/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力: 2008-02

PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

LES PRIVILÉGES DE SISYPHE - SISYPHUS'PRIVILEGES - LOS PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO - 風想像力 CONTRA CONTRE AGAINST MODERNISM Gegen Modernität CONTRA LA MODERNITÁ E FALSO CAVIARE SAIAM DA AUTOESTRADA FLY WITH WHOMEVER YOU CAN SORTEZ DE LA QUEUE Contra Tudo : De la Musique Avant Toute Chose: le Retour de la Poèsie comme Seule Connaissance ou La Solitude Extréme du Dandy Ibérique - Ensaios de uma Altermodernidade すべてに対して

2008-02-29


chamaste o anjo com metáforas




num estrito voo sem sílabas
prendeste-o num labirinto

de tudo isso fugiu
mas deixou-te uma asa branca
e uma asa negra

e o dom de perder-te
em cada vida


Foto de Francesca Woodman



clique na imagem para aumentar - click the image to enlarge
and hear a lot of wisdom or noise according to your party

PEDIDOS DE EMPREGO (Histórias verídicas com H)



Desta vez a coisa era forte: ia pedir emprego a uma agência que pretendia examinadores de candidatos de emprego. Fui lá penteado por M.Savutti, o cabeleireiro unisexo da moda. Vestido por Brian Christie, London. Uma camisa de seda pura, com botões de punho. Uma gravata do Picadilly. Perfumado por Chanel pour homme. Levava uns sapatos ingleses, clássicos. Escondi a tatuagem do pulso com o sinal mágico de Astaroth, a deusa do Eros fenício, com um penso. O piercing na orelha foi camuflado com um mini adesivo cor de pele posto por um tipo amigo da televisão.

A entrevista estava a correr muito bem quando o entrevistador perguntou: Você está a responder a tudo muito bem e a sua aparência é como a de Zeuxis ou Van Dick, sabe, o dandy essencial...mas noto agora uma coisa que falta. E a sua cabeça?

Lancei as mãos à cabeça. E fiquei imediatamente apavorado, não estava lá nada: tinha-me esquecido da cabeça em casa, debaixo da almofada.

O meu entrevistador riu à gargalhada. Depois sem me dizer nada desatarrachou a própria cabeça com muita elegância e atirou-a para o chão, onde caiu e se quebrou.

De lá de dentro saíram centenas de entrevistadores.




A man considers going to a job interview. The interviewee has already learned statistics and utility theory in college and performed well in the exams. Considering whether to take the interview, he tries to calculate the probability he will get the job versus the cost of the time spent. The young job seeker here forgets that real life is more complex than the theory of statistics. Even with a low probability of success, a really good job may be worth taking the interview. Will he enjoy the process of the interview? What strategic value might he win or lose in the process? Even the statistics of the job business are non-linear. What other jobs can come in the man's way by meeting the interviewer? May there be a possibility of a very high payoff in this company that he has not thought of?


2008-02-28

HAI KAI DE 4 PATAS (resumo de um dia ordinário)

não sabemos nada
nem sequer nascer
o mais que fazemos:
agarrar a imagem da lua no lago

PEDIDOS DE EMPREGO (Curtas e verídicas histórias com H) - II

Na Escola de Línguas Universo onde eu - poliglota semi-profissional fui propôr os meus serviços - o director, o dr Flórido Parsifal Smith, um homem de maxilar possante, cova hirsuta no queixo, tinha um olhar magnético e perfurante o qual, depois de uma rápida inspecção ao meu vestuário de circunstância, um fato completo de burocrata eficaz, aprovado com um hum! se cravou logo no meu bigode de pontas longas, taoísta( eu andava a ler Lao Tzu e sem acção da minha parte o meu bigode assemelhava-se a cascatas de água a cair da cordilheira) e percebi que isso o incomodara bastante.

A verdade é que aprovada sem hesitações a minha forma de vestir, modesta e digna de um católico luso, em cinzas meritórios e low profile, onde apenas uma camisa azul (emprestada pelo Jacinto Telles de Menezes) punha uma nota minimal de dandy corrente, o Dr. Flórido Parsifal Smith não estava a achar graça nenhuma ao bigode.
Assim, um pingo de fel apareceu-lhe na cova do queixo. Verberava-me, o pingo e o seu olhar hipercrítico de nativo do signo da Virgem com ascendente Balança fuzilava-me.Via-se logo que ele me estava a ver como um freak, que desviaria a atenção dos alunos com aquelas exibições imodestas de pilosidade imprópria. O seu olhar, misto de inspector ASAE da aparência e raio laser, no entanto, ia além das pontas flutuantes do bigode e esquadrinhava os recantos mais inacessíveis da minha alma, onde existe uma cama de rede entre duas bétulas e no chão um garrafão de medronheira ilegal, provindo directamente da altiva serra de Monchique. Ah? disse ele com um ar reprovador ao descobrir o triângulo de Osíris da minha clandestina preguiça e ao vislumbrar o garrafão com o precioso viático. Como é que o senhor se descreve?
Ao ouvir aquela pergunta armadilhada e clássica que vem em todos os compêndios de Ganhe Todas s suas Entrevistas de trabalho, no entanto, perdi o contrôle sobre mim mesmo e num acto indecente de inocência espontânea disse-lhe a verdade:
Sou um sem-abrigo do pensamento por isso não penso ao abrigo de nenhum sistema ou corrente- disse-lhe de uma só assentada. Antes de acabar a frase já me arrependera mil vezes de a ter dito e assim a minha perna direita começou a dar uma série avulsa de fortes caneladas na perna esquerda, tão fortes e inesperadas que me pus a uivar e disse Scheisse! em várias línguas. além doutros palavrões compostos todos começados pelo férvido e sibilante "F".
Para meu espanto o Dr. Flórido Parsifal Smith ergueu-se com a careca brilhante, fazendo cair para trás a sua cadeira, e com os olhos alegres e cúmplices estendeu-me uma mãozorra honesta, firme e peluda ao mesmo tempo que me dizia entusiasticamente: Pode-se apresentar amanhã mesmo no Sector B!

Estive quase para aceitar tão inusitada proposta, porém, num relance vi que a minha cama de rede estava na sua manápula esquerda, por isso dei o berro de Shangri-La (provindo do fundo do Hara) e saltei sobre a mesa para lha arrancar das mãos. E confesso que suspirei de alívio ao surripiá-la de volta e ao ver pela expressão negra da sua cova no queixo que eu nunca me apresentaria no Bloco B.





2008-02-27

Valley Creek


Valley Creek, originally uploaded by pittsinger.

A ARMA DE DUPLICAÇÃO MASSIVA


A relação do último século com o espelho, objecto que na sociedade feudal era raro e só possuído por mulheres da nobreza, foi extraordinária: nunca antes tanta gente se vira todos os dias com tanta objectividade à procura de uma perfeição possível da aparência.
Mais do que o automóvel o espelho foi o veículo de transporte do passado século: transportou as pessoas para as suas réplicas, inaugurou o culto da imagem, reforçou sem dúvida a consciência do ego, e tanto feriu o narcisismo como incensou a vaidade. Por isso, mais do que o botão, o espelho devia ter o Prémio Nobel. Tornou o homem dual, vigiado pela sua imagem. Promoveu a ditadura do duplo.
Assim o século passado, graças à divulgação maciça do espelho, e à disseminada prática especular, foi o século do Narcisista Prático.



PAROQUIAIS E ILUMINADOS


Este governo quer estar a todo custo dans l'air du temps, e supõe que isso consiste em ter uma postura cientista, racional, programática e com hiperobjectivos a realizar o mais depressa, custe a quem custar. E contra si, define o governo, tem as forças das trevas que são "irresponsáveis" e talvez pior do que isso "paroquiais".
O governo tem assim um voluntarismo compulsivo e radical de mudança, e quem desconfia da bondade e oportunidade das mudanças impostas por decreto é "imobilista". A pouco e pouco tem este governo polarizado as situações, criando um maniqueísmo prático, com efeitos colaterais fundamentalistas e totalitários (não de todo surpreendentes no socialismo, que recorde-se procede de uma cisão do primeiro comunismo).
Cheio da superstição no poder da "técnica", dir-se-ia que o primeiro iluminismo chegou agora finalmente, com 200 anos de "décalage" a estas praias. Os obreiros iluministas arregaçam as mangas e com uma ingénua crença na "ciência" propiciam momentos não de ciência, mas absolutistas. Numa palavra confundiram a atitude cientóide com a atitude cientifica, embora se reclamem de dois dos atributos da ciência: o rigor e a objectividade.
Para se justificar das suas acções arranjam um mentor de peso: A Europa. Para o Governo há que "estar em conssonância com a Europa". Este mitema de conssonância, significa uma política de alinhamento e de seguidismo em que, sob pena de ser retrógrado e imobilista, "não se pode ficar para trás". Isto dá lugar a uma peculiar e geral ansiedade de conssonância
Aqui há um acto de fé de tipo naíf nas possibilidades liderantes dessa entidade vaga e platónica "a Europa" que se supõe estar imbuída das forças iluminadas do progresso e da economia. A falácia desta proposição é que não há garantia nenhuma que a Europa seja o que o governo pensa que ela é. Pode dar-se o caso de o modelo europeu não ser mais do que o último avatar do capitalismo neo-liberal e estar a repisar os paradigmas de um modelo industrial e social em estado agudo de falência global.
Um quadro de Breughel em que outros cegos e coxos seguem um cego que vai à frente, a meu ver, ilustra bem os caminhos "conssonantes" deste governo, carneiro obediente, servo fiel da "Europa", preocupado em obedecer ao figurino exterior, empenhado em destruir a sua identidade para construir um clone.

Fotografia de Parke Harrisson

PEDIDOS DE EMPREGO (Curtas e verídicas histórias com H)

Não percebo porque razão o director do Airplane Software Systems ficou a assobiar para o lado, à minha frente, quando chegou à parte do meu currículo em que eu declarava - por minha honra- ter sido o executive designer de uma Usina de Sonetos com Hospital de Sílabas anexo, localizada na Via Láctea, ou seja na zona sigma do hemisfério cerebral direito.
Pouco depois apareceram os homens de quépi, uns tipos estranhos vagamente inclinados para o seu lado direito donde pendia uma pistola. O director apontou com o queixo para mim e disse numa voz soft, de comandante inato: este indivíduo julga-se muito engraçadinho.
Ao ver as bolas metálicas avançar para mim lembrei-me, por acaso, de saltar para cima do crânio do engenheiro Perseu Pereira, o director da Airplane Software Systems. Cheirava a um dos muitos perfumes modernos que se parecem com muitos perfumes modernos. Nem era assim tão mau. Uma película de caspa à minha frente tinha todo o ar de ser um site specific, e não uma parte perdida do couro cabeludo. O pior é quando vi sair pelo crânio bolas metálicas escuras. O director tinha seguranças espalhados por todo o seu corpo.
Custou-me então perceber que o meu pedido de emprego fôra recusado.
Fiquei muito encanitado com isso, mas depois tive uma ideia luminosa: despedi o director.

Clique na imagem para aumentar
De facto podemos viver em narrativas diferentes e quase inconciliáveis: para mim toda a zona chamada Parque da Expo é uma zona urbana degradada. Quando se chega pela ponte Vasco da Gama não há nada a descobrir a não ser uma malha urbana sem surpresa, rectilínea, visualmente aborrecida e com aquele tipo de presença artificial da maioria dos bairros modernos desenhados de raíz. Um exemplo a não seguir da "sick architecture" tão bem definida por Hundertwasser.
No entanto, na linguagem pífia do poder é oferecida como "marca da modernidade".


Imagem: Nacimiento retirada do excelente blog Agency of the Urban Unconscious

2008-02-25

Kelp and red algae at Cabrillo NM

2008-02-24

UM JAPONÊS EM PORTUGAL


Em Portugal em que a actual esmagadora maioria dos urban people veio da província as pessoas tem não só vergonha das suas origens camponesas como raiva contra todo o tipo de espaço que lhes lembre o campo.
Além disso, tem um mau conhecimento do que seja realmente moderno o que as leva a ter a superstição da modernidade. Tal como nós japoneses que nos deslumbrámos com o Skyscape definido pelos arranha-céus, e destruímos uma cidade incrível, a antiga Tóquio, para construir uma Nova Iorque ainda mais nova iorquina, os portugueses destroem as suas antigas e carismáticas cidades, substituindo-as pelo pior (sub) urbanismo europeu.
Tanta fealdade na verdade não só deprime, como mata. O ar triste dos portugeses deve-se, na minha opinião, em parte ao ar trístíssimo das suas novas habitações. O feio é triste. As casas não poéticas oprimem. A crise portuguesa tem uma raíz óbvia: habitam mal, vivem mal, estão deslocados no espaço e no tempo. Dá ideia de uma população inteira de refugiados, a viver em bairros periféricos que crescem como cancro.

Hatamuro Sokai

MAIS YOSHIDA BROTHERS



A atitude nobre do Bushido aqui presente

BRONKKKCRASHBANGCATAPLASHHHH!


Há muitas maneiras de intepretar esta fotografia. Para um polícia trata-se de uma ocorrência. Para um português médio xanaxado trata-se do suicídio de uma locomotiva. Para um engenheiro que acaba de tomar LSD de uma locomotiva que ansiosamente beija a terra. Para o mirone comum um apetitoso desastre que lhe durará para toda a vida. Para o ecologista cem por cento puro e duro é sem dúvida alguma uma visão idílica da agonia das máquinas. Para uma testemunha de Jeová a prova que o fim está perto. Para o nostálgico do Antigo Regime a prova que as modernices não são seguras e pifam estrepitosamente. Para o canibal, bem, vira as costas, não passa de um monte de metal. Para o escritor que consegue ser todos estes personagens as interpretações não tem fim.


Por isso vejamos o que é esta foto para alguns escritores- Como escritor papa-prémios à Gonçalo M. Tavares (Esse "M" ao meio, atravancado tipo agente de móveis da Ikea, Gonçalo!) esta fotografia representa o Sr. Locomotiva, que saiu de manhã de casa sem lavar as mãos nem a ponta do nariz. Por isso, porque no fundo trabalha num laboratório da ASAE, o sr. Locomotiva passa todo o dia com as mãos enfiadas nos bolsos, e não escreve como de costume um soneto por cima da bactéria, a Escherichia. Não retira as mãos dos bolsos ao passar diante do chefe do laboratório de cujas orelhas nesse dia sai pus de larvas microscópicas e num triunfo da irreverência discreta o Sr. Locomotiva consegue passar o dia inteiro a rodar com a língua o manípulo do microscópio electrónico e não ser fusilado pelo chefe. Depois, quando toca a sineta de saída, o Sr. Locomotiva depois de uns olhares vagos para as nuvens verdes do céu de Lisboa, e para o vento sem plumas do mesmo céu, que cheira a iodeto, percorre um troço de rua. a assobiar. de mãos nos bolsos, feliz que nem um petiz e daí a nada, na maior normalidade chega ao controlador automático do metro e enfia o cartão com a boca por cima da placa negra, enquanto se abrem as portas de plástico à sua frente e ele passa, sempre de mãos sujas enfiadas nos bolsos. Mas, a certa altura muda de sonho, de paradigma, de realidade - o que faz ler montes de Paulo Coelho! e segue sempre em frente,a todo o vapor e fura a parede e cai como uma locomotiva no empedrado.

Para o poeta concretista brazuca Haroldo de Campos - alô seu haroldo! - esta é uma L.O.C.O.M.O.T.I.V.A muito polímera e decomponível. Assim Haroldo no seu isolamómetro tropical dinate da Barra de Tijuca Mete a LOCOMOTIVA num acelerador de partículas, e ela decompõe-se em elementos cada vez mais pequenos. A primeira fracção a uma velocidade de dez mil turpobenzenos por milisegundo dá isto (além de um singular número de LmOts - longer molecular Ordinary transient sffs)

LOCO
MOTIVA

Em êxtase controlado Haroldo de Campos levanta a careca aos céus e diz voilà voilu le monodrame du jour n'est pas perdu! E dirige-se ao HEnorme Tableau Noir do concretismo corrente litérária da Lusiputâmia e explica às massas ávidas de saberes pós-patafísicos que o seu acelerador de partículas ainda não foi desta que pifou e que já tem provas objectivas para formular uma primeira hipótese:

O LOUCO MOTIVA furou a parede dos hospicio, aterrou de nariz no passeio e torna-se uma pérola gestáltica, uma driving impulsional resource para motivar a equipa a ir toda para a cervejaria em vez de passar um dia a aspirar ar condicionado porque disfuncionou nas paralelas.

Haroldo de lábios comprimidos dirige-se para o taquígrafo que lhe sai imediatamente do neo córtex e escreve de imediato no moleskin mole de verdade feito com pele de skin: Disfunção na corrente de consciência das vidas paralelas provoca MOTIVAÇÂO LOUCA.

2008-02-23



Luis Pacheco (aparece ao 1. 08 minuto), como não podia deixar de ser, fez parte do cast deste fantástico Closing Time do Leonard Cohen

DESAZULEJO

curto, pálido, cinza,
o vale cheio de pó,
gás, iodo, CO
semáforos brilham

buzinas, faróis, ronco
surdo, contínuo, fumo,
entro no inferno,
ou seja, Lisboa.

atrás a ponte, ferro,
vermelho sem plumas,
babel-babilónia atrás,

praias sucata, mais fumo,
vazio mecânico, nada,
vazadouro, desazulejo

um casal cada um deles agarrado a um saco de plástico
na manhã chuvosa sai do supermercado
atrás deles vem casal idêntico e atrás deste outros se seguem
numa interminável e idêntica e impessoal representação
da era do sucessivo e do monótono
a era da flagrante indiferença e rápida passagem
que é, hélás, cada vez mais a nossa

seria talvez mais justo dizer que um saco de plástico
na manhã chuvosa sai do supermercado agarrado
a um homem e uma mulher monótonos e aplicados
que falam de segurança e de reforma e de cartões de crédito
e passam por bairros que alucinaram em cinza e cimento
e que abrem as bocas moles e na língua do alumínio
dão condecorações pela produtividade

mas o mais poético seria considerar que enquanto caminham
pelo asfalto em direcção ao parking
o anjo do asfalto chega junto deles
e com as asas molhadas do Verbo
lhes susurra as palavras da insurressurreição
rio cidade árvore pássaro gato cauda pernas sexo maresia

2008-02-22

Doctor Gradus Ad Parnassum

DESAUTARQUIZE A SUA VIDA



Autarcas disfuncionais por todo o lado defendendo a causa dos promotores imobiliários e sempre contra os Jardins, Rua!


a roupa se não fôr uma técnica para aumentar a alma só acentua a pequenez


quadro de Hundertwasser

2008-02-19


frágil eternidade
para chegar à copa dos pinheiros
a musa afoga-se num copo
e tu com dedos de nevoeiro
rasgas os mapas


foto de Parke Harrisson

A OPINIÃO DOS FLAMINGOS


Ontem - exercício abjeccionista puro - vi a segunda parte do Prós e Contras. Fátima, a possante locutora "de olhos nos olhos", está mais gorda e mais marechala. Goza o seu poder no meio dos anões que regularmente convida. Qualquer dia vê-la-emos de chicote. De preto já anda, só lhe falta o couro, as cadeias, as cordas.
Os anões desta vez eram uma série de engenheiros típicos e poderosos, juntos com um economista, chamado Mateus, pequenino, de fato cinzento, boca ríspida, com ar de sacerdote luterano. Tratava-se de debater o melhor local para a projectada Terceira Ponte sobre o Tejo. Àparte o arquitecto Tudela, que com razão contestou o exagero da massa da ponte (Beato ou Chelas outra margem) que reduziria, como decerto reduzirá a abertura do Terreiro do Paço a um ridículo buraco sem grandeza, ninguém se lembrou de dizer que a ponte, sobretudo demasiado próxima de Lisboa, se calhar não era oportuna nem necessária.

A demagogia do facto consumado impera no nosso país. Em menos de um mês decide-se uma ponte, um aeroporto, uma cidade aéro-portuária e a uma margem sul completamente desordenada atira-se-lhe por cima, de repente, um aeroporto, nós rodoviários, passagens de alta velocidade para comboios, projectos sem fim. O LNEC tem um mês ou dois para bolsar cá parta fora o sim. Parto mais do que prematuro! O resultado será concerteza uma daquelas casitas a do novel engenheiro - em formato estelar, cósmico, agigantada, cheia de pressa. Ou seja um entrouxo monumental, um revolvimento espasmódico da outra margem.

A Outra Margem é um caco, um caos, uma pocilga, uma aberração humana e metafísica. O grau de fealdade dos últimos 30 anos destruiu o que era um belo sítio. Devia ser proibído morar lá. Percebe-se o estado de espírito, depressivo, de quem mora lá. A Outra Margem é uma área imensa cheia de arquitectura doente, governada por cabeçóides, cabecinhas e cabeçorras emperradas ao serviço dos patos-bravos.

Da Outra Margem estavam presentes os autarcas do Barreiro, de Setúbal e sei lá do Seixal e companhia - aprendizes de Isaltino, com um discurso polinucleado. Não invento, o presidente do Barreiro quer um centro citadino aglomerante e polinucleado. Uma cidade estrela do mundo global que aí vem. Ou seja, um linfoma de cimento, cheio de núcleos de alumínio, com ar condicionado, de crescimento imparável.

A tónica por que todos alinhavam é que Lisboa tem que ser um centro internacional, "virado para o mundo", uma cidade de prestígio. Sempre o mesmo complexo provinciano de não estar em paz com a escala que se tem. Querem uma mega cidade, em que o rio não seja um "separador" mas um "traço de união". Tenho pena que não haja engenheiros capazes de aumentar o rio Tejo e transformá-lo num adriático. Esta retórica choramingueira e fraternalista de ter um rio traço de união, um obstáculo que urge ultrapassar, crivando-o de pontes, para ter uma cidade de dimensão mundial, polinucleada ,como diz o visionário do Barreiro, é de péssimo augúrio. O rio reduzido a poça, a sua magnífica dimensão achatada. Um rio Sena qualquer ou um Tamisa em vez de um grande rio diante de uma cidade aberta.

Um engenheiro chamado Mota, do Porto, de ar carrancudo, que fiquei a perceber era um mega Cardeal da raça engenheira, advogava a vantagem de termos que andar depressa e transformar os nossos portos, torná-los mais competitivos, para servir Madrid, a Galiza, as Espanhas. O homem, consternado, não percebia porque há tanta demora em nos precipitarmos com comboios de alta velocidade e portos pletóricos e competitivos, cheios de valências, a fim que a mercadoria provinda do mundo, da China, dos países do Iberismo transatlântico chegue a Madrid depressa e em força.

Já cá se sabia : a Espanha quer-nos pôr a pata em cima de todos os modos. Portugal, lacaio económico cumpridor, dá o cu e mais cinco tostões e quer os seus portos, já e em força, desenvolivdos para que siga tudo para Espanha e para a Europa. Tem, salvo homrosas excepções, praticamente toda ordem dos engenheiros a favor - Meus caros: horroroso futuro à vista: Portugal país de serviços, os sopeiros portuários da Europa! Além de empregado de mesa do turismo internacional.

Indignavam-se as hordas de engenhocas com frémitos e aflatos desolados por Espanha já ter TGVs em número suficiente e nós, pobrezinhos, deserdados do progresso e do desenvolvimento ainda não! Como é possível termos vivido tanto tempo sem TGV? De facto foi possível. De facto seria perfeitamente possível, tivéssemos brio e identidade própria. Mas a identidade que temos é simiesca, psitacística, temos que imitar o outro - acompanhar a Europa. E eu chamo a isto identidade de imitação, servidão solícita.

Presente na audiência o Chefe dos Promotores Imobiliários, chamado Azeredo Perdigão, como lhe competia, branqueou tal seita, dizendo que não, os Promotres não especulavam com terrenos, e tornou assim a seita numa cândida ovelha que só pensa no bem comum e na melhoria de vida do cidadão. Outro dirigente máximo dos empreiteiros, um Bispo-empreiteiro, à pergunta razoável da Marechala Fátima : porque se construiu tanto e com tão mau gosto por todo Portugal nos últimos 40 anos, escusou-se dizendo que os empreiteiros apenas seguiam os planos. Desculpa que lembra a dos executores nazis em Nuremberg a dizerem, a propósito das chacinas de judeus " nós só cumpríamos ordens".

Assim quais outros cordeiros imaculados, os empreiteiros, pela voz deste senhor com barba de tribuno da primeira república assim lavaram as mãos de mais de 40 anos de contínuo pesadelo empreiteiral que transformou parte do país numa lixeira visual, riso de toda a Europa, que não consegue perceber como transformámos um país com beleza numa coisa amorfa com marmorite.

Não podia deixar de aparecer o Porto de Sines. Numa metáfora colada a cuspo a Generala com cára de homem que dirige os destinos de tal "Placa Transatlântica", disse que não, que aquilo não era um elefante branco, porque estes agora tinham um parque chamado Badoca. Esta metáfora de oráculo sapiente passou desapercebida porque quase ninguém sabe o que é o parque da Badoca, onde infelizes animais exóticos como palancas e tigres são compelidos a fingir que estão na natureza africana no meio de pinhais.

Para este Porto de Sines agora dsesenha-se à sua frente um vortex, uma bulimia, uma guloseima de comboios e navios de supercontentores, uma autoestrada naval que vem do OPrientye das Américas - depois ligados, com "vertentes e valências" a Espanha, à Europa. Mega autoestradas de passagem de Tires estão previstas, grande linhas férreas a ligar com Madrid. Vem aí a China! Portugal com a sua costa de águas profundas vai ser um gigantesco parque de estacionamento para super-navios de contentores provindos de Singapura, da China, do Oriente Mínimo e Mdo áximo - Que festim! vamos encher-nos de dinheiro, sem dúvida. Tudo irá parar à Europa e à voraz Madrid cuja insaciável apetência pelos Portos da nossa Costa não pára de crescer. Ricos como Cresos, no entanto, não há bela sem senão, haverá aquilo que a bela língua engenheiral chama de lateralidades negativas: os impactos negativos de obras de tal monta: ficaremos sem praias. Coisa de somenos, haverá dinheiro para fazer piscinas carregadas de desinfectante. A ASAE velará.

Mas isso, as praias, que importa, o engenheiro- Cardeal Mota, do Porto, carrancudamente batia na mesma tecla: Depressa! depressa!
O homenzinho quer que se possa chegar depressa e está muito irritado com seja quem for que o contrarie. Ai dos que não gostem da lentidão!
De facto, a ideia de chegar depressa a todo o lado indica soberanamente que há aqui uma impaciência imensa em curso. Já não haverá viagens lentas, saborosas, possíveis. carrega-se no botão e hop! já estamos no ponto de chegada. Esta ideia falaciosa que ser moderno é chegar o mais depressa possível terá que ser cuidadosamente revista. Portugal está doente de pressa em chegar, sem sequer querer saber que está a chegar a um passado ultrapassado, o do desenvolvimento a qualquer preço.

O que ontem se advogava, no fundo, era a crucifixão do rio Tejo.
O aeroporto e a ponte são duas formas de expancionismo típico do cancro.

PS : Sublinhe-se a linguagem engenheiral cheia de "vertentes", "valências", "componentes", "eixos", "placas" , "núcleos" . Tem uma aparência racional, sem dúvida, não tem é substância e esvazia a realidade que assim não passa de um apêndice descartável no estirador ou no ecrã.

Foto de Parke Harrisson

2008-02-18

CARTAS AO PROFESSOR FROGG


Dear professor Frog

estamos com uma falta de graça
absoluta porque temos agora o humorismo compulsivo: saltitantes locutores a morrer de riso aparecem por todo o lado croyant avoir de l'esprit. Já bem bastava os gatos fed. que tal como deus contaminam tudo com a sua omnipresença.

ao mesmo tempo demos um salto talvez irreversível para um mais-provincianismo que se vê na roupa, na paisagem urbana, na destruição da paisagem, na trivialidade dos jornais

e

O meu destino era o Mar

Foto de francesca Woodman

NEPHELÉ





Toda a gente tem folhas a pingar da carótida
conta-me como foi o teu verão nos Dardanelos
vi a pele do mar toda arripiada diante de uma boca
de medusa
ah mas é então preciso contar tudo?
é preciso mentir tudo de novo contar tudo outra vez
foi tudo demasiado bem contado
o universo está sempre a desengonçar-se
parte sete-estrelo
avaria-te Neptuno
as coisas estão sempre a cair
toda a gente tem folhas a pingar da carótida
lembras-te Nephelé dos nossos sententa filhos que fizemos no Pólo Norte?
encostei os meus pulsos ao fogo
virei o meu rosto contra cada semáforo
será que é preciso derrubar as cidades falsas a golpes de bocejo
não cairá o governo com um bocejo pequeno e mortífero?
Conta-me o que fazias na Floresta Negra
sim já sei que levavas uma pequena lanterna e que não tinha pilhas
e que os olhos dos lobos lançavam luz suficiente
para escreveres um poema ou dois
estilo curto e grave indecedível
como um hai kai pirómano
diz-me como sentias a pele a afastar-se até às estrelas
como corrias de manhã até cravar os dentes na neve?
conta-me como morreste no aeroporto de Frankfurt
entre dois livros de poche e uma cerveja morna
e depois nunca mais conseguiste recordar uma só linha
do "alma minha gentil que te partiste tão cedo desta vida descontente"
e que passaste a confundir a Sonata a Kreutzer
com os passos titubeantes do teu pai a subir as escadas bêbedo como um Lorde
e como um pirata
toda gente tem folhas a cair da pele
o sangue escreve obras primas mesmo sem estar drogado
o mundo pifa a cada instante
o coração morre a cada minuto
e o lume frio nos olhos da Águia desproporciona
desfaz cada coisa e o seu duplo de pó etérico
mas diz-me conta-me como deixaste cair o capuccino
em plena Piaza d'Espagna
Sofia Loren violada por todos os anos cinquenta


Foto de Parke Harrisson

2008-02-17

CORES

O rubro em Portugal existe um pouco na bandeira e muitíssimo nas paixões, mas é um rubro-sombra, porque se preza a discrição e ambivalência.

O amarelo é uma cor que fica bem no Algarve e no Alentejo e nas olheiras dos yuppies

O vermelho: nunca vi uma casa vermelha diante do mar

O azul do mar foge de ser diáfano quando por cima passam as gaviotas da tempestade. O azul do cérebro, no entanto, é o grandae Azul Invisível

O verde devia ser apenas uma sílaba

O cinza é uma cor que interroga o negro e perde-se sem fim no branco

O castanho remove montanhas

O cor de rosa desaparece nos naufrágios e é temido pelos testículos pobres

O violeta vem no orgasmo nocturno

Há cores que vem, outras que vão: as que ficam são todas neutras

O homem de cor neutra tem paixões cinza com frequência

2008-02-16























1. ELOGIO DOS BÁRBAROS: A figura do meu avô Átila merece ser reconsiderada como uma negação activa do sistema imperial : ingovernável, o nómada dispersa, rasga e anula os sistemas colectores de impostos, que são a raíz do Império. É o Flagelo do Deus Hegeliano, sem dúvida. E propõe a recuperação e a cuidadosa reconstrução do bárbaro interior que habita em cada um de nós : o bárbaro sofisticado, que sobreviveu à pressão burguesa de séculos de Leis, de Jurisprudência, de Códigos.




2 DEPOIS DO SOCIALISMO : Convem ter o poder da expectativa e da anticipação, e ser capaz de imaginar a reconstrução de um mundo tornado decadente, doente, sem beleza, prisioneiro do mercantilismo mais soez como é este mundo xanaxado e deprimido que vai fazer o TGV, o aeroporto de Alcochete, encher os mouchões do Tejo com empreendimentos turísticos, e destruir a Costa Alentejana com condóminos para novos-ricos.


Portugal passou directamente do feudalismo para a decadência com um intervalo de industrialização do turismo - esse cancro mole das sociedades.

2008-02-15

O SR. ALFRED JARRY PASSA


jarry passa e ao longe vê:

uma cabeça cheia de trapos com um maço de português suave lá dentro

que lhe pergunta

a pontualidade é bela quando o tempo se atrasa?

e o chapéu que pedala atira um bife à cara da cabeça

resolução simpática da questão Meliana

TECNOSEXUAL

Technosexual


Technosexual is a neologism used to describe an individual in one of two ways:

1) A person (usually a male) with a strong aesthetic sense and a love of gadgets. In this sense, it is a portmanteau word combining "technophile" and "metrosexual", which was first promoted by creative professional Ricky Montalvo to describe "a dandyish narcissist in love with not only himself, but also his urban lifestyle and gadgets; a straight man who is in touch with his feminine side but has fondness for electronics such as cell phones, PDAs, computers, software, and the web."

2) A person with a sexual attraction to machinery, as in the case of robot fetishism. When used thusly, it is a portmanteau word combining "technophile" and "sexual". As per this definition of the term, fictional android Gigolo Joe, played by Jude Law in the 2001 science-fiction film A.I. has become the iconic "technosex symbol". Occasionally, this term is used as an insult, implying in a derogatory way that a person would prefer a sex toy to an actual sexual partner.

As with the metrosexual, companies have tried to promote the concept of the technosexual in order to sell products. Calvin Klein went as far as trademarking the term technosexual in 2005. This article is licensed under the GNU Free Documentation License. It uses material from the Wikipedia article "Technosexual". This entry is a fragment of a larger work. Link may die if entry is finally removed or merged.

# posted by Cliff Pickover @ 8:07 AM

Tirado do Wikipedia Dump

Cá está o crocodilo que agora deve estar mesmo a voar, com uma capa fumista, de perfil como un faraó, em sombra como o Cavaleiro do Cinzano, a escama apontada ao olho, o óculo em riste - uma capa conseguida.

Várias entrevistas para entrever gozando a pós-verve de quem arrancava papas da língua do pedestal. Inolvidável a sua razinza pelo Urbano Tavares Rodrigues, ódio de estimação que durou a vida inteira.

E mais tacadas certeiras noutros fiambretes, pinchos e grafuas da tecelagem lite- ratária nazional.

E já não estás cá Luis Pacheco - isto de tratar-te por tu é um direito adquirido de quem te conheceu, não é que tiveste a lata de me pedir vinte paus emprestados? - espero que tenhas visto o meu Necromicon, tipo artigo necrológio que fiz a pensar maldosamente nas tuas viúvas literárias e que se pode ver aqui algures no blog.

dizem-me para ser discreto e fechar os olhos
quando a beleza não é reconhecida e nos roubam
mais um pedaço de paraíso. Mas eu não só rosno
e uivo, também mordo e também tenho veneno
e sou capaz de atirá-lo ao longe, antes que os bulldozers
avancem e se ponham a sangrar a margem dos rios
dizem-me que o tempo tudo cura e que a eternidade
não tem pressa mas quando a beleza não é reconhecida
e matam mais um bocado de paraíso é a mim que matam
e eu não sou Atys nem Cristo, tenho o fel longo de Cybèle
e o olhar frio do Vulcão, por isso não vou mendigar
compaixão, vou mas é pegar nas armas secretas dos forçados
e pô-las em acção antes que seja tarde demais para
a Beleza, tarde demais para a eternidade


Dêem-me uma confusão de pássaros, não de palavras. Com revoadas de abelhas e vespas e o belo ferrão do sol nascente, sem pontes de pesadelo e tragam-me as arcadas sidéreas, em vez das coisas práticas.
E para o fim de tarde levantem as velas dos juncos para que entre elas possamos ver os escarlates opiados do sol que morre, enchendo de sangue o canto rouco dos sapos e o rosa perigoso dos últimos flamingos.


Imagem: janela de Hundertwasser

PONTES TÚNEIS E REFORMAS ESCOLARES




Abstract:After almost three decades of school reform, student achievement nationally is about where it was when it started, and student behavior has declined dramatically. Numbers of dropouts, especially in cities and among the poor and minorities, have gotten much higher. Yet many billions of dollars have been spent; countless professionals have carried out extensive amounts of work; public officials have spawned endless legislation, regulations, and mandates; and everyone has exhibited no end of good intentions. W. Edwards Deming pointed out years ago that persistent problems in organizations stem not from workers but from the system: the structure of the work; systemic practices, policies, and methods; and conventional thinking. Where systemic change is concerned, the schools are at the stage of bridges and tunnels before exact-change lanes were instituted. In this article, the author suggests that school leaders can learn from what the Port Authority of New York and New Jersey did--follow Deming's principle of continuous improvement. The problem in school reform is not a lack of concern or a lack of good intentions. The problem is at the policy level, and it is there school leaders must start to seek solutions. Constructive policies that empower teachers to teach and students to learn and that restructure the system to remove obstacles to improvement must be enacted and implemented. Present policies that defeat their own purpose and become obstacles to improvement, while constantly driving up costs, must be abandoned and replaced with the proven systems ideas of Deming. When these principles are applied to education, school systems will experience a renaissance in learning and a simultaneous decrease in per-student cost.

SENTIMENTOS POLÍTICOS





O pior aspecto deste governo é que o seu discurso e a sua visão são triviais, de uma teimosa trivialidade repetitiva que não pára de falar em modernização e desenvolvimento.


Imagem: como eu me sinto depois de ouvir qualquer membro deste governo (e da oposição também) a falar.

2008-02-14

REMEMBERING

quando eu fugia de casa de meus pais
e o vento vinha comigo pelo pinhal
gostava de perder-me dentro do dia
e de dar por mim sem mais nada

do que um assobio a sair-me dos olhos
mas também vindo das coisas todas
das coisas mais simples e essenciais
terra folhas caules sombras e areias

era então que subia às árvores
sem saber que isso era o meu voo
que me levava às regiões sidéreas

onde vivem os loucos os poetas os anjos
e alguns mosquitos que debaixo da asa
trazem muito bem dobrado o infinito

SITIOS ONDE SÓ FALA O VENTO

o meu lugar é seco e puro
não chega aqui a voz dos mortos
nem a cornadura feraz dos semivivos.
Gatos perseguem-se com mios de cio.

Aqui a corva prenha grasna sobre o pinho,
desafia o vento, dá bicadas na própria
carne do tempo, e entra a rir
nos infernos. Nenhum santo à vista!

que alívio...nem os altares da república
mai-los telemóveis do socialismo
também não vejo locutores pendurados

na árvore das águas de rosa, anunciando
o fim dos tempos, aproveitando para vender
entretanto, o besto célere, e eu e o ué!

SONETO IRREGULAR DAS COMEMORAÇÕES HENRIQUINAS


os pequenos crocodilos vieram medalhados
com o peito erguido, com a pátria atrás
a lamber-lhes o escroto. Fizeram um curto
discurso, diante dos rios podres. Com a língua

das prendadas gavetas celebraram bandeiras,
datas funestas, heróis sem vícios e carabinas
puras capazes de destelhar inimigos
à velocidade de um soneto. Depois retiraram-se

de fraldas ao vento, coleccionadas as lunetas, aumentado
o dom de ver almirantes em cada magnólia,
e voltaram às suas nuvens de 220 volts,

onde beijam epigramas e calçam sandálias de defuntos
artistas do Verbo, enquanto as sopeiras do Espírito Santo
lhes lavam os fundos pergaminhados, cinza e sépia.

A SANTA DO ENCORNANÇO


Toda a gente se lembra do fellatio presidencial, "desvalorizado" pelo próprio Presidente num surpreendente Édito off the record onde afirmou que sexo oral não era como o outro, por isso não constituía uma traição. O que significava, na devota conotação presidencial, que a sua senhora não tinha levado com um bruto e evidentíssimo par de cornos.

Mas por mais sofismas semânticos a verdade é que levou com um daqueles pares de cornos a bem dizer imemoriais, pois como diria La Palice, o imemorial é o que passa à história. E nunca desde César a Rasputine e deste a Billie Haliday um par de cornos foi tão divulgado. Deu a volta ao planeta, e diga-se de passagem tornou Clinton mais humano e popular.

Quanto a Hillary ela tornou-se na mulher "compreensiva", a que perdoa, a que esquece. Na era do corno desvalorizado ela re-emergiu como uma Santa do lar e do matrimónio. Há as que levam porrada, comem e calam, como se passa no miserável país nosso. Mas não estão sós : tem irmãs igualmente mazocas na América que levam com pares de cornos impressionantes que dão á volta ao mundo e esquecem e perdoam. E isso converte-se em juros gordos eleitorais. A América pode ter como Presidenta e role model uma encornada compreensiva. Fellatio extra marital is allowed! E perdoada.

Os cornos já não são o que eram.

Imagem: Clinton a fazer das suas

O MANTRA DE OBAMA


Obama é mais um preto meio branco do que um branco meio preto, e assim é que está certo. O homem representa o esforço de branqueamento dos pretos, que assim se vêem livres da indesejada cor retinta. Representa pois um tipo global, softcore, de raça atenuada, sem as características evidentes. É um preto descafeínado, não mete medo às criancinhas, pode vestir a roupa da Zara e ser um modelo transversal. No fundo é um prototipo inventado pelos portugueses que como é sabido, depois de ter inventado as 4 raças, inventaram o mestiço.

Só que há mestiços apretalhados, e o esperto e estratégico genoma de Obama apresentou o mestiço abrancalhado (palavra que o racista dicionário nosso não apresenta, diga-se de passagem). Depois num país maioritariamente de gordos como é a América - e como se está a transformar Portugal - Obama sem ser apolíneo, tem o corpo ideal da era - o de David Bowie, o do andrógino teenager e transversal. Outra escolha tática acertada do seu genoma que em termos de imagem conseguiu concentrar num só corpo parte substancial das aspirações da era: o homem de aspecto global, enxuto de carnes como um rock star, com glamour longínquo de negro e aspecto exótico de branco. Ou melhor dito, de quem vai a caminho da brancura. Perfeito, mais perfeito não há.

Acresce a isso o sucesso iniludível do seu mantra:
Yes We Can! repetido em êxtase pelas suas groupies e cheer leaders e a inevitável juventude sem a qual a cultura coca-cola não consagra os seus ídolos- Mantra simples, que não exige prodigioso esforço de memória para reter, está de facto ao alcance de um oligrofénico. Com a sua curteza, formato minimalista, é um mantra que se inscreve com toda a facilidade naqueles que fazem parte da religião da TV, a que formata boa parte das mentes deste século de manadas electrónicas, comandadas digitalmente. Pense-se, por exemplo, em num dos mantras que aparecem na nossa inesquecível TV desde a publicidade dos shampos aos carros: Porque eu mereço. Com variantes "porque tu mereces". Ainda que seja mais do que discutível o merecimento: na superstição democrática dominante e vigente, todos merecem tudo, sem distinção.

Outro mantra publicitário paralelo ao "tu mereces" é o que consagra o hedonismo também dominante. Trata-se do famoso: "cuida de ti!" Podem-se imaginar conversações
sms entre os estes mantras:

Tu mereces
Cuida bem de ti
Yes we can.

Cuida bem de ti!
Tu mereces?
yes we can

Tu mereces!
Cuida bem de ti?
Yes we can!


E isto leva-nos à conclusão que numa era de mantras positivos (que propõem um voluntarismo compulsivo e de rigueur é outra história) Obama é o candidato sms ideal. Corresponde em pleno à religiosidade digital da era. Rima com telemóvel e estrelato para todos, tipo o teu triunfo é o meu triunfo, man. Porque tu mereces. Yes we can.


Imagem: o Nascimento de Obama




2008-02-13

A CIDADE LEITOSA DOS CONSUMOCÉFALOS


Voltei ontem de Lisboa e vi imensos homens de fato escuro, a ponta do ice-berg dos conformistas, e dezenas de seguranças. Nas ruas, gente apressada de olhar ausente - o país xanax; tranquilizado mas não tranquilo, apressado e ausente.
Havia bilhetes novos para o metro, tipo cartão de crédito. Doravante no mundo das máquinas, que se contamina a si mesmo, serão elas a deixar passar ou a barrar caminho. Quem não pensar em erguer uma bandeira negra com duas tíbias cruzadas diante de uma máquina destas, cuspir nas mãos e procurar um varapu para lhes enfiar um porradão, é um conformista insuflável, um urbanita descartável - são centenas de milhares deles, em Lisboa. Ser controlado por máquinas! O Triunfo do Maquinismo, ou seja o espírito-formiga total.
Estive no neonizado Corte Inglés. De fora parece um porta aviões velho, quase afundado. Dentro tem uma luz leitosa, uniforme, pasteurizada e o ar de lojas de terminal de aeroporto, entre o laboratorial e o cabeleireiro.
Quem gosta de fazer compras naquela oficina de processos geométricos monótonos, sai de lá como entrou: massa informe, consumocéfalo insuflável.
As ruas diante desse Cort Inglés são armadilhas para apanhar peões e tirar-lhes veleidades de que as pernas são umas coisas para andar, entre outras coisas. Também reparei que as pernas dos cidadãos estão más: hirtas, em estado de atrofia, pilares de volumetrias abdominais que são parte das estacas das novas cidades-máquina.
Reses e gebos, máquinas para formatar o cidadão formiga - o que tem a superstição da fila, da bicha, e que julga que as linhas rectas são a ordem e a razão.

2008-02-11

PÓS MEMÓRIAS: RECUPERO UM POST ANTIGO


O Carnaval foi óptimo, não estive lá.


2008-02-08


...estava a atirar ministros pela prancha da minha nave. Em baixo abriam-se bocarras ávidas de tubarões (cortesia do Lautréamont) com os dentes tintos de sangue. Insensível aos pedidos de habeas corpus o meu imediato - Porkêra - com uma flor de datura stramonius (figueira do diabo) atravessada na boca picava-os nas costas com um sabre curto de abordagem. Corvo de Horror, o meu segundo, gritava: deixa-te de paneleirices Porkêra, espeta-lhes com o chuço!
Solícito Porkêra começou a usar o chuço. Já caíam, então todos esses ministros com um belo furo para o mar. Desse furo saía linfa, grana e cosmos. Há dias belos no corso, pensava eu, quando infelizmente acordei.


S. Tiago 1 de Janeiro 2008

O laranjal coberto de corvos. Os mais diversos sapos espalhados a eito pelo lago, sem apriscos, solto o seu vozear grave e chocarreiro ao mesmo tempo. Cães a ladrar para umas nuvens, fúrias de gatos em cio. Não há cordialidade nem civismo na natureza do amor dos gatos. Amor? Cio puro, conquista, direito do mais forte, pura aristocracia dos nibelungos.
Ah a fraternidade, sabia Nietzche, foi inventada pelos fracos. As cidades foram muralhas erguidas contra o mundo feroz e animal. Civismo, fraternidade, medidas preventivas de colónias de povos fracos contra lobos em cio, predadores, bárbaros ruivos e nómadas.

Praia de Santa Cruz 2 de Fevereiro 2008

Hoje vejo que o mar bebe o meu sangue tal como eu bebo as nuvens que se vão pelo fim do dia. Somos dois predadores distintos eu que sangro palavras, o mar que me sangra a alegria com que o vejo.


Praia de Santa Cruz 3 de Fevereiro 2008

Alexandre O'Neill ao embarcar na barca de Caronte deve ter dito Caro Ontem ao barqueiro, e depois deve ter-se atirado a nado "à frente da morte." Lembro-me daquele cartaz que colámos na Estação: os poetas não morrem, evaporam-se.

Ando aos saltos na areia junto à orla. Assobio às gaivotas. A Terra Prometida é uma ideia de humor negro, não há terra já. Limparam-lhe o sebo.





2008-02-07

MANIFESTO CAPRICHOSO


O poeta é a montanha de todas as eras. Para si mesmo inferno, para os outros paraíso, e às vezes, para os outros inferno, para si mesmo paraíso, consoante o Belo Capricho e a não menos bela Diagonal Instável que atravessa de lunaridade as coisas, para mal dos manómetros e dos maníacos da regra.
Tudo menos chá de saqueta, vida atenuada, emoções formigas e cumpridoras, sonetos de sucesso! Ou prémios ou reconhecimento dos Cornos pelos Cornos Videntes evidenciados no já célebre poema de todos os dentífricos abandonados para chegar a ti, meu ópiamor, odiamor.
O poeta afunda os seus submarinos com regularidade e faz saltar as pontes do Verbo, da circunstância. Tê-lo como valor seguro é desvalorizá-lo muito. Desvalorizá-lo é como perdê-lo para sempre, porque ele é o pássaro do instante, o único real desvalorizador da eternidade. o que vive no bico e no gume mais afiado do momento.
Culturas da perenidade - os faraós de pedra testemunham disso. agora para todo o sempre calados, mudos, mesmo o seu Ka se alucinou a ponto de ser irredimível por uma Ode, por um suástico balbuciar wagneriano ou coisa em mais crocodilo.

SONETO MODERNO DO GUIA DOS INFERNOS





Sou o meu Virgílio apócrifo : arquitecto labirintos
e depois transformo-os em sonhos, para que
eu também seja o meu próprio Dante portátil
assim visito infernos, e solto a rir os forçados
quando na realidade sou Cerbero
e desperdiço paraísos como um sátrapa cruel
e mongol, de soneto atravessado na boca
a pingar sangue como a realidade e o nevoeiro.
Entretanto, quando desço os círculos em piloto
automático, encantam-me as perfídias novas
e tudo o que faça recuar a parede dos escoteiros
Vício? Virtude? Não conheço. Perdi-me nos caminhos
de Bagdad, dêem-me mas é vinho e a boca de framboesa
de todos os movimentos de mares na boca das sereias

NOITE DE UIVOS CANINOS E MEUS

Passei a noite a ouvir os cães a uivar: atirei-lhes pedras, rugi poemas, falei das certezas de sangue do outro lado do luar, mas não se calaram. Só quando subi nas escalas tónicas dos uivos e me deixei levar pela claridade lúgubre da vibração é que soube que falavam de como é acintosamente triste a vida dos últimos animais.
Por fim, nu, caiado pelo luar frio e ardente, juntei-me a eles, com as minhas gotas de ignorante dos caminhos da Rosa.

PROMONTÓRIO DE SAGRES


aqui, onde se enlouquece,
diante do mar imenso
três asas tem o verso
nenhuma o tempo
que não corre nem voa
apenas coagula
dentro
do
canto




dei à vida o que ela não dá
coisas apócrifas e cabras azuis
por isso sinto em paz
os cascos
de poeta fermentado
de um país desparecido

2008-02-05




O Governo decidiu apontar a arma do proibicionismo contra o tabaco. Mas talvez tenha ajudado a que se fume mais e com mais imaginação. No tempo da Lei Seca circulava muito mais alcóol. As proibições não castram as imaginações. Aqui o Prof. Choron do velho Charlie Hebdo continua em forma. Voyons, donc.

2008-02-04

somos um país de invertidos tristes, com tomates de empréstimo, vindos em download da europa moderna e desenvolvida (sonho erótico recorrente do PM) e agora com a catanada da ministrélia da Educastração, uma gaja pirosa, que não tem lábios, vamos ficar ainda com menos aptidões musicais.

veja-se a catanada em tripla dose que a excelentíssima surda deseja vibrar no Conservatório Nacional, que tanto tem feito em mais de 180 anos de actividade em prol da luta contra a surdez musical:

Adeus à Música?

AGORA QUEREM ACABAR COM O CONSERVATÓRIO NACIONAL *

Já se suspeitava, mas agora é público: o Ministério da Educação quer mesmo acabar com a Escola de Música do Conservatório Nacional.

Se depender do Governo,
a instituição de quase 180 anos, que já nos deu Maria João Pires, Bernardo Sassetti e tantos outros, tem os dias contados.

Já não se trata de destruí-la devagarinho, como até aqui – deixando-a cair aos bocados, com o órgão do século 18 a deteriorar-se ou o Salão Nobre quase a ruir sobre a plateia.

Desta vez, a Ministra quer fazer o serviço de uma só vez. Com três golpes tão rápidos e certeiros que, espera ela, ninguém vai sequer perceber o que se passa.

O primeiro golpe é
acabar com os Cursos de Iniciação. Crianças dos 6 aos 9 anos de idade vão deixar de ter acesso às 6 horas semanais de instrumento, orquestra, formação musical, coro e expressão dramática hoje ministradas pelo Conservatório.

O segundo golpe é
matar o Ensino Articulado. Adolescentes com talento musical já não poderão conciliar a formação artística de alto nível do Conservatório com a frequência às outras matérias da sua escola habitual. Quem quiser ser músico, a partir de agora, tem que decidir profissionalizar-se aos 10 anos de idade – sem poder voltar atrás.

Por fim, o golpe de misericórdia é
dar cabo do Ensino Supletivo – o regime que tem formado, ao longo dos anos, a maior parte dos músicos portugueses. De Alfredo Keil a Pedro Abrunhosa, passando por centenas e centenas de outros.

Sem músicos, sem público educado para a música, já se vê o que a Ministra pretende: reduzir-nos ao silêncio.

Mas você não vai aceitar, pois não?

No dia 11 de Fevereiro, o Conservatório será visitado pela comissão nomeada pelo Ministério para aplicar estes 3 golpes ao ensino da música. Querem fazê-lo à boa moda deste Ministério: rápida e discretamente, como um facto consumado.

Contamos consigo para recebê-los com música. E com muito barulho.

Segunda feira, dia 11 de Fevereiro, às 10 da manhã, junte-se ao Coro de Protestos do Conservatório Nacional. Se é músico, traga o seu instrumento. Se é pai de aluno, traga os seus filhos (sabemos que o dia é mau e a hora incómoda, mas ficar sem o Conservatório ainda seria pior). Se é um simples amante da música, traga a sua voz.

Vamos gritar tão afinados que até a Ministra, que faz o género surda, vai ter que ouvir.

Passe esta mensagem adiante. Dê um lamiré aos amigos, aos outros pais de alunos, àquele primo jornalista, aos colegas de orquestra ou da banda. E não falte. Vamos salvar enquanto é tempo a Escola de Música do Conservatório Nacional.


*mensagem recebida através de e-mail.








Uma ministra contra a música ( ou os surdos juntam-se aos cegos) :


Adeus à Música?

AGORA QUEREM ACABAR COM O CONSERVATÓRIO NACIONAL *

Já se suspeitava, mas agora é público: o Ministério da Educação quer mesmo acabar com a Escola de Música do Conservatório Nacional.

Se depender do Governo,
a instituição de quase 180 anos, que já nos deu Maria João Pires, Bernardo Sassetti e tantos outros, tem os dias contados.

Já não se trata de destruí-la devagarinho, como até aqui – deixando-a cair aos bocados, com o órgão do século 18 a deteriorar-se ou o Salão Nobre quase a ruir sobre a plateia.

Desta vez, a Ministra quer fazer o serviço de uma só vez. Com três golpes tão rápidos e certeiros que, espera ela, ninguém vai sequer perceber o que se passa.

O primeiro golpe é
acabar com os Cursos de Iniciação. Crianças dos 6 aos 9 anos de idade vão deixar de ter acesso às 6 horas semanais de instrumento, orquestra, formação musical, coro e expressão dramática hoje ministradas pelo Conservatório.

O segundo golpe é
matar o Ensino Articulado. Adolescentes com talento musical já não poderão conciliar a formação artística de alto nível do Conservatório com a frequência às outras matérias da sua escola habitual. Quem quiser ser músico, a partir de agora, tem que decidir profissionalizar-se aos 10 anos de idade – sem poder voltar atrás.

Por fim, o golpe de misericórdia é
dar cabo do Ensino Supletivo – o regime que tem formado, ao longo dos anos, a maior parte dos músicos portugueses. De Alfredo Keil a Pedro Abrunhosa, passando por centenas e centenas de outros.

Sem músicos, sem público educado para a música, já se vê o que a Ministra pretende: reduzir-nos ao silêncio.

Mas você não vai aceitar, pois não?

No dia 11 de Fevereiro, o Conservatório será visitado pela comissão nomeada pelo Ministério para aplicar estes 3 golpes ao ensino da música. Querem fazê-lo à boa moda deste Ministério: rápida e discretamente, como um facto consumado.

Contamos consigo para recebê-los com música. E com muito barulho.

Segunda feira, dia 11 de Fevereiro, às 10 da manhã, junte-se ao Coro de Protestos do Conservatório Nacional. Se é músico, traga o seu instrumento. Se é pai de aluno, traga os seus filhos (sabemos que o dia é mau e a hora incómoda, mas ficar sem o Conservatório ainda seria pior). Se é um simples amante da música, traga a sua voz.

Vamos gritar tão afinados que até a Ministra, que faz o género surda, vai ter que ouvir.

Passe esta mensagem adiante. Dê um lamiré aos amigos, aos outros pais de alunos, àquele primo jornalista, aos colegas de orquestra ou da banda. E não falte. Vamos salvar enquanto é tempo a Escola de Música do Conservatório Nacional.


*mensagem recebida através de e-mail.

FUSILADO NOS CÉUS

Fui fusilado nos Céus, não por um caça inimigo, mas por uma Aza - a tua máscara. Depois a congestão de uma colina envenenada pela sabedoria das papoulas subiu-me ao crânio. Três tiros de ser dão palmeiras ferozes. Cresceram-me tâmaras pela minha pele suja. O meu sangue desenhou um início de muro altíssimo_ o meu coração a bater entre dois oceanos. Reconheci logo o humor furioso e frio das gaivotas a pingar no astrolábio, que ainda levava. Tempos meus de cão de outrora, que me cingiam os rins como amêndoas novas.
Tu sabes como eu corria pela erva negra do Universo - tocava no bafo podre de algumas estrelas. Entranhava no fígado canções de planetas mortos. Oh - essas passagens pelos grande pontos crepusculares, o entretenimento das Grandes Daturas Solitárias - fazia-me estremecer. Quem conhece os Abismos como eu olha na cara as Duzentas Mortes retrácteis que me abraçam, irmãs brancas, sedosas, crescidas depois das grandes devastações de ternura dos stagodontes...
Vi o grave violador de deuses - tinha as marcas de Ísis, a irmã dos negros - subi até ele em Unha e Uivo. Mordi-lhe a boca com a minha língua azul envenenada. Nós nunca deixamos nada, nunca esquecemos nada. Devo tudo aos húmus de Cybéle, e aos traços de bruma de uma serra a que nunca fui mas que me busca.

KODO - Irmãos Yoshida

2008-02-03


se por mero acaso ou indústria eu tivesse
a mestria do caracol
teria dois cornos encantados
sobre um rasto de baba iluminada
como uma saliva dos anjos e do Sol

e subiria aos graves musgos fendidos
pela estrela polar dos malditos
e talvez me fosse dado entrar
no murmúrio erótico dos regatos
que entram e saiem por um corpo de mulher

demoraria séculos a sair de um perfeito
orgasmo de seivas e amanhecer
e teria a sabedoria de todas as coisas
lentas e demoradas que se enroscam
ao colo dos vulcões vegetais embriagados


Poema de Miguel Drummond de Castro
Foto de Cecília Meirelles

DA ARTE DE MALDIZER



Dizer mal do país é o primeiro imperativo, um buraco negro,
e o dizer mal dos seus íncolas, uma choldra, uma cáfila,
é o segundo momento desta arte, mas também a sua conclusão,
a sua premissa e princípio. O país não presta, de resto nunca ninguém
no inteiro mundo ouviu falar dele, a não ser que é vagamente bom
em futebol

uma por uma desvanecem-se as memórias: num farfalhar
de sedas e guitarras quebradas D. Sebastião à frente de uma brigada gay
suicida-se claramente em Alcácer-Quíbir e a história,
jamais lida, a não ser por um punhado de especialistas
retira-se para o hemisfério boreal do subconsciente colectivo
um lugar de praias obscuras com telemóveis

Noutros tempos não havia musas para as batalhas
não se beijava Melpomene ou Aracné para que as espadas brilhasssem
mas apareciam Anjos do Senhor a segurar os pendões
e o grito rouco de São Jorge prometia sangue aos borbotões

e nunca se imaginaria Groucho Marx de bicicleta a passar
entre os disparos das bestas e o rugido das hostes
a dizer adeus com um lenço branco ao soneto camoniano
de fino recorte petrarquista

por isso não admira que atiremos mais cimento para o grande estuário
do grande grande rio e que a meio da noite acordemos
empapados com o sangue de um pesadelo porque já não nos lembramos
de que poema de amor recortámos uma lua grave
nem de qual ode do Alberto Caeiro daquelas bem taoístas extraímos
uma alcateia de nuvens em que gostaríamos de nos evaporar