/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力: 2008-03

PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

LES PRIVILÉGES DE SISYPHE - SISYPHUS'PRIVILEGES - LOS PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO - 風想像力 CONTRA CONTRE AGAINST MODERNISM Gegen Modernität CONTRA LA MODERNITÁ E FALSO CAVIARE SAIAM DA AUTOESTRADA FLY WITH WHOMEVER YOU CAN SORTEZ DE LA QUEUE Contra Tudo : De la Musique Avant Toute Chose: le Retour de la Poèsie comme Seule Connaissance ou La Solitude Extréme du Dandy Ibérique - Ensaios de uma Altermodernidade すべてに対して

2008-03-31

OS AUTOMÓVEIS VÃO PARA O CÉU


estou convencido que os automóveis vão para o céu - aturam cada um, bebem aquela porcaria da gasolina, andam empapados em óleo, são sujeitos a banhos diários, andam sobre pneus que regularmente mudam. Se estão na fila durante horas não protestam, a não ser que um bípede de queixada zangada que julga que é o dono deles prima a buzina. Por si mesmo um atuomóvel nunca tocaria buzina, viveria num silêncio monástico, mas uns saloios zangados que gostam de ruído, e cujo único músculo é a buzina, abusam deles, descarregam-lhe as baterias, esgotam-lhe as cambotas, espremem-lhe o subsconsciente e dão uns buzinões de apocalipse.
Ouvem conversas triviais - é sabido que F Pessoa só andou de Chevrolet na estrada de Cintra e que Wliiam Shakespeare detesta carros, ouvem todos os palavrões do mundo, que são meia dúzia deles porque a própria arte do insulto anda que é uma miséria, e um dia, quando aqueles truques todos automáticos que lhes puseram sem lhes pedir opionião pifam de vez, acabam uns por cima dos outros em pilhas, esquecidos, à espera de serem compactados.
Por isso tudo: pela sua vida de devoção humilde, de paciência resignada, pela virtude da tolerância com que se esfrangalham com equanimidade tanto contra um camião Tir como contra um Citroen, sem discriminação, o Papa dos automóveis canonizou-os em vida. Vão todos para o céu. Pode-se rezar, por exemplo, ao Mercedes Benz deste modo:

Mercedes Bento que estais nos céus
Luibrificado seja o teu nome
Venha a nós o vosso ronco
seja feita a vossa velocidade
assim na terra como no céu

O pistão nosso de cada dia
nos dai hoje
perdoai-nos as nossas ultrapassagens
assim como nós perdoamos a quem nos tem ultrapassado
e não nos deixeis cair na contramão
Ó man!

2008-03-30

SONETO APÓCRIFO E MAL PARIDO
DE EL CID ABUNAZAR À VISTA DAS SUAS TERMÓPILAS LUNARES


Páro sempre em Alcácer do Sal,
onde Minerva sempre se enerva
com o eterno Sado tão mal olhado
E Vejo a ponte nova, uma chateza

sobre o arrozal e também vejo,
sonho de carraças e de lâbregos
a pousada remodelada : botok colinar,
manteiga de cimento,

e penso em voz alta: os turistas que
se fodam! eu quero ver de novo Portugal.
E é assim que ataco uma pinhoada

que ainda sabe a luz de cimitarra
e enquanto deito um último olhar
ao Sado, as últimas cegonhas perfumam o luar.

SONETO APÓCRIFO E MEIO MAL PARIDO
DO CONDE DE AVILLEZ MEU VIZINHO


Em Santiago do Cacém, Veneza lunática sem gôndolas,
mascaro-me de poeta falido, o que não é difícil, e acabo
no café afogado nos bagaços perdidos do Manuel da
Fonseca. Confesso que não percebo ainda o modo

de funcionamento das raparigas. Mal cheiram um
engenheiro lançam nós e péndulos? Ou transformam-se
em pêssegos? Não sou da área dos neo-realistas,
nem tenho chapéus pendurados nas chaminés de Sines.

Espio o castelo, tem lá morcegos seguríssimos a
estelas e a escorregas. Os ciprestes inspiram-me,
terei um dia descoberto o sistema das garrafinhas

com antenas? O azul um dia engoliu-me e vomitou-me:
nenhuma campa me quer - Eu acho que teria algo a dizer
Sobre as cervejas solitárias de Miróbriga, mas não digo.

2008-03-29

MAIS DRUMMONDAFORISMOS

Dos muitos castigos com que os deuses flagelaram os humanos ler parece ter sido o mais severo.

Os portugueses conseguiram esta coisa formidável: pronunciar um sim e um não definitivos em simultâneo.

Os medíocres com talento abundam na política, os restantes nas artes plásticas.

Uma estratégia é um consenso acerca de várias mentiras pré-programadas.

Os políticos são demasiado cobardes e por isso travam sempre as suas lutas por interposta pessoa.

As minhas taxas pagam os carros dos ministros e a escolta de batedores da polícia que não me deixam atravessar a rua quando eles passam

As pessoas que votam deviam saber que uma só baioneta tem mais força que dez mil votos.

Os políticos nunca quebram promessas, simplesmente modificam-nas ou viram-nos por completo ao avesso.

Os impostos são a forma de fazer com que o meu dinheiro perca concubinas e ganhe hospitais onde me matam.

Nunca vi um ministro da saúde com ar saudável, nem um das finanças com ar próspero e tranquilo.

Os governos quando não são um exército de carraças, são a prisão de ventre das nações.

Um general dos nossos dias em geral não passa de um engenheiro condecorado.

Quando os padres forem psicoterapeutas e os pscioterapeutas padres não se dará pela mudança.

Imagino uma máquina que fosse uma PICATERAPEUTA, certamente não moía cerebro mas sim cotão.

O nosso papel enquanto escritor de teatro é sair da peça antes de ela começar a ser escrita. Só assim ela sairá de nós completa, sem uma falha, sem a nossa mui estimável personalidade, opiniões e sandice própria e intransmissíveis.

Pode ser que o golf não seja o mais estúpido dos jogos, mas é certamente um dos mais aborrecidos.

O futebol é um jogo para obcecados que só tem uma ideia fixa: chegar ao golo. E isso fascina as multidões porque o futebol lhes louva a incapacidade de ter mais do que uma só ideia fixa.

Um político não precisa de ser capaz, basta que pareça.

Ha mulheres que parecem sensuais mas são analfabetas na cama.

Quando uma civilização produz bonecas insufláveis e telemóveis é porque já se injectou com a dose terminal.

Os jornais estão sempre em estado de alarme com qualquer coisa e há sempre algo que corre mal no mundo para bem dos jornais.

os jornais muitas vezes são feitos por velhas tagarelas que já nem se dão conta que além dos dentes também já perderam a língua

Nos nossos dias os surdos ouvem imenso e os mudos falam e são aplaudidos.

Se Freud não tivesse existido Édipo estaria no esquecimento.

