez os 12 admiráveis candidatos à câmara.
Já aqui no blog disse mal de todos eles. Julgo que não disse suficientemente mal. Faltou-me engenho e arte para dizer supremamente mal de todos em geral e de cada um em particular. Por isso, para não me espalhar na difícil arte de dizer mal - que tem mais praticantes do que o jogging - vou tentar ser heraclitiano, fragmentário - mas não oracular.
Num conjunto de pessoas sentadas em semi-círculo o nosso olhar é imediatamente atraído pelo mais gordo. É um princípio perspéctico clássico: o maior volume destaca-se e impõe-se. Aqui o maior volume era o Ruben de Carvalho, tratado por Roby ou Ruby de Carvalho por um Gonçalo da Câmara Pereira que sentia que estava outra vez na escola. Mas o personagem difere dos arquétipos. É curioso ver um comunista gordo. Cunhal fez escola, entrou na lenda e deixou a aura de uma imagem magra, de anacoreta, magro, consumido de tal modo pelo fogo revolucionário que se esqueceria de comer. Cunhal, o asceta lembra o Cura d'Ars, outro asceta. Falar de um bom bife junto deles, Cunhal ou Cura d'Ars soaria como pior do que inconveniente, seria obsceno. Ruben de Carvalho, pelo contrário, ribomba feijoadas, sardinhadas, caldeiradas, enfim a farta e boa mesa popular. Quando o vemos, antes de ele abrir a boca. a natural simpatia que se tem pelos gordos funciona. Porém, quando fala e moraliza com ideias de boas práticas camarárias, tudo isso soa a abstracções longínquas. Junto daquela simpática pança gostar-se-ia de falar de bons vinhos e tasquinhas de sonho, ainda com o vinho da casa a correr grátis e interminável. Infelizmente, a boa vontade dionísiaca e pantagruélica que a lauta figura do cidadão Ruben provoca, é cilindrada quando o homem adopta o tom trivial da indignatio (em Portugal é assim ; quando não se tem razão a pessoa indigna-se) e fala, e cilindra e canta as laudas das boas administrações do PC. Don Peppone era mais prudente.
Entretanto, na tradução debatia-me com a tradução para inglês do adjectivo "lumínica". O Webster e o Oxford não a incluem, ou pelo menos no perfeito esqueleto de labirinto que é um dicionário eu não a encontrava, ou ainda pior, não a queria encontrar. Temos gestos de perfeita má vontade, às vezes. Só é pena que a perfeição na má vontade nem sempre seja sustentada - mas isto é uma deriva florentina que não é práqui chamada. Voltemos ao gordo. O Ruben nao tem o cómico dos gordos. Parece, portanto, um gordo nu, em inox. Em vez de podermos partilhar umas boas garfadas, sentimos que vamos levar com uma garfada. Como hei-de dizer? - é um gordo que não é redondo.
A tradução falava de marinhas, que em inglês é parecido: "marines", embora os Pinharandas de Inglaterra prefiram "seascape", que evidentemente está no conjunto do "landscape". Às vezes é interessante estar sob fogos cruzados linguísticos, tipo ouvir um discurso de Wittengstein na televisão (pura suposição!) e em simultâneo ouvir cantar o Toy, outro gordo, da campanha do Carmona - que gosta de ser bonacheirão e escoteiro e quer pôr Lisboa toda à sua imagem e semelhança, a andar de mota. Imagine-se a terceira idade a sair de mota dos seus aquartelamentos e asilos, as matronas das avenidas novas, de calça de couro luzidia, uma cidade toda motard, a seguir a motocicleta dourada do edil...
O que me atraiu o olhar em segundo lugar foi a quantidade de gravatas rosa e vermelha dos candidatos. (Tem todos os mesmo conselheiro visual, que funciona a bitaites primários tipo o "vermelho" atrai mais?) Mas antes devo dizer que depois do pícnico, rúbido Ruben, o meu olhar caiu na figura de alfinete de dama do Negrão. Não tem ombros! Não tem corpo! Não tem voz! Se alguém quisesse fazer, de raíz, uma non entity, tinha-se logo o negrão. O homem não dá trabalho a fazer, mas vai ser um incómodo imenso para desfazer. É que os ectoplasamas são como a gelatina, escorregam, fogem por todos os lados, são impossíveis de cortar.
Também reparei nas mãos dos candidatos. Tem quase todos mãos finas, de dama, de pensador clorótico. Aquelas mãos nunca pegaram numa coisa forte e subtil como uma espada (eu pratico espada) nem nunca viram nem a sombra de uma enxada. Imaginam-se mãos solícitas de assesores a abrir-lhes portas de vidro. Já uma vez vi o Guterres a entrar na Gulbenkian à espera que lhe abrissem a porta de vidro, como lha abriram e sem se preocupar em aguentá-la, era uma daquelas portas voluntariosas que se fecham imediatamente. Atrás do Guterres vinha uma senhora que ia levando com a porta na cara. Sua Excelência nem reparou.
Voltando à palavra "lumínico". Nunca a tinha ouvido. Tem um corte etéreo. Não é bem luz, refere-se ao valor da luz ou a uma qualidade da luz. A luz é lumínica. Talvez todos precisemos de ser lumínicos de vez em quando, no intervalo de umas sardinhadas?
O António Costa era o segundo gordo, o segundo volume massivo para o qual o olhar ía. Mas estava com um ar distante e xanaxado. Um tipo que ganhou que merda está ali a fazer? Um frete ao serviço público, como já deve ter feito milhões. O António Costa é um saco gordo com voz. Carrega-se naquelas adiposidades e sai uma voz de basso profondo que deve ser óptima para recolher confidências de costureirinhas, e de damas carentes, magras, em crise relacional. O defeito é meu, eu só vejo o António Costa no século XIX, vestido de púrpura, rolando sobre os lípidos, deslizando sobre o que lhe sobra de voz prelatícia. O rolamento da voz supre-lhe a ideia.
A propósito de vozes - tenho bom ouvido. A maior parte daqueles candidatos não passava num casting. Anda tudo surdo? A porcaria de música popular circulante tem dado cabo dos ouvidos dos dirigentes políticos? É grave, um político sem voz é pior do que um amputado. Não só são vozes sem energia, sem clareza nem determinação mas são completamente inócuas, além de estarem mal colocadas e de serem desgradáveis ao ouvido.
Tenho um fraco pelo Mr. Bean...e quando vejo o Garcia Pereira simpatizo logo com ele porque penso no Mr. Bean, embora o contrário não seja verdade. O Garcia Pereira é um Mr.Bean fantasma, que nunca riu de si mesmo. Depois, apostar ainda no maoísmo quando se sabem as atrocidades que em nome de Mao se cometeram será o quê? antimorfo? ou mofo mental puro? Além disso, o senhor Garcia pinta o cabelo, o que lhe dá um toque de advogado odette. Tem outra voz desagradável, de quem esqueceu mal o madeirense, de quem escondeu à força o sotaque madeirense. Não sei bem o quer dizer pingarelho, mas acho que Garcia tem voz de pingarelho. Não lhe confiava nem um beco.
E que dizer das outras vozes e gravatas? Dou os parabéns à Helena Roseta que, apesar de estar rigorosamente vestida de tia, não tinha gravata. Mas a sua frase, que ficará para a história foi um Trafalgar: ouvir as pessoas não custa dinheiro. Por menos morreu Nelson. De si disse que era bem educada. Não era preciso, e percebia-se que tinha mais chá do que os outros candidatos.
Qual foi a minha desilusão da noite? Sá Fernandes. Porque terá uns olhos cheios de medo? Fugidios, parecem estar à procura de si mesmos, ou na desesperada procura da porta por onde fugir dali. (Ainda prefiro pensar que os seus olhos, sem nenhuma steadiness (sinal de calma interior) procuravam a porta, compreende-se, tanta non entity junta deve ser sufocante)- Depois o look de Sá Fernandes é confuso, entre o agente da funerária e o caixeiro-viajante - e há caixeiros-viajantes de ideias). Aquele bichanar com o António Costa prefiro pensar que foi uma coisa escolar.
Quanto aos caloiros nestas andanças : o homenzinho do nacionalismo, Pinto Coelho, sem voz, sem físico, sem ki. Depois o pateta alegre que nem vale a pena dizer o nome, e que interrompido pela Madame Campos sussurrou numa infantil procura de cumplicidade para Helena Roseta : então ficamos os dois ao cantinho. E ainda o nervosíssimo Quartin Graça, um homem duplamente apagado a borracha que a certa altura esgrimiu uns cartões pró-portela incompreensíveis e teve logo ali o último suspiro e o último submarino ao fundo.
Devo ter esquecido alguns. O diabo da palavra "lumínico."
Foto: duas lisboetas da segunda idade em campanha por uma Lisboa descomplexada e pronta para se atirar de hábito religioso e tudo ao Rio.