Antes da sociedade se ter transformado numa prisão, já a prisão se tinha transformado em toda a sociedade: um monte de regras, um dia a dia absurdo, uma multidão de pequenos tiranos e vigilantes e uma estupenda escola de crime.

O sol nunca nasce, nem a lua, e é isso que tem de bom, não se parecem de todo connosco nem, sobretudo, com os nossos ciclos.

Um pesimista tónico é aquele que vê progresso por todo o lado e inventa uma nova dimensão onde ele não entre.

A ideia do eterno progresso não tem feito avançar o mundo, apenas as carreiras dos políticos.

2008-03-27

A ARTE DO TELEMÓVEL MARCIAL



Nesta fotografia trabalhada com photoflash para dar a impressão de um desenho antigo do Daumier um professor roubou o telemóvel a outro professor, e agora esganam-se enquanto os outros gritam: Toque errado! Toque pafúncio! Toque-lhe nas carótidas! Toc! Pim! Bzzzang!

Ao fundo uma psicóloga de voz triste e óculos à Mr. Littré explica que o telemóvel é uma extensão da pessoa, e por isso está no mesmo plano narrativo, eeeeeuh, do falo.
Freud ao fundo coça o Id, e explica que a forma fálica do telemóvel provoca inveja das raparigas.

Lord Drummond passa com a sua cabeça de gringocéfalo escocês (sangue visigodo e húngaro) e diz inesperadamente ; telemoveliloma, methinks. Um cancro digital que cresce na mão e atarrafusca o ouvido à Central dos Grandes Leucótomos Voadores.




2008-03-26

Jardim do Tarot de Niki de Saint Phale

2008-03-24

A LEUCOTOMIA DE EGAS MONIZ, 1/2 PRÉMIO NOBEL



Os primeiros monstros:

Carlyle Jacobsen, a scientist working in Yale University, observed that aggressive behavior in chimpanzees sometimes diminished after their frontal and prefrontal cortexes were damaged by means of lobotomy, which means 'lobe cutting'. In a similar experiment, Dr. John Fulton, also of Yale, was unable to provoke experimental neurosis in two chimpanzees after completely removing the frontal lobes of their brains. This was enough to convince Fulton of the effectiveness and usefulness of this type of surgery, and he subsequently became one of the more established and influential proponents of psychosurgery in the United States.

O imitador:

Portuguese neuropsychiatrist Dr. António Egas Moniz heard Fulton speak during a neurological conference in London, and was so impressed with what he heard that he decided to apply a version of the procedure to people suffering from long-term symptoms of mental illness such as obsessive-compulsive disorders and paranoia. In a piece of deductive reasoning which would be laughably facile in most other circumstances, he proposed that since symptoms such as paranoia involved recurring thought patterns, the best way to cut off such thoughts might be to simply interrupt their flow by surgically severing the nerve fibers connecting the frontal and prefrontal cortex to the thalamus, a structure located deep in the brain relaying sensory information to the cortex.

A implementação da prática depois de ter andado a destruir partes do cérebro ao acaso:

After briefly experimenting with destructive injections of alcohol directly into the brains of patients, Moniz and a neurosurgeon named Dr. Ameida Lima together developed a surgical procedure which they called leukotomy, which means 'white matter cutting', in which holes were drilled in the patient's skull on either side. A flat wire knife known as a leukotome was inserted through each hole and into the brain substance, and then moved from side to side a few times to destroy and sever the nerves.

O Insucesso:

Moniz reported limited success with this technique, claiming that some patients who had formerly suffered severe depression improved after the surgery, but some patients were not helped by it at all. He himself recommended that leukotomy should only be used as a last resort in cases regarded as otherwise hopeless. In 1936, after Moniz's results were published, leukotomy was taken up in a few centers around the world for a while without much success. The majority of psychiatrists, particularly psychoanalysts, were strenuously opposed to it;

Crime e Castigo, um fim dostoievskiano (E KÁRMICO)?:

Moniz himself was shot in the spine and permanently paralyzed by one of his ex-patients, and thus could no longer practice (can you say 'karma'?); and before long the use of leukotomy had all but ceased.

Desenho do genial R.Crumb



2008-03-22

AS ANTENAS DA GARRAFA

Os poetas são os pára-raios da humanidade por isso quem estiver demasiado perto deles pode ficar electrocutado e quem estiver demasiado longe não recebe a energia que muda os mundos

2008-03-21


Ontem fiz um zapping controlado na TV, e vi fragmentos de aí uns doze filmes sobre Jesus. Em dois o nosso Salvador era loiro, de olhos azuis, com um ar nórdico e anglo-saxónico. Noutros tinha os cabelos castanhos e pele clara. Ao que parece o estilo hippie não estava mesmo nada em voga nos agora territórios ocupados da Palestina e no asfixiante e atemorizado actual Israel. Aquele estilo piloso era mais próprio dos nativos do Cachemira dessa altura do que dos Essénios, em quem João Baptista o mentor e anunciador teria bebido a doutrina.
O mais certo é que JC fosse de meã altura, ninguém lhe aponta uma elevada estatura, de tez relativamente escura, própria daquela zona do Médio Oriente e da sua etnia, e fica-se na dúvida sobre se teria aquela volumetria capilar. Mas isso não perturba os cineastas americanos que criaram um Jesus americano, de olhos azuis, com ar bem nutrido, pele rosa, e um pré-ar de estrela rock.



Foto: Godel e Einstein

2008-03-20

DIÁRIO DE UM DESILUMINADO

Ao voltar de Lisboa, ao passar pela Ponte Vasco da Gama, tive um momento rasta e bera a nível de visão, e também toscamente communard pensei que: O Parque Expo é a Frente de Babilónia. Enquanto sustinha a visão da Expo-Babilónia o que não é dificil porque aquela zona emite aquela vibe alegrita para o ar, com prédios fósoforo diante de prédios palito gordo, e prédios freud alinhados deixando pingar subconscientes monótonos e paralelos, gaivotas cruzavam a ponte de um lado para outro. Fiquei com essa impressão-babilónia durante toda a travessia, depois no fim, do lado esquerdo havia ainda flamingos. Como conseguem manter o cor-de-rosa? Nesse instante passou a sobrevoar o posto das Galp ainda ao longe, um avião baixo, a hélice, escuro, camuflado, grande, militar, da Base Aérea do Montijo. Gostei da sua lentidão. Era bojudo. Dava para um filme do Wim Wenders, talvez pudesse atirar cá para baixo anjos de Berlim bombardeado, talvez se tivesse perdido num loop temporal, daqueles à Philip Dick em que um tipo de repente vive em duas realidades paralelas, e depois salta para uma delas deixando no entanto a sua memória pré-frontal na outra. E agora entra nos sarilhos da divisão cerebral. Fica comprometido para o satori, claro, e vai passar angst pacas durante uns nano-milénios, pelo menos.
Entretanto eu ia devagar na minha lata VW vermelha de anos inimagináveis, ultrapassado por todo o tipo de camionetas. à minha frente ia um dos últimos citrolatas da noosfera (per Baco! não há só blogsofera), um 2 CV, a abanar com o vento. Seria de um hippie num outro loop perdido do tempo? Não era. Era de um tipo com ar de economista, um moneyist whako a morar provavelmente ali nuns dos viveiros melancólicos alter-bandistas para yuppies ainda activos prof. mas sem capital para viver decentemente numa Quinta em Lisboa e andar com uma orquídea de dandy na lapela. Muitas lacostes compradas nos ciganos dão umas olheiras suburbanas que não atraem Lolas e Carmens.
Pensei com alguma melancolia que vivemos num tempo recheado de empregados da cibernética, que não tem muito boa pele, estão queimados pelos ecrãs do computador. Fazem dietas tristes, tem um humor de feras castradas, ou seja, castrador e detestam árvores.
Os carros à minha roda ia tudo comme d'habitude a uns 140 km/hora ou mais. A velocidade IMHO (estas siglas são todas para dizer o contrário) é uma coisa que torna as coisas irreais. De modo que ia sendo ultrapassado por irrealistas de todo o tipo, aliás super-irrealistas porque àquela velocidade o real exterior afunila, fica-se com visão de túnel, só se vê a estrada mais pequena os carros da frente. Um pardal voa ao lado? incipiente, inconsútil, voo inútil.
Percebi que iam todos em competição uns com os outros. O infantário dos aceleras pega fogo em qualquer lugar, é-se acelera por uma série de momentosas sinergias com a falta de tempo, sem dúvida. Mas também porque os vendedores de tempo andam a vender tempo mal compactado. É isso, desconfio. Ultimamente há muito má qualidade temporal. Os minutos e segundos vem com os rebites descolados e consomem-se num instante e estão deschipados, daí esta corrida que não é só vaidosa - são os novos miseráveis, são pobres de tempo. O pior é que votam para que nos tornemos todos como eles.
Uma camioneta espanhola com reboque ultrapassou-me num buzinão zangado porque já vinha atrás de mim - eu ia a 80 - há uma eternidade. Confesso que tenho l'aristocratique plaisir de déplaire por isso curto bué ir devagar no meio das massas da velocidade massiva, uniforme. Deve haver livros de psicologia que expliquem porque os aceleras se contagiam uns aos outros. Rage de vivre? não penso. Vivre dangeuresement? também não, agora com as almofadas anti choque sai-se decentemente mutilado de um choque frontal. Impressionar a garina com os testículos do velocímetro, enquanto ela vai aos gritos? Se calhar é a única altura em que grita, diz o meu Anjo maldoso, aquele que abençoa a difusão da estupidez só para soltar viçosas gargalhadas amarelas.

E lá ia naquele continuum cinético que é a vida ávida das auto-vias - nada existe no momento, o momento é fragmentado por causa da consciência afunilada. Um vertigo da velocidade? Bem é certo que a adrenalina dispara quando um tipo vai a mais de 140 km, e um tipo então banha~se num orgasmo de adrenalina que lhe dá a sensação de fight or run. Aqui há uma mistura que não julgo sinérgica IMHO (raio da sigla que diz o contrário) de figth, um tipo vai em modalidade fight com todos os carros que o querem ultrapassar e com os que quer ultrapssar e aoi mesmo tempo há um template run de base com medo de não chegar a tempo e horas. Ao mesmo tempo um contínuo download da instância do Super Ego que grita mais depressa.
A serotonina, que activa as funções do cérebro direito, não tem hipótese. A auto-estrada é só cérebro direito esticado para à frente. Dai que o visionário Dali já nos longínquos anos sessenta do passado século tenha representado os automobilistas com crânios fusiformes na horizontal e alongados para a frente. Chamou-lhes os atmosferóides. O que está certo, são seres límbicos, nem cá nem lá.
E então que posso eu oferecer mais à Musa do Bizarro? A minha descida no posto da Galp tem uma boa dose de irrealidade. A bomba tem uma menina com voz de new age que nos diz com um voluntarioso optimismo ás sete e meia da tarde Tenha um Dia Positivo. A gerência da Galp anda a ler livros de Self-Help. Atenção. E depois entro para pagar com o cartão na mão. Desconfio que não há no mundo paisagem mais sinergística que um posto de gasolina de autoestrada. É a América no Barreiro. De súbito estou num filme de primeiro mundo. Não sei porque temos todos um ar comprometido. Não dá muito jeito ver os outros condutores tão perto, desarmados, se as armaduras-carro, ao nosso lado. É um sítio de uma nudez horrível. Fomos desencapsulados daquelas latas velocíssimas. Todos fingimos que não nos estamos a ver uns aos outros. Perdemos a omnipotência - isto é um sítio de teologia panorâmica e introspectiva. As latas hipnóticas de Coca-Cola giram atrás de um frigorifico de porta transparente. As sandochas tem ar de que podem durar toda a eternidade. tem o fresco catita do plástico. Não sabem a nada, ou por outra sabem meio a comida de avião meio a cantina.
A Coca-Cola pica na língua, é um açúcar musculado, mas é um ersatz. da antiga coca-cola. Não tem raspas de coca e cola nem vê-la. Por isso sabe a fosfo-piro-beta-D- trifosforeno. Animoso sabor, para quem tem umas noções de bioquímica das massas para as massas.
Os empregados vestem blusas de cinza light, com a placa de plástico de identidade ao peito. José Nicolau, chama-se este rapaz chateado connosco todos, que mal nos olha, a nós velocistas, uns renitentes como eu, outros de topo, como a maioria. Teclo o meu código e de repnte dou-me conta passo a vida teclar. Multibanco, telemóvel, computador, comando disto e daquilo- Que século do dedo! estou farto de dedos. José Nicolau olha-me com o olhar curto de quem tem um nome tão curto. Enfim não é nada disso. mas é bom ser snob diante um açodado.

rRose Sélavy


Tirado do meu Viveiro de Instantes Esmagados, onde bombardeados pela máquina de jactos de pólen (cortesia do Eng. Bellmer) se transformam em cápsulas pérfidas perturbadoras das correntes de suconsciência dos wacko moneyists que agora enchem as urbes e a blogosfera.

Alguns deses instantes transformam-se em nano-BlogNosferatus que dão corda à espinal medula no sentido inverso dos ponteiros do relógio.

Photo de Marcel Duchamp

2008-03-18

DEMOCRACY IS A LUNAR VIRUS




A DEMOCRACIA É UM VIRUS LUNAR

o que é a democracia?
telefonei à tua mãe e ela disse-me que tinha a ver com a igualdade
fiquei chateado porque não quero ser igual ao Julio Isidro
mais tarde no café perguntei ao patrão do café
o que é a democracia e ele disse-me toda a gente sabe isso
é poder votar
o quê nestes chatos que ganham sempre e tem a mesma língua
fui à igreja e o padre disse-me é a liberdade
mas vi os fiéis a passar como se tivessem grilhetas na mente
e mais tarde ao entrar no metro percebi que era uma sucursal do Letes
mais tarde perguntei ao político o que é a democracia?
e este disse-me pão para todos e escolas iguais para todos
e lembrei-me da minha escola e de como queria fugir de lá para sempre
e de como o pão lá tinha dias que sabia a peixe
e lembrei-me da professora que me dizia tens uma maneira esquisita de correr
mas o que é a democracia?
mas o que é a democracia? fui eu à varanda gritar
e a polícia espantada olhou pra cima e fez-me sinal pra eu me calar
mas não me calei e começaram os tiros e eu caí verticalmente na igualdade
cinco andares de igualdade, de liberdade, até me estatelar
felizmente o polícia era um daqueles insufláveis e insuflou-se num instante
levou-me para a esquadra onde me deram um arraial de porrada
o que é a democracia? gritei enquanto mais uma vez caía chamando-lhe
os nomes que as suas mãezinhas todas tinham
felizmente sou feito de papel, de palavras e de sangue viciado
nada me pode mais bater do que o tempo nada me mata mais do que os meus sonhos
de modo que saí de lá pior que um pesadelo num talho
mas a prumo, aos tombos, a prumo, titubeante sabendo que ninguém sabia
que nunca ninguém saberia porque tal coisa era um fantasma
nada mais do que uma palavra-dentadura, uma palavra de impostura
e que não valia nada, e que em nome dela nos davam pastos veementes
mas gastos

2008-03-17

FREE TIBET

Anti-government protests in Tibet have spread to Gansu and neighbouring provinces with large Tibetan populations. Tania Branigan reports from Xiahe on the tense stand-off between monks, lay people and security forces

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  • 2008-03-16

    BLASFEMAR EM LÍNGUA ESTRANGEIRA


    A capacidade dos portugueses em ouvir novas ideias é bastante limitada. Uma só ideia intranquiliza-os, duas faz-lhes subir o desconfiadómetro a alturas formidáveis, três é considerado um insulto à integridade moral, quatro fazem uma careta que chama a polícia e os outros fantasmas enquanto fingem que cruzam a ponte com as mãos apertadas nos temporais como o grito de Munch.

    Sendo assim tão más as coisas, dá-se o caso curioso de que, às vezes, ao articular uma ou duas ideias enunciadas em português corrente e camoniano (enfim, tenho clara dicção e ouvido) ao ver a cara do meu ouvinte sinto que estou a blasfemar em língua estrangeira.

    HISTÓRIA AMARELA



    Uma pulga estava cheia de cães e passava a vida a coçar-se e a tirá-los. Mas eram tantos que passou assim a vida inteira. Antes de morrer deu um último salto em direcção ao azul mas a vida engoliu-a sem reparar nela.

    Por acaso o contador de histórias amarelas passava ali nesse preciso momento. Quando viu uma série de cães azuis a voar em direcção às estrelas ficou muito irritado. Aquela visão não estava mesmo nada nos seus planos. Achava que era perigosa e optimista. Olhou para baixo e viu a sua canela ossuda e também amarela. Era ali que ele escrevia todo o mal que via.

    Mas os olhos nesse instante caíram-lhe ao chão. Uma moça gorda tinha-o empurrado distraídamente. Vinha a lamber um sorvete e com uma mansa brutalidade ia atropelando as pessoas porque era gulosa e distraída. Virou-se para trás e viu um homem com dois buracos no lugar dos olhos e disse:
    Engraçado os bonecos que eles agora perdem nas ruas.

    Agarrou o homem pela mão e arrastou-o pela rua. Do peito do homem não saía grande coisa: lesmas, sete tipos de vazio tibetano, um apara-lápis em mau estado, os pensamentos do Sr. Vespa. Mas das canelas saía um rasto enorme que ia cobrindo o mundo a pouco e pouco.

    Ela virou-se para trás e disse: e
    ngraçado como as cidades hoje em dia desaparecem sem ninguém dar por nada. Mal acabara de dizer isto foi engolida pelo último espasmo da pulga.

    Desenho de Frederico Fellini

    TIBETE LIVRE!


    Que a terra de Tilopa, Marpa e Milarepa e tantos outros lendários Yogis possa voltar a ser livre!
    Tashi Sok!

    2008-03-15

    DEUS

    Para Rafael na criação do Mundo não podia deixar de estar presente o Unicórnio, que vemos ao fundo a passo de trote (o único animal que corre nesta cena, talvez por ter sido o primeiro a ser criado?)
    Deus o Criador tem as vestes cor de terra de um monge. Deus era certamente um "monachos" (em grego, o que vive só) além de que era monista, monoteísta et par cause. Andava descalço, o que sugere de imediato uma terra sem espinhos, sem rasgões, sem estilhaços de virdo nem de granada - um "integrum", um mundo sem edificado, sem a problemática linguística de Babel, nem a hierarquização maníaca e hipertrofiada de Babilónia.
    Deus não fazia a barba. Aqui com as palmas das mãos viradas para cima no mudra da distribuição equânime de energia e os braços abertos da atitude destemida o Criador sem chicote nem postura de domador passeia em paz entre todos os animais, o leão à sua direita, a raposa à esquerda. Da sua cabeça saem os raios da Razão Ardente, ou do fogo de Tummo, da "candali".
    É um Deus com forma humana, humilde. Não tem nada do Jeová, soberbo, Deus dos Exércitos, sempre ciumento e cioso do seu poder ordenando fulminações quando contrariado ou desobedecido. Não é um Jovem soberbo de energia, com "gli splendore della giovenneza"a rodeá-lo e divinizá-lo. Não faria muito boa figura numa parada de estrelas contemporâneas a não ser como figurante secundário. Não fossem aqueles raios de 100.000 orgs que lhe saem pelo alto da cabeça, veríamos nele o Eremita do Tarot que saiu da sua gruta, imbuiu-se do fogo da sua lanterna, e entrou dentro de um sonho flaubertiano e paradisiaco percorrendo num êxtase calmo um mundo onde não existe o mal nem o Talho, e os parques de concentração para animais e homens em que nós transformámos a terra.
    Naturalmente os poetas ficaram depois do Caos, do Desastre, do Dilúvio, da Queda de Urano e das Três Idades sabendo muito bem como Teixeira de Pascoais (o homem que se carregava com relâmpagos durante as trovoadas ) que só há uma questão fulcral: O Regresso ao Paraíso, e que tudo o mais é "maya".

    2008-03-14

    MADONA DEL GRAND DUCA


    Esta Madona de Rafael é totalmente substancial: tem carne, respira, segura a nudez sem vergonha, tem a natureza calma de um bodhisattva. Ao contrário das vestes brancas e etéreas, veste do vermelho do Leão alquímico e tem o manto verde da Deusa da natureza. A aura de ouro emana da pele, como nos que atingiram a ignição da "candali". Tal como no ideal Zen de atingir a unidade do corpo, da mente e do espírito, aqui o corpo foi espiritualizado, o espírito foi corporizado. A atmosfera de calma energia e de luz clara do Vazio aqui combinam-se e sugerem os valores de um arquétipo fulcral na tradição hermética do Ocidente: o da Presença Regeneradora. O fundo escuro do quadro realça a fusão do Ouro do conhecimento com a "treva luminosa" e a redenção das forças obscuras da alma, agora alquimizadas : o dragão cativado e transmutado.

    A DAMA DO UNICÓRNIO


    As mulheres de Rafael tem um porte altivo e mágico, com uma contenção e uma elegância aristocrática ao mesmo tempo serena e inspiradora. Neste quadro, a perspectiva, entre duas colunas, abre-se sobre a majestade do espaço infinito. Sugere uma osmose entre o espaço e a realeza do ser, e a abertura ao infinito como consequência desta postura de força calma. O Unicórnio ao colo ainda está na infância, sorri, está seguro e calmo. O seu único corno espiralado é forte, indica a saída da "candali" ou fogo de Tummo pelo alto do crânio. Do ponto de vista jungiano o unicórnio simboliza o animal interior espiritualizado, totalmente presente na pessoa com todas as suas energias não domesticadas, integrado na Presença Total do Ser. No fundo temos aqui a hipostase da Deusa da natureza, outro aspecto da Madona com o Infante Real ao colo.

    2008-03-12

    A VIA DO ACTOR

    Dando continuidade a um dos temas caros a Sísifo: a heteronímia, as técnicas de alter-egoidade e a representação, o "acting" como forma de Yoga, eis sob a égide de Mr. Natural mais uma contribuição para a arte do "imageneering" (1):



    O actor não imita, representa. Nesse sentido imbui-se da presença do outro, ou seja transubstancia-se e para isso tem que eliminar o seu ego ao ponto de "morte branca" (morte do ego).
    Um mau actor - a maioria - representa por imitação, com o seu ego em cena pretendendo ser um alter-ego. Um bom actor, morre em cena ou morre antes dela e consegue transubstanciar-se. Sai da experiência revigorado, energizado - esteve em contacto consigo sem ser por intermédio da consciência egoica. Mobilizou energias interiores, tocou no ponto em que a Musa e o Poeta coincidem (a inspiração e a expressão).

    O caminho fácil é pela via das drogas enteogénicas, que abolem temporariamente o "despotismo do ego" e dão entrada no Kairos da presença. Quase duas gerações seguidas de cantores (desde Janis Joplin a Kurt Cobain) tem seguido a via fácil de adquirir o Kairos e o consequente Ec-stasis (2) por via das substâncias enteogénicas - que são apenas instrumentos temporários e não próteses psíquicas permanentes.

    Um mau actor recorre à dependência de uma droga e executa quando muito chanelling - o que é um estado passivo, monótono e pouco criativo. Um bom actor tal como um bom músico ou um bom tradutor é um intérprete. É um tradutor-intéprete doutra personalidade com a qual entra em ressonância num processo co-criativo.



    (1)

    imageneering

    Definition

    Group idea-generation technique in which participants try to visualize how things (products, processes, situations, systems) would be if there were no barriers and perfection could be achieved. Then they question why things are not that way, and proceed to dismantle actual or perceived hurdles in achieving that objective.

    imageneering is in the Decision Making, Problem Solving, & Strategy and Information & Knowledge Management subjects.

    (2) The Greek meaning of ecstasy is to stand outside oneself. To stand outside oneself and thus turn subject into object is Samadhi. Jana Dixon


    TRANSUBSTANCIAÇÃO


    Numa iniciação shamânica o lobo transforma-se em pássaro e o pássaro em lobo. Mas só depois do lobo se individuar como lobo e o pássaro como pássaro.

    2008-03-09

    O ARRANCA-LÁGRIMAS


    Seduzidos com as suas próprias lágrimas os imperadores erguem-lhes templos, sonetos, ideologias, países, mães encarquilhadas e faustosas. De voz embargada vão de joelhos até às suas próprias lágrimas, bafejam-nas. Puxam-lhe lustro e vendem-nas às revistas populares sempre sequiosas do "choro dos grandes".
    Olha o Grande Pafúncio, eterno nobelizável, verteu uma lágrima de donzel, é como nós, ainda tem emoções virgens. Ergue estátuas ao canto do olho. O vazadouro orbicular mantem-no na semi-oblíqua, choremos, pois com ele.
    E assim temos papas chorosos à varanda, comendadores trémulos, homens de letras emocionados e comovidos, o grão-mestre do verde vergado pela lagrimita. E sem dúvida existe sempre com taxa de juro a subir, um bordel de lágrimas virgens sempre pronto a abrir as portas no peito de um cronista que por acaso também é poeta e romancista.
    Mas tu - grande lágrima fétida do meu mau querer - és huna, não tens unidade- lá nas raizes venenosas dos teus cascos ainda desobedeces nas lágrimas sentidas e bem nascidas, que vão direitas à bandeiras e às colunas, aos homens-coluna e às matronas, e às vigérias e vigilantes dos templos da pútria, digo da pátria.

    A GRANDE MANIFESTAÇÃO


    Parabéns aos manifestantes da marcha da indignação: uma das maiores de sempre em Portugal, constituida por membros da classe mais fundamental e decisiva no nosso país.

    2008-03-08

    THE JOYFUL ANARCHIST

    2008-03-07

    se saísses com uma saia demasiado curta


    EXCERPTOS DE UMA ENTREVISTA A NADJA SINCLAIR FEITA PELO SÍSIFO

    Na realidade nós os portugueses não sabemos muito bem o que fazer. Os infectários ou infantários estão cheios de desgraçados de amanhã, a apanhar bactéria colectiva. Já nos cansámos dos nossos carros. À espera de Godot? Nem por isso. Estamos numa espera viciada, num stand by em que não se espera nada. Tipo uma gaja pintar as unhas com petróleo, só para queimar tempo. Podia haver censura visual, e piropos pleistocénicos se saísses à rua com uma mini saia demasiado garrida. Havia um milhão de ruas estreitas em que andávamos sempre com um dedo apontado por cima de nós, mas se calhar podia-se transformar o dedo num pássaro.
    Outras cidades tiveram a guerra, nós tivemos os empreiteiros. Já viste como deram cabo da cidade? houve uma guerra silenciosa e surda que começou em Oeiras e no Cacém e no Barreiro. Nasceram milhares de suburbanos que seguiam outros suburbanos. Numa sociedade de causas fracas e identidades diluídas, e onde a religião caiu no grau zero substituída por hipermercados, também não se esperaria muito mais.
    O cinema português também não nos ajudou quase nada, isto na linha de que o cinema é a nossa mãe. Era pouco, fraco, cheio de tensão, ou muito nostálgico ou estupidamente violento, mas sem mistério nem perigo. Pertencemos sempre a uma televisão atirada pela janela fora, quando somos independentes
    Eu que gosto de me perder na montanha até que cheguem os lobos, ou formas estanhas de vento, cresci com a ideia de que era uma vergonha uma mulher ter ideias e pior ainda pô-las em prática. O cinema português é uma indústria de pequenas sombras com demsiado destino. Deve ser por aí: uma nação com demasiado destino tira demasiada às pessoas, deixa-as hirtas. Tipo malta para se excitar com bandeiras e hinos e outras tretas.
    os putos não podem brincar nas ruas. Estão sempre em trânsito de um centro comercial para outro, e depois vão à neve quando os pais tem algum dinheiro - mas como aquilo também já está tudo estragado nunca vêem nada em que não se tenha que pagar, pagar, pagar....

    FÉFALÓ

    fol foli fó
    fóló? falfoli
    faló? Folifáfáfoloé fáfá filo felé falala fálálá filofoló?
    Falaló fi fófó fofóli felé féfé félélé lá félá
    Fálaló falfalá feléli Fófi fofu Fá Fó
    Fi Fé Fa fó? Fifó! Fofáfé fiféfa fafifi
    Fa fa fi Féliló Fáfáféfifó Fófifú fáfelé
    Fó fi fe fá? Fáfá e fifilé! Fá fó fi fú! Fú!


    2008-03-06

    Redescobrindo o FREUDIANO oculto

    O que se faz quando descobrimos no nosso interior um feroz eremita, disposto a defender a sua solidão com uma moca? A ideia de o passear em trajos gregos menores pela avenida, embora tentadora, será concerteza desaconselhável. Os tempos andam distraídos. Diógenes passaria desapercebido numa rua de Lisboa, ou pior, seria considerado um figurante.
    Amarrá-lo à estaca do super-ego? Mas é lá precisamente que ele estava amarrado. O eremita representa um lado que todos temos - a meu ver - que desenvolver - o lado associal e selvagem, o renitente resistente a todas as tentativas de socialização. Um homem lobo. Exactamente o que é interdito por completo nas escolas uniformizadoras da democracia e no socialismo, além de o ser também na maioria das religiões, criadoras de carneiros raivosos ou paranóicos.

    Redescobrindo o FREUDIANO oculto

    Para onde vão todos os pêlos das pernas que as mulheres raparam? Para asas, diria um galantuomo com amáveis tiques de poeta. Para o Inconsciente Universal diz o Freudiano Oculto. Para o lixo!!!, afirma nada impressionado, com um despacho pragmático de homem das berças insensível à nuance, o nosso amigo Porkêra.

    Eu depois de ler o Teorema da Incompletude de Godel que demonstra que há proposições verdadeiras sobre os números naturais que não podem ser provadas estou inclinado a crer que os pêlos rapados das pernas das mulheres depois de irem para o lixo, requalificam-se e passam para o Inconsciente Universal onde, a seu tempo, adquirem asas.

    Redescobrindo o FREUDIANO oculto

    Depois de extrair o super-ego da minha consciência descobri que se tratava de um abutre.

    2008-03-05

    CIDADES


    as cidades de um deus único prezam desfiles militares e monolitos, as sem deus entregam-se a todos os desvarios e abrem janelas a mais nos prédios e nos crânios. As que atrevidamente trocaram os deuses por anúncios luminosos pagam muito mais impostos e estão cheias de gente com insónias opacas e persistentes. As cidades de demasiados deuses menores são impossíveis ao crepúsculo e ficam abarrotadas de milagres pequenos na alba, género pássaros a sair pela torneira da água, e serpentes etruscas a habitar as lâmpadas.
    Há muitas cidades actualmente só de ratos, embora tenham uma aura humana como camuflagem. Outras são vermiurbanas: criam os novos vermes que governam e concentram. Entretanto as escolas imolam os cérebros mais promissores, depois de os dobrar quatro vezes para os meter dentro do mal e do bem.


    Sou um filantropo associal e assim tive a ideia peregrina - as únicas boas - de fazer contos curtíssimos de blog para ler no metro à hora de ponta. Seguem-se 4 ou 5 exemplos. Talvez alguém se inspire neles para desviar o metro e dirigi-lo sem hesitações até ao centro da terra. As cidades impossíveis podem começar a nascer a partir de uma breve inflexão numa sílaba - acha a única ciência caótica e precisa dos nossos dias: a patafísica. As cidades também podem desaparecer dobradas dentro das pregas de um jornal ou de uma vagina. Seja como fôr aqui estão os contos. Cada um deles participa daquela "tranquila e desesperada inquietação" tão contemporânea.

    CONTOS BREVÍSSIMOS DE DUAS TRÊS QUATRO LINHAS


    Depois de decidir que a vida era fútil assentou praça numa farmácia. Dava arsénio a todos com um grande sorriso bondoso.


    Como gostava muito de vento arrancou todas as portas e janelas da casa: também sonhava dormir por cima de um relâmpago.

    CONTOS BREVÍSSIMOS DE DUAS TRÊS QUATRO LINHAS


    Naquela cidadezinha do interior o bordel só tinha prostitutas velhas, de muletas e bengala. À entrada davam uns óculos muito escuros ou uma venda para pôr nos olhos.

    CONTOS BREVÍSSIMOS DE DUAS TRÊS QUATRO LINHAS


    A mãe queria que todos os filhos fossem tontos por isso extraía-lhes o cérebro. Era uma mãe prática: naquele país bastava ter espinal medula.

    CONTOS BREVÍSSIMOS DE UMA DUAS TRÊS LINHAS


    O predador alienígena que era um cirurgião louco divertira-se a implantar um pénis na cabeça de cada homem.

    CONTOS BREVÍSSIMOS DE UMA DUAS TRÊS LINHAS





    Naquela aldeia muito pobre todos os homens partilhavam um único preservativo.

    2008-03-04

    O LAMELOCENTRÍDEO


    Correio da Manhã – Vai criar um partido?

    Rui Marques – Sim. Está iniciado um movimento para formar um novo partido em Portugal. Vai-se chamar Movimento Esperança Portugal, a sigla é MEP, e o slogan é ‘Melhor é Possível’.

    Já o inefável Guia dos Povos em Marcha Para a Auto-determinação das Auto-estradas, o inimitável Sócrates imitou Obama, com o seu Yes we can! Agora, psitacídeo como um bom português, Rui Marques que passaremos a chamar Rui Marx apresenta o slogan "Melhor é Possível".
    A Era não vai sem publicidade, sem slogan. Copiam-se uns aos outros, sem problemas.

    E isto é que é imaginação, melhor dito, verdadeira economia da imaginação: A sigla é MEP, o slogan é MEP. Great Marx!

    O futuro cidadão carneiro dirá MEP MEP, em vez de mée-mée.



    – Não vai contra a maré ao querer criar um novo partido?

    – Contra a maré, seguramente, mas esta é uma decisão fundamental.


    Contra a maré, o caraças! Vai perfeitamente a favor da maré, dadas as taxas de abstenção existentes e a descrença nos políticos actuais todos contaminados, e o desejo formulado em todos os tons que se crie um novo partido - já se tinha percebido isso com a candidatura oblíqua de Manuel Alegre. Só mesmo um cego surdo mudo é que não perceberia que os portugueses queriam um novo partido.

    A política é o terreno onde se joga, de forma decisiva, a construção do bem comum.

    A política não é um terreno, é uma ficção. Uma forma de escrita, onde imperam os péssimos escritores e os publicitários que criam mantras hipnóticos.


    – Como se define o MEP?

    – O MEP pretende ser um projecto político de centro. Ao centro do espectro político. Hoje em dia a divisão direita/esquerda coloca-se muito em causa.

    Os partidários do centrão esvaziam a direita e indefinem a esquerda. Como tentáculos globalizantes fazem desaparecer os confrontos extremos. Água chilra, marinheiros de água doce, opiniões mornas e moderadas.

    Os valores de missão do movimento colocam-no, claramente, ao centro, se quisermos entre o PS e o PSD.

    Valores de missão do movimento!...Ou seja um partido missionário, à partida.

    Se quisermos, porque o centro é o melhor local para construir pontes

    Perigosa metáfora, o Sócretinas anda danadinho por construir pontes. Àparte isso uma frase balela.

    . Estaremos sempre muito centrados em contribuir para unir, em vez de fracturar.

    O unionismo. O centro centrado. Não fractura une. Deve estar a falar para mongolóides. No que tem muita razão, os portugueses são politicamente mongoloides.

    Depois, é um movimento humanista. Defendemos uma visão de sociedade onde o homem é o princípio e o fim da razão de ser da organização social, do Estado, do desenvolvimento social.

    Preferia uma visão de sociedade onde o gato e o pássaro, a serpente e o cavalo, o golfinho e o lobo fossem o princípio e o fim da razão de ser da organização social, do Estado e do desenvolvimento social.

    Já agora lembra-se ao Rui Marx que já cá houve um partido com projecto de união, chamava-se União Nacional. Albergava, no ideal, todas as correntes. Defendia o homem orgânico dentro do quadro de um Estado Orgânico.


    – Quem integra o MEP?

    – Há um grupo de sessenta pessoas, cidadãos comuns, na sua maioria entre os 30 e os 50 anos, de vários pontos do País.

    Cidadãos comuns tem ideias comuns, ou seja, agitam lugares comuns e sai uma coisa comum. Quando há tanta precaução em ser comum e normal entra-se claramemte nas patologias da normalidade.

    Que pena não haver cidadãos incomuns que tirassem este país da tirania benfeitora da comunidade com um programa incomum, decisivamente fracturante.

    – São pessoas de direita, de esquerda, Maria José Nogueira Pinto integra esse grupo?

    – É bom esclarecer que este não é um projecto de direita, este não é um projecto católico – não há partidos católicos –,

    Ai não que não há! Chame-lhe se quiser de "inspiração católica".



    não é um projecto que nasce para combater o aborto, não é um projecto que tem figura A, B, ou C.


    Um projecto infigural, portanto. Não terá as figuras A, b ou C mas terá as figuras D, F ou G.


    Este é um projecto da política de esperança

    Onde é que já ouvi isto pela enésima vez?


    , que está ao centro para mobilizar os portugueses. E que não nasce por ser protagonizado por figuras notáveis da sociedade portuguesa. Nasce de baixo para cima, com cidadãos comuns, dizendo: é a hora de nos levantarmos e dizermos que o futuro está nas nossas mãos, e não ficarmos sempre à espera de que um qualquer D. Sebastião nos venha salvar. Nem ficarmos sempre nesta lamúria de que isto está cada vez pior. A Dr.ª Maria José Nogueira Pinto não faz parte.

    A Dra Nogueira é lamúria, o MEP é anti-sebastianista. É muita centro.

    Note'se ainda: mais um a falar de futuro.

    – Não teme a concorrência do MIC, de Manuel Alegre, ou resultados similares ao do PND?

    – O MEP não nasce para se comparar com ninguém.

    Um nascimento incomparável:

    E muito menos para criticar quem está.

    Descansem portanto, em paz, os actuais situacionistas em breve, graças a este partido todos nos acomodaremos na paz do Senhor.

    O MEP nasce para construir e não para destruir

    A identificação pia e primária de crítica com destruição


    . Este projecto não é um projecto anti-sistema,

    Pois é pena, porque o que está em causa é exactamente o sistema-

    não é um projecto para dizer que a política é corrupta, que os políticos não prestam. Que está tudo mal.


    Este ideal naif de fazer boa política com maus políticos. Não há rapazes maus.


    Mas de facto, está tudo mal desde a arquitectura ao asfalto, da ordenação do território à deordenação das mentes, do futebol às discotecas, da polícia transvenal aos guardas de segurança. Temos excelência em fazer tudo mal porque somos um país piroso e ignorante, e sem memória, passivo graças ao xanax que lhe injectaram, literalmente e em todos o sentidos, nas veias.



    O País precisa de se mobilizar para a construção de um futuro comum e não estar permanentemente em guerrilhas que nos vão destruindo até à exaustão.


    Mais outro a falar de futuro...e aqui vem a promessa de uma política anti-guerrilhas. Lembra o general Eanes, o vesgo, com aquela de "construir para o futuro".


    – Tem ambições eleitorais para 2009?

    – Iremos às eleições de 2009, se conseguirmos este objectivo de criar o partido. Temos de recolher 7500 assinaturas e, se essa etapa for ultrapassada, temos como primeiro grande objectivo as eleições em 2009, particularmente, as Legislativas e Europeias. Nas autárquicas teremos alguma participação, mas é mais difícil. E note-se outro traço distintivo do MEP. O MEP não existe em função de resultados eleitorais.


    Boa!
    Então existe para quê?
    Tema missão de espalhar um simplex de lugares comuns irrelevantes.


    PERFIL

    Rui Marques, 44 anos, licenciado em Medicina e mestre de Ciências da Comunicação, é conhecido por ser uma figura de causas. Faltava-lhe uma: a de criar um partido pela positiva (l
    inguagem tonta, à Laurinda Alves), contra a lamúria, para encontrar soluções e superar dificuldades. (puro bla bla)

    Entre Novembro de 2005 e Fevereiro deste ano foi o alto-comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural.
    (não se deu por isso, mas ambém não foi para isso que foi nomeado)

    Fundou e dirigiu o Grupo Fórum, foi responsável pela ‘Fórum Estudante’ e durante o período de entre 1986 e 1991 trabalhou no Grupo Renascença. Ainda hoje se sente como um jornalista. (
    do sentir-se ao ser vai um oceano)

    Em 1992 coordenou a viagem mediática Lusitânia Expresso - um grupo de jovens que tentou, sem êxito, chegar a Timor-Leste. (
    agora tenta o MEP-MEP Expresso, com gente não tão jovem)

    Rui Marques trabalhou ainda três anos como adjunto do Padre António Vaz Pinto. (
    mmmm....sacristão?


    Em suma: era uma boa ideia que houvesse um novo partido, mas este afi
    gura-se um aborto bem comportado
    feito por meia dúzia (60) missionários.

    O INVULGAR INFULGOR DA ESCRITA (dos cadernos de Pan)


    Quem de facto escreve, com generosidade 5 ou 6 pessoas em Portugal, sabe que tem que se passar por uma fase noite escura da pirotecnia, na qual se o escritor tiver paciência e trabalho, lança pela borda fora a cintilância, o féerico e a bolha de champagne e também se despede feroz ou alegremente da publicidade ao brilhozinho na sílaba.

    Assim, tendo pelo caminho excluído o destino e a sorte, e mesmo aquele primeiro verso dado pela Musa, o escritor chegará à sua essência surda e opaca, à terra do seu em-si, onde as nuvens são subterrâneas e os grandes rios cruzam os céus.

    Mas há muito mais para a frente, de facto, só agora a jornada começou, plenamente sem objectivos, até chegar à "unio mystica" com o Verbo que não se cansa de re-escrever todas as coisas.

    A plenitude incompleta, podia-se chamar a esse estado gratuito e infiel às possibilidades racionais da era. Mas que tem que ver com a ascenção de todas as coisas, não à fantasia e à fábula, mas a uma super-realidade.

    na terra em que vivo
    não acontece quase nada
    o sol cai pela cal dos muros
    papéis voam pela estrada
    os pica-paus esquecem-se das árvores
    e as asas oferecidas numa caixa de chocolate
    são pequenas demais

    2008-03-03

    sou como um país que se foi com as nuvens











    A lucidez representa sempre uma tremenda perda de popularidade, por isso os lideres políticos e os socialites fazem o possível
    para não parecer inteligentes, e para isso, convenhamos, não tem que fazer grande esforço.


    ESTADOS GERAIS PESSIMISTAS


    Nada é mais irritante do que racionalizar à força um país onde viceja um caos luxuriante, e uma irreverência simpática em relação à pontualidade.

    Um país que teme estar "atrasado" e tudo faz para o evitar nunca se adianta.

    O balanço difícil de um país que se esqueceu de construir novos labirintos é este: está entalado entre "nobres múmias" e novos cadáveres técnicos e modernizadores.

    Não deixa de ser curioso ver um país modernizado por gentes que tem um cadáver atravessado no cérebro.

    Os pessimistas amargos e os candides optimistas escrevem mal: o fel do mel de um não suplanta o mel do fel do outro, por isso sugiro o pesismismo tónico. Tem a vantagem soberana de não ser nada de novo e ter a chancela dos estóicos.

    Há certos sorrisos que tendem para o esgar permanente.

    Tenho visto que os governos aumentam o número de moscas, e as autoestradas a quantidade de lixo.

    Um homem simplista pensa com o cóxix.

    A vertebração do homem consistiu em criar uma vértebra gigante: o crânio.

    Sempre que vejo um pensador francês mudo de hemisfério (cerebral).

    A paixão igualitária é sempre imposta pelos que crêem que as sociedades de estúpidos normais funcionam muito melhor. Tem toda a razão, funcionam sem dúvida, mas não existem.

    O mau funcionamento da natureza é o que a tem salvo de se parecer a um saco de plástico.

    Reclamei e conquistei este privilégio: nascer sem Estado. Sou o primeiro dos não hegelianos: cheiro a horda mongol e a montanha e não deixo marcas por onde passo. Ofensa à sensível pituitária, às cabecinhas Lego? Um pensamento que não deixe sangue por todo o lado é o quê?

    A paixão de querer transformar o mundo tem-no tornado cada vez mais inviável.


    Foto cavernas do povo "guanche" nas ilhas Canárias

    2008-03-01

    O REGRESSO AO ARTIFICIAL


    Nada horroriza mais o homem contemporâneo do que o "natural". De resto, é o herdeiro de uma postura histórica; a natureza, há milénios, tem sido controlada para se afastar de parecer natural.

    Mesmo nos jardins Zen - o pináculo da artificialidade - esta é usada para que o jardim pareça natural. Mas não é de todo, foi disciplinado até ao mínimo promenor. Parece um sutra que legisla todos os paramitas.

    Nos jardins franceses a irritação que o natural causa ao espírito francês é mais do que óbvia. Ali nada cresce espontaneamente. Tudo obedece à régua, ao compasso e ao esquadro. Tudo se passa como se nada na natureza pudesse ser imprevisível. Tudo tem que estar sujeito à ordem imposta pela geometria. Um jardim francês parece a demonstração de um teorema. A natureza pode-se conquistar, formatar e moldar - e a natureza do espírito francês parece ser a de um simetrizador, de um atenuador de variantes - a não ser as controladas. No fundo, a diferença entre um jardim francês e um código civil é só de pormenor. Num lê-se o outro, ambos se contem e se incluem e prolongam.

    As categorias favoritas do espírito francês: a clarté e a ordem que supostamente favorecem a razão, estão evidenciadas nos seus jardins. Por isso, há muito tempo que em França deixou de haver natureza - a não ser em terceiro grau, dessolidarizada do iregular, do imprevisto, do assimétrico. Maquilhado e mascarado de racionalidade, um jardim francês é uma ode ao cartesianismo e uma marca de poder do artificial.

    Mas não se pense que a graça da espontaneidade livre está no jardim rarefeito, o jardim Zen. Este é um tipo de jardim completamente calculado, de uma espontaneidade afinal em trompe l'oeil. Interpretado como um modelo de serenidade, no entanto, isso é contestável. Pode, outrossim, ser visto como um xanax visual, que acalma a mente e que aparentemente favorece a contemplação. O minimalismo que contem, no entanto não é o da natureza. Esta nunca é económica, pelo contrário é sempre débordante, excessiva, fértil. Um jardim Zen clássico que pretende representar a essência da natureza no fundo é a coisa mais contra natura que há. Se o Zen traduz a expressão da razão espontânea, nos jardins Zen está mal traduzida, a meu ver, essa expressão, reduzida ao osso, desincaranada. Por isso, não me parece que contenha a essência da natureza, nem um modelo subatómico da mesma. Antes uma proposta laboratorial. Um exercício de desincarnação vigiada, quando muito.

    E é aqui que o jardim Zen e o jardim à francesa se tocam e cruzam, tanto um como o outro, em nome da exaltação do natural são contra a natureza. Preconizam ambos o regresso ao artificial, ou seja, à tenaz intervenção - num explícita e triunfal noutro subsumida e sub-reptícia - do homem sobre a natureza